O progressivo barateamento de energias alternativas e a pressão social e governamental sobre os investidores está provocando uma onda global de desinvestimento em termelétricas a carvão.
Na semana passada, o Sierra Club, uma das maiores ONGs americanas, celebrou o anúncio do fechamento da 150a termelétrica do país desde 2010: a usina de Brayton Point Power Station, com capacidade de 1.500 megawatts, que será progressivamente desativada até 2017. Trata-se de uma das maiores fontes de poluição do estado de Massachusetts. Dias antes foram fechadas outras duas usinas na Pennsylvania, com capacidade de geração combinada de 2 mil megawatts. James Lash, presidente da FirstEnergy Generation, dona das duas unidades, declarou que as termelétricas “estão perdendo dinheiro e continuariam perdendo no futuro”. Na sua avaliação, as exigências ambientais, a queda da demanda e dos preços pagos pela eletricidade, e a abundância de gás natural (combustível alternativo ao carvão) inviabilizaram a operação. A empresa teria de investir US$ 270 milhões para que as duas unidades estivessem em conformidade com as novas regras impostas ao setor pela agência ambiental americana, a EPA – e os executivos da FirstEnergy entenderam que isso não compensava.
Novas usinas dificilmente serão construídas nos EUA, devido às exigências draconianas da EPA, e porque os investidores estão fechando suas portas a esse tipo de investimento. Como noticiado em agosto, aqui na revista da Página 22, duas das maiores instituições financeiras multilaterais – o Banco Mundial e o Banco Europeu de Investimento – praticamentem descartaram a concessão de novos empréstimos para projetos energéticos à base de carvão.
Bird e BEI não estão sozinhos nessa tendência. O Export-Import Bank dos EUA, a agência oficial de crédito a exportações do país, também resolveu acatar orientação do presidente Barack Obama e desistiu de financiar uma enorme termelétrica a carvão no Vietnã por razões ambientais (e a pressão de vários grupos ambientalistas). A Thai Binh 2 tem capacidade de 1.200 megawatts. A decisão representou uma mudança de rota para o Ex-Im Bank, que financiou a implantação de uma termelétrica a carvão de grande porte na África do Sul em 2011.
Um estudo publicado há poucos dias pela Smith School of Enterprise and the Environment da Universidade de Oxford indica que o lobby pelo corte dos investimentos em combustíveis fósseis está rendendo resultados mais rápidos do que campanhas de boicote à África do Sul dos tempos do apartheid, ao tabaco, à indústria de armas, aos cassinos e à pornografia. The Guardian publicou uma análise do estudo acessível ao comum dos mortais.
As termelétricas a carvão parecem destinadas a sumir do mapa nos próximos 20 ou 30 anos. A não ser, é claro, que o governamento brasileiro decida remar contra a maré.[:en]
O progressivo barateamento de energias alternativas e a pressão social e governamental sobre os investidores está provocando uma onda global de desinvestimento em termelétricas a carvão.
Na semana passada, o Sierra Club, uma das maiores ONGs americanas, celebrou o anúncio do fechamento da 150a termelétrica do país desde 2010: a usina de Brayton Point Power Station, com capacidade de 1.500 megawatts, que será progressivamente desativada até 2017. Trata-se de uma das maiores fontes de poluição do estado de Massachusetts. Dias antes foram fechadas outras duas usinas na Pennsylvania, com capacidade de geração combinada de 2 mil megawatts. James Lash, presidente da FirstEnergy Generation, dona das duas unidades, declarou que as termelétricas “estão perdendo dinheiro e continuariam perdendo no futuro”. Na sua avaliação, as exigências ambientais, a queda da demanda e dos preços pagos pela eletricidade, e a abundância de gás natural (combustível alternativo ao carvão) inviabilizaram a operação. A empresa teria de investir US$ 270 milhões para que as duas unidades estivessem em conformidade com as novas regras impostas ao setor pela agência ambiental americana, a EPA – e os executivos da FirstEnergy entenderam que isso não compensava.
Novas usinas dificilmente serão construídas nos EUA, devido às exigências draconianas da EPA, e porque os investidores estão fechando suas portas a esse tipo de investimento. Como noticiado em agosto, aqui na revista da Página 22, duas das maiores instituições financeiras multilaterais – o Banco Mundial e o Banco Europeu de Investimento – praticamentem descartaram a concessão de novos empréstimos para projetos energéticos à base de carvão.
Bird e BEI não estão sozinhos nessa tendência. O Export-Import Bank dos EUA, a agência oficial de crédito a exportações do país, também resolveu acatar orientação do presidente Barack Obama e desistiu de financiar uma enorme termelétrica a carvão no Vietnã por razões ambientais (e a pressão de vários grupos ambientalistas). A Thai Binh 2 tem capacidade de 1.200 megawatts. A decisão representou uma mudança de rota para o Ex-Im Bank, que financiou a implantação de uma termelétrica a carvão de grande porte na África do Sul em 2011.
Um estudo publicado há poucos dias pela Smith School of Enterprise and the Environment da Universidade de Oxford indica que o lobby pelo corte dos investimentos em combustíveis fósseis está rendendo resultados mais rápidos do que campanhas de boicote à África do Sul dos tempos do apartheid, ao tabaco, à indústria de armas, aos cassinos e à pornografia. The Guardian publicou uma análise do estudo acessível ao comum dos mortais.
As termelétricas a carvão parecem destinadas a sumir do mapa nos próximos 20 ou 30 anos. A não ser, é claro, que o governamento brasileiro decida remar contra a maré.