A sensação é de que já estamos no segundo tempo e a sustentabilidade vai perdendo o jogo para mudar os rumos do desenvolvimento global. Mas os vários players da governança seguem em campo
Está faltando alguma coisa para o mundo começar a girar mais suavemente e a uma distância segura do abismo. Vai fazer meio século [1] que os princípios para um desenvolvimento sustentável vêm sendo exaustivamente debatidos e divulgados, mas o termômetro que mede a temperatura do planeta segue subindo. Todos parecem concordar com tudo, mas poucos arriscam uma caminhada fora da caixa. Enquanto isso, o tempo vai passando e a chave que poderia mudar paradigmas e aumentar as chances de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar da humanidade como um todo – se não hoje, pelo menos em um futuro breve – só faz emperrar.
[1] Em 1968 um grupo de cientistas fundou o Clube de Roma, um marco das discussões sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável
Diante dessa encrenca de proporções planetárias, é óbvia a necessidade de uma governança global bem azeitada que espalhe soluções de sustentabilidade em larga escala. Sim, alguns atores tentam dar efetividade a essa agenda global endereçando novas demandas pelas bordas e brechas do business as usual. As organizações não governamentais, por exemplo, são ótimas navegantes no mundo globalizado: operam em rede, são transnacionais, trabalham com geração de conhecimento. Além disso, têm credibilidade, poder de engajamento e de pressão. São objetivas e geram papers resumidos e contundentes, que servem de munição para negociadores.
Os governos estão entre os atores com grande poder de fogo para virar esse jogo, apesar de atuarem em uma zona de conflito. Para defender o bem global muitas vezes é necessário sacrificar os interesses da nação. Não é difícil imaginar que em uma região gelada, como a Sibéria, haja quem comemore os efeitos da mudança climática dado um provável acréscimo de áreas agricultáveis.
Apesar desse contraditório, os governos contam com importantes mecanismos para encontrar boas soluções de governança global. Por exemplo, a estrutura de apoio oferecida por organismos multilaterais sob o guarda-chuva da ONU, como o Programa Nacional das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Empresas e instituições certificadoras e o setor financeiro também são capazes de exercer imenso poder de transformação do mundo. No entanto, as engrenagens do setor produtivo ainda não atingiram um ritmo satisfatório na adoção de boas práticas nos negócios nem de inovações significativas e em larga escala na direção de uma economia de baixo carbono e socialmente inclusiva. Ainda é a minoria que adere a campanhas como a do Pacto Global, que reza o respeito aos valores fundamentais dos direitos humanos, das relações de trabalho, do meio ambiente e do combate à corrupção.
É possível também que nada de concreto aconteça enquanto o indivíduo não pegar para si um papel nessa governança para uma atuação mesmo em um nível pessoal e não na esfera dos negócios ou do ativismo. Nos 24 anos dedicados à causa, Rachel Biderman, hoje no World Resources Institute (WRI), já passou por governos, academia, ONGs, instituições multilaterais e empresas. Concluiu que a mudança está mesmo na pessoa. “É uma questão de autoconversão”, pontifica. E o inimigo, nesse caso, é o comodismo, condição bem típica do ser humano. Felizmente neste século XXI não estão faltando canais tecnológicos para auxiliar o cidadão que também queira se tornar ator nesse “pequeno” projeto de mudar o mundo.
As reportagens a seguir mostram o que cada um dos atores citados acima faz ou podem fazer para dar mais efetividade à governança global da sustentabilidade. Governo | ONGs | Empresas | Certificadoras | Cidadão[:en]A sensação é de que já estamos no segundo tempo e a sustentabilidade vai perdendo o jogo para mudar os rumos do desenvolvimento global. Mas os vários players da governança seguem em campo
Está faltando alguma coisa para o mundo começar a girar mais suavemente e a uma distância segura do abismo. Vai fazer meio século [1] que os princípios para um desenvolvimento sustentável vêm sendo exaustivamente debatidos e divulgados, mas o termômetro que mede a temperatura do planeta segue subindo. Todos parecem concordar com tudo, mas poucos arriscam uma caminhada fora da caixa. Enquanto isso, o tempo vai passando e a chave que poderia mudar paradigmas e aumentar as chances de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar da humanidade como um todo – se não hoje, pelo menos em um futuro breve – só faz emperrar.
[1] Em 1968 um grupo de cientistas fundou o Clube de Roma, um marco das discussões sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável
Diante dessa encrenca de proporções planetárias, é óbvia a necessidade de uma governança global bem azeitada que espalhe soluções de sustentabilidade em larga escala. Sim, alguns atores tentam dar efetividade a essa agenda global endereçando novas demandas pelas bordas e brechas do business as usual. As organizações não governamentais, por exemplo, são ótimas navegantes no mundo globalizado: operam em rede, são transnacionais, trabalham com geração de conhecimento. Além disso, têm credibilidade, poder de engajamento e de pressão. São objetivas e geram papers resumidos e contundentes, que servem de munição para negociadores.
Os governos estão entre os atores com grande poder de fogo para virar esse jogo, apesar de atuarem em uma zona de conflito. Para defender o bem global muitas vezes é necessário sacrificar os interesses da nação. Não é difícil imaginar que em uma região gelada, como a Sibéria, haja quem comemore os efeitos da mudança climática dado um provável acréscimo de áreas agricultáveis.
Apesar desse contraditório, os governos contam com importantes mecanismos para encontrar boas soluções de governança global. Por exemplo, a estrutura de apoio oferecida por organismos multilaterais sob o guarda-chuva da ONU, como o Programa Nacional das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Empresas e instituições certificadoras e o setor financeiro também são capazes de exercer imenso poder de transformação do mundo. No entanto, as engrenagens do setor produtivo ainda não atingiram um ritmo satisfatório na adoção de boas práticas nos negócios nem de inovações significativas e em larga escala na direção de uma economia de baixo carbono e socialmente inclusiva. Ainda é a minoria que adere a campanhas como a do Pacto Global, que reza o respeito aos valores fundamentais dos direitos humanos, das relações de trabalho, do meio ambiente e do combate à corrupção.
É possível também que nada de concreto aconteça enquanto o indivíduo não pegar para si um papel nessa governança para uma atuação mesmo em um nível pessoal e não na esfera dos negócios ou do ativismo. Nos 24 anos dedicados à causa, Rachel Biderman, hoje no World Resources Institute (WRI), já passou por governos, academia, ONGs, instituições multilaterais e empresas. Concluiu que a mudança está mesmo na pessoa. “É uma questão de autoconversão”, pontifica. E o inimigo, nesse caso, é o comodismo, condição bem típica do ser humano. Felizmente neste século XXI não estão faltando canais tecnológicos para auxiliar o cidadão que também queira se tornar ator nesse “pequeno” projeto de mudar o mundo.
As reportagens a seguir mostram o que cada um dos atores citados acima faz ou podem fazer para dar mais efetividade à governança global da sustentabilidade. Governo | ONGs | Empresas | Certificadoras | Cidadão