Meu sogro, Max Hoffman, trabalhou como escravo numa fábrica da Volkswagen, durante a Segunda Guerra, participando, a contra-gosto, do esforço de guerra alemão. Mais de cinquenta anos depois, a empresa aceitou pagar a ele e outros sobreviventes, dentre os 7.000 trabalhadores que explorou ( Leia mais a respeito aqui ). Max começou a receber sua indenização aos 80, seis anos atrás.
Pode-se dizer que ele é o “sortudo” da sua família – sua mãe e dez dos seus 11 irmãos foram mortos na sua frente, quando a guerra chegou à Ucrânia, onde viviam.
É bem provável que exista um escravo na sua vida, também. Pode ser que ele tenha produzido o carvão vegetal que você usa na churrasqueira ou aquela camisa bordada que veio da Índia. Entre 2003 e 2008, 26.890 trabalhadores foram libertados no Brasil. Muitos, muitos outros devem estar escondidos por aí. Uma leitura rápida nos materiais da Agência Repórter Social , que cobre o tema com frequência, mostra isto com clareza.
Aliás, basta uma olhada no Mapa da Escravidão , um levantamento global de denúncias registradas nos últimos dois anos, para ver que mesmo capitais européias ou metrópoles norte-americanas registram ocorrências. Num desses episódios, um ex-embaixador das Filipinas, que vivia em Nova York, forçou uma moça a trabalhar por três meses, 18 horas por dia, sete dias por semana, por apenas US$ 100. Para que ela não fugisse, a família reteve o seu passaporte.
A Organização Internacional do Trabalho publicou recentemente um relatório a respeito – “O custo da coação” – que estima que 12 milhões de pessoas sejam vítimas desse tipo de exploração, a maior parte deles na Ásia e no Pacífico. As vítimas perdem algo na faixa de 14 bilhões de euros em salários não recebidos por ano. Embora imenso, este número sequer inclui a exploração sexual. (leia mais a respeito aqui, na versão da UOL para texto publicado pelo jornal espanhol El País).
Agora eu pergunto: quem, no Brasil, nunca soube de uma empregada doméstica que dorme no emprego, que tem uma lista ilimitada de tarefas, que tem de estar sempre de prontidão, que recebe menos que o salário mínimo, que é proibida de estudar e que ainda é incomodadas pelo adolescente da casa? Ou de uma garota que a família “pegou para criar” que faz todas as tarefas supracitadas e que não ganha nada por isso?