Apollo Robbins é um batedor de carteiras. Também furta relógios de pulso e até mesmo óculos dos rostos das pessoas sem que percebam. Ganhou notoriedade em 2001, ao furtar o distintivo de um membro do serviço secreto americano que escoltava o ex-presidente Jimmy Carter (Apollo também furtou o itinerário e a chave do veículo da escolta). Mas não foi preso. Afinal, como consultor de segurança e mágico, aquele era o seu trabalho (ver sua palestra TED).
Para mágicos e ilusionistas, é muito mais fácil enganar um adulto do que uma criança. Enquanto os primeiros demonstram ser presas fáceis de táticas que distraem ou direcionam sua atenção, os pequenos parecem não “desligar”: ficam o tempo todo observando, questionando, tentando entender o fenômeno que testemunham.
De acordo com Alison Gopnik, professora de Psicologia e Filosofia da Universidade da Califórnia em Berkeley, as crianças veem o mundo de maneira completamente distinta dos adultos (ver sua palestra TED).
Durante muito tempo, víamos as crianças como “adultos defeituosos”, como se ainda faltassem nelas algumas “peças”. Alison prefere pensar em crianças como a divisão de “pesquisa & desenvolvimento” de uma empresa, enquanto nós, adultos, seríamos a “linha de produção” e o “marketing”.
Ao encarar um novo problema, nosso estoque de conhecimento tem um peso muito grande sobre nossas inferências. Grosso modo, buscamos em nosso arquivo mental situações comparáveis e tentamos “ajustar o modelo”. Além de conhe-cimento prévio, o cérebro adulto também adora atalhos mentais, alguns dos quais já abordei em colunas anteriores.
Crianças não possuem o mesmo estoque de conhecimento. E isso pode ser uma coisa boa: diante de um novo problema, são mais aptas que os adultos a pensar “fora da caixa” e menos propensas a descartar algo a priori, seja por autocensura, por medo de sofrer repreensão, seja por ridicularização pelos colegas.
Uma frase apócrifa atribuída a Henry Ford ilustra bem a questão: “Se eu tivesse perguntado às pessoas o que elas queriam, teriam me pedido cavalos mais rápidos”. No campo do desenvolvimento sustentável também é visível o peso do modelo mental atual ao pensar novos problemas: difícil imaginar uma criança propondo algo como “carvão limpo”.
Recentemente, Regina Scharf, também colaboradora desta revista, listou em seu blog De Lá Pra Cá alguns aprendizados ambientais propiciados por sua filha de 7 anos.
Para resolver os imensos desafios que afligem a humanidade neste século, talvez seja prudente prestar mais atenção nas crianças — até mesmo porque são elas as herdeiras do nosso legado.
*Doutor em Administração Pública e Governo