Na capital do oeste australiano, nem só de dessalinização vive a gestão da água. No lugar onde a seca é realidade há décadas, a reciclagem tornou-se essencial
A seca no Sudeste brasileiro pegou muita gente de calça curta no país da enxurrada. Mas no continente mais seco do mundo, a noção de que é preciso gerir a água para o futuro é realidade há décadas.
Na cidade australiana de Perth – onde a vazão para os reservatórios caiu pela metade desde os anos 1970 –, o pilar de longo prazo da política hídrica é a dessalinização, que responde por metade do consumo de 1,8 milhão de habitantes. O outro grande esforço em marcha é o de reciclar.
Um programa de tratamento de “águas residuais” – que vão pelo ralo após o uso em chuveiros, pias e máquinas de lavar – e sua reintrodução no aquífero recebeu luz verde em 2013. No início de março passado, a Water Corporation, empresa que abastece Perth, informou que 3,5 bilhões de litros de água altamente tratada e purificada foram reinjetados nos aquíferos mais profundos da região, onde ficará estocada para uso futuro. O plano é reciclar e reinjetar 7 bilhões de litros por ano, com possibilidade de expansão para 28 bilhões de litros.
O processo envolve ultrafiltragem, osmose reversa e exposição a raios ultravioleta. A reinjeção é necessária para que a população, que prefere um processo “natural” de filtragem, aceite beber água que já foi usada e descartada.
Um porta-voz da Water Corporation informou que a expectativa é de que 1 litro de água reciclada custe “um pouco menos” do que 1 litro de água dessalinizada. Ambientalistas aguerridos contestam as boas intenções da empresa – segundo eles, seria mais barato tornar obrigatório que novas residências captem água da chuva e disponham de seu próprio sistema de reciclagem.
A reciclagem, segundo a Water Corp, tem potencial para responder por até 20% do consumo de Perth em 2060.