O desejo de estabelecer uma relação mais prazerosa e criativa consigo mesmo, com o outro e com o entorno tende a se fortalecer nos próximos anos, refletindo-se estilo de vida e de consumo. A previsão é da WGSN, o maior portal de tendências do mundo, com equipe espalhada por todos os continentes, empresa cujas pesquisas norteiam indústrias globais de bens e consumo.A cada seis meses, um grupo de mais de 300 profissionais da empresa (entre antropólogos, designers, psicólogos etc) se reúne para compartilhar movimentos emergentes que detectaram Brasil afora. A partir das semelhanças e repetições observadas, identificam comportamentos comuns, que receberam os nomes de: “Utopias Cotidianas”, “Super-heróis Sociais: e “Divinização dos Dados”. Segundo a consultoria essas megatendências que devem se consolidar até 2016.
Utopias Cotidianas engloba o desejo das pessoas de desfrutar de pequenos prazeres do dia a dia, desde pausas na rotina de trabalho até refúgios na natureza. Segundo Beatriz Modolin, gerente de contas como Home e La Estampa no escritório da WGSN no Brasil, essa busca vem da necessidade de uma conexão maior do indivíduo com o próximo e com o ambiente que o cerca, retirando excessos, priorizando a essência das coisas. O livro Microadventures (Microaventuras), do inglês Alastair Humphreys, é um exemplo dessa tendência. Na publicação, o autor mostra experiências feitas com pouco tempo e dinheiro. Para ele, basta sair da zona de conforto e alterar a rotina de vez em quando para viver momentos inesquecíveis. O aventureiro também aborda o tema no blog alastairhumphreys.com.
Já o surgimento de Super-heróis Sociais deriva de uma insatisfação com o mundo atual. Descontentes com a falta de solução, as pessoas começam a buscar maneiras criativas para resolver ou, ao menos, amenizar problemas sociais. Foi o que fizeram o escultor britânico Iconic Anish Kapoor e arquiteto japonês Arata Isozaki ao criar o Ark Nova, uma espécie de balão inflável que funciona como espaço cultural para levar arte a regiões atingidas pelo tsunami de 2011. No Brasil, Mundano, criador do Pimp My Carroça, pode ser considerado um super-herói social. Pelo projeto, ele convida grafiteiros a pintar carrinhos dos catadores de materiais recicláveis e, assim, tirá-los da invisibilidade.
Por fim, a Divinização de Dados fala da relação do indivíduo com a tecnologia, permitindo reciclar e refinar informações e até mesmo experimentar novas percepções sensoriais. A WGSN acredita que o futuro será, sim, guiado por dados, mas alimentado pela intuição. “Novos sistemas analíticos digitais estão mudando a forma como lidamos com informações. Porém, cresce a busca por um método mais instintivo de se obter conhecimento”, explica Beatriz. Tome-se como exemplo os testes com pílulas contendo microssensores ingeríveis, capazes de monitorar, de dentro, a saúde do corpo humano e transmitir informações para o computador. No campo da arte e experimentação, há o curta-metragem Make Your Maker (algo como Faça seu Clone, em tradução livre). Para mostrar como alimento e corpo humano são indissociáveis, a artista Lucy McRae faz moldes de si mesma usando algas comestíveis e papel de arroz. O resultado são clones gelatinosos de Lucy, os quais ela corta em pedaços, embala como se fossem produtos para venda e depois come. Assista em lucymrae.net.