1) SUDESTE DA AMAZÔNIA
No sudeste da Amazônia, historicamente região tropical e úmida, as alterações climáticas diminuíram o volume de água dos rios, que, durante as secas de 2005, foi o mais baixo da História, deixando isoladas algumas comunidades mais afastadas em função da redução da capacidade de navegação.
2) REGIÃO CENTRO-OESTE
A alteração nos regimes de chuva trará mudanças importantes no setor da agricultura. Estudo da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) prevê perdas de R$ 7,4 bilhões em 2020 e R$ 14 bilhões em 2070, comprometendo o agronegócio no País (acesse aqui). Será preciso rever a distribuição geográfica dos diferentes tipos de cultura no território brasileiro em função dessas mudanças.
3) REGIÃO NORDESTE
Haverá redução de oferta de terras agricultáveis e forte migração da população do campo para as cidades, já que algumas regiões ficarão muito secas.
4) PERNAMBUCO
Em Pernambuco, o sertão tem se aquecido até 1,2 grau por década, em média, nos últimos 50 anos, o que indica forte tendência à desertificação. Os dias estão cada vez mais quentes, e as noites, mais frias. Também tem chovido menos nas últimas cinco décadas. É o que aponta a pesquisa, em fase de conclusão, da climatologista do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) Francis Lacerda e do pesquisador Paulo Nobre, do Inpe, sobre os efeitos das mudanças climáticas no Nordeste.
5) ÁREA COSTEIRA
Nas cidades, em especial nas áreas costeiras, os riscos maiores são deslizamentos de encostas, enxurradas e elevação do nível do mar, ondas de calor e proliferação de insetos transmissores de doenças como dengue e malária.
6) SÃO PAULO – capital e região metropolitana
A cidade de São Paulo e sua região metropolitana sofrem cada vez mais com enchentes e inundações e tendem a registrar um crescimento no número de dias com fortes chuvas até o final do século. Estudos preliminares sugerem que uma elevação de temperatura de 2 a 3 graus entre 2070 e 2100 poderá aumentar significativamente os dias com chuvas intensas, com potencial para causar enchentes e inundações graves.
A frequência de dias com chuva acima de 30 mm (volume suficiente para causar transtornos) aumentou em quase 40% na década de 2000, comparando com a de 1930. O número de dias com chuva acima de 50 mm (suficiente para causar desastres naturais localizados) passou de 9 por década entre 1933-1940 para 40 por década entre 2000-2009.
7) RIO DE JANEIRO – capital e região metropolitana
Na cidade do Rio de Janeiro, o clima está se tornando mais úmido e quente. Os totais pluviométricos estão em elevação, e os dias com chuvas maiores ou iguais a 30 mm e 50 mm têm ocorrido com maior frequência. As ondas de calor estão mais longas. A temperatura do ar, que registrava máxima diária de 33,8 graus entre 1961 e 1990, deverá chegar a 38,6 até 2099. Um aumento estimado de 4,8 graus até o fim do século XXI.
A região metropolitana do Rio de Janeiro está particularmente vulnerável à elevação do nível do mar e à ocorrência de eventos extremos. O aquecimento global poderá redefinir a linha da costa. As praias podem perder areia, e as zonas costeiras de baixa elevação sofrerão ainda mais com inundações.
8) SANTA CATARINA
O Catarina, primeiro furacão no País, provocou enchentes e deslizamentos e causou mortes e perdas econômicas para a o litoral gaúcho e catarinense em dezembro de 2004, afetando dezenas de milhares de pessoas. Chuvas torrenciais tomaram a região costeira do estado de Santa Catarina quatro anos mais tarde, fazendo novas vítimas. De acordo com estudo do Inpe, há tendência de aumento de extremos de chuva na região, ao longo das últimas décadas, e de distribuição não regular no tempo e no espaço.
9) RIO GRANDE DO SUL
Dezenas de municípios gaúchos enfrentaram estiagem acentuada simultaneamente à ocorrência das chuvas excessivas em Santa Catarina. Esses dados, tomados em conjunto, podem caracterizar aumento de extremos climáticos associados ao aquecimento global.
Adaptação nas megacidades
Tanto São Paulo como Rio de Janeiro integraram o projeto Megacidades, de autoria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que levantou as vulnerabilidades para as duas capitais brasileiras.
Segundo Nelson Moreira Franco, gerente de Sustentabilidade da prefeitura do Rio de Janeiro, a cidade se prepara para iniciar a elaboração de seu plano de adaptação e resiliência. Ele destaca o funcionamento do Centro de Operações Rio, inaugurado em 2010, como aliado para ações emergenciais, promovendo o monitoramento da cidade. “Isso nos permite prever intempéries e acidentes climáticos com mais tempo para nos prepararmos do que há dois, três anos. Temos também um sistema de emergência, que treina periodicamente pessoas para evitar perdas de vidas humanas e danos materiais. Mais de 3 mil pessoas já foram treinadas nas encostas e morros”, afirma.
Para Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho, que foi secretário do Verde e do Meio Ambiente da cidade de São Paulo, “a mitigação das emissões de gases de efeito estufa é um trabalho orquestrado no mundo inteiro, mas a adaptação é responsabilidade do governo local, regional e federal de cada país. E a coisa mais complicada na adaptação é o caráter intersetorial das políticas públicas”.
Eduardo Jorge aponta como avanços, entre os anos de 2005 e 2012, a chamada Operação Defesa das Águas, visando preservar a região dos mananciais; a implantação de parques lineares nas várzeas dos rios, evitando ocupações e minimizando tragédias provocadas por enchentes; a ampliação do número de áreas verdes protegidas; e o trabalho de remoção de famílias de áreas de altíssimo risco a partir de levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT). “Entre 2011 e 2012 tivemos zero mortes por desastres naturais. E esta deve ser a meta máxima em adaptação”, completa. PÁGINA22 entrou em contato com a Prefeitura de São Paulo para conhecer o atual andamento das ações, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Os impactos e as formas de adaptação serão tema da segunda parte do 5º Relatório do IPCC, que deverá ser divulgada no início de 2014. Sobre adaptação às mudanças do clima, leia a edição 74 de PÁGINA22.
Leia mais:
Todos estamos vulneráveis: os eventos climáticos extremos previstos para outros países
1) SUDESTE DA AMAZÔNIA
No sudeste da Amazônia, historicamente região tropical e úmida, as alterações climáticas diminuíram o volume de água dos rios, que, durante as secas de 2005, foi o mais baixo da História, deixando isoladas algumas comunidades mais afastadas em função da redução da capacidade de navegação.
2) REGIÃO CENTRO-OESTE
A alteração nos regimes de chuva trará mudanças importantes no setor da agricultura. Estudo da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) prevê perdas de R$ 7,4 bilhões em 2020 e R$ 14 bilhões em 2070, comprometendo o agronegócio no País (acesse aqui). Será preciso rever a distribuição geográfica dos diferentes tipos de cultura no território brasileiro em função dessas mudanças.
3) REGIÃO NORDESTE
Haverá redução de oferta de terras agricultáveis e forte migração da população do campo para as cidades, já que algumas regiões ficarão muito secas.
4) PERNAMBUCO
Em Pernambuco, o sertão tem se aquecido até 1,2 grau por década, em média, nos últimos 50 anos, o que indica forte tendência à desertificação. Os dias estão cada vez mais quentes, e as noites, mais frias. Também tem chovido menos nas últimas cinco décadas. É o que aponta a pesquisa, em fase de conclusão, da climatologista do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) Francis Lacerda e do pesquisador Paulo Nobre, do Inpe, sobre os efeitos das mudanças climáticas no Nordeste.
5) ÁREA COSTEIRA
Nas cidades, em especial nas áreas costeiras, os riscos maiores são deslizamentos de encostas, enxurradas e elevação do nível do mar, ondas de calor e proliferação de insetos transmissores de doenças como dengue e malária.
6) SÃO PAULO – capital e região metropolitana
A cidade de São Paulo e sua região metropolitana sofrem cada vez mais com enchentes e inundações e tendem a registrar um crescimento no número de dias com fortes chuvas até o final do século. Estudos preliminares sugerem que uma elevação de temperatura de 2 a 3 graus entre 2070 e 2100 poderá aumentar significativamente os dias com chuvas intensas, com potencial para causar enchentes e inundações graves.
A frequência de dias com chuva acima de 30 mm (volume suficiente para causar transtornos) aumentou em quase 40% na década de 2000, comparando com a de 1930. O número de dias com chuva acima de 50 mm (suficiente para causar desastres naturais localizados) passou de 9 por década entre 1933-1940 para 40 por década entre 2000-2009.
7) RIO DE JANEIRO – capital e região metropolitana
Na cidade do Rio de Janeiro, o clima está se tornando mais úmido e quente. Os totais pluviométricos estão em elevação, e os dias com chuvas maiores ou iguais a 30 mm e 50 mm têm ocorrido com maior frequência. As ondas de calor estão mais longas. A temperatura do ar, que registrava máxima diária de 33,8 graus entre 1961 e 1990, deverá chegar a 38,6 até 2099. Um aumento estimado de 4,8 graus até o fim do século XXI.
A região metropolitana do Rio de Janeiro está particularmente vulnerável à elevação do nível do mar e à ocorrência de eventos extremos. O aquecimento global poderá redefinir a linha da costa. As praias podem perder areia, e as zonas costeiras de baixa elevação sofrerão ainda mais com inundações.
8) SANTA CATARINA
O Catarina, primeiro furacão no País, provocou enchentes e deslizamentos e causou mortes e perdas econômicas para a o litoral gaúcho e catarinense em dezembro de 2004, afetando dezenas de milhares de pessoas. Chuvas torrenciais tomaram a região costeira do estado de Santa Catarina quatro anos mais tarde, fazendo novas vítimas. De acordo com estudo do Inpe, há tendência de aumento de extremos de chuva na região, ao longo das últimas décadas, e de distribuição não regular no tempo e no espaço.
9) RIO GRANDE DO SUL
Dezenas de municípios gaúchos enfrentaram estiagem acentuada simultaneamente à ocorrência das chuvas excessivas em Santa Catarina. Esses dados, tomados em conjunto, podem caracterizar aumento de extremos climáticos associados ao aquecimento global.
Adaptação nas megacidades
Tanto São Paulo como Rio de Janeiro integraram o projeto Megacidades, de autoria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que levantou as vulnerabilidades para as duas capitais brasileiras.
Segundo Nelson Moreira Franco, gerente de Sustentabilidade da prefeitura do Rio de Janeiro, a cidade se prepara para iniciar a elaboração de seu plano de adaptação e resiliência. Ele destaca o funcionamento do Centro de Operações Rio, inaugurado em 2010, como aliado para ações emergenciais, promovendo o monitoramento da cidade. “Isso nos permite prever intempéries e acidentes climáticos com mais tempo para nos prepararmos do que há dois, três anos. Temos também um sistema de emergência, que treina periodicamente pessoas para evitar perdas de vidas humanas e danos materiais. Mais de 3 mil pessoas já foram treinadas nas encostas e morros”, afirma.
Para Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho, que foi secretário do Verde e do Meio Ambiente da cidade de São Paulo, “a mitigação das emissões de gases de efeito estufa é um trabalho orquestrado no mundo inteiro, mas a adaptação é responsabilidade do governo local, regional e federal de cada país. E a coisa mais complicada na adaptação é o caráter intersetorial das políticas públicas”.
Eduardo Jorge aponta como avanços, entre os anos de 2005 e 2012, a chamada Operação Defesa das Águas, visando preservar a região dos mananciais; a implantação de parques lineares nas várzeas dos rios, evitando ocupações e minimizando tragédias provocadas por enchentes; a ampliação do número de áreas verdes protegidas; e o trabalho de remoção de famílias de áreas de altíssimo risco a partir de levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT). “Entre 2011 e 2012 tivemos zero mortes por desastres naturais. E esta deve ser a meta máxima em adaptação”, completa. PÁGINA22 entrou em contato com a Prefeitura de São Paulo para conhecer o atual andamento das ações, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Os impactos e as formas de adaptação serão tema da segunda parte do 5º Relatório do IPCC, que deverá ser divulgada no início de 2014. Sobre adaptação às mudanças do clima, leia a edição 74 de PÁGINA22.
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Todos estamos vulneráveis: os eventos climáticos extremos previstos para outros países