Uma em cada seis pessoas no planeta depende das florestas para comer. Em um mundo que espera alimentar 9 bilhões de bocas em 2050, o papel da florestas e sistemas agroflorestais para a segurança alimentar e nutricional está caindo de maduro. As florestas não são a solução para a fome no mundo, mas certamente são parte dela.
Esse é o recado que cerca de 60 cientistas estão dando aos governos em um relatório conhecido como IPCC das Florestas. O documento Relatório Global sobre Florestas, Árvores e Paisagens para Segurança Alimentar e Nutrição foi organizado pela União Internacional de Organizações de Pesquisas sobre Florestas (Iufro, na sigla em inglês ) e lançado em um evento paralelo ao Fórum das Nações Unidas para as Florestas, em Nova York, nesta quinta-feira, 6 (acesse aqui).
Em mais de 150 páginas, os cientistas mostram o quanto as florestas e árvores já são relevantes. Metade de todas as frutas consumidas no mundo provêem delas, a maior parte coletadas por mulheres e crianças. No Acre, por exemplo, 12% da renda das famílias provêem das árvores. Na Amazônia boliviana, ali do outro lado da fronteira, esse percentual chega a 64%.
Os cientistas lembram que a dependência das florestas deve crescer mais, conforme a mudança climática torne a produção agropecuária mais suscetível a riscos. Além disso, os limites ao aumento da produção agrícola estão ficando cada vez mais claros, com a diminuição de terras agricultáveis disponíveis.
“Sabemos que as florestas têm papel fundamental na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Este relatório deixa muito claro que elas também têm papel central no combate à fome e desnutrição”, diz Christoph Wildburger, coordenador do painel na Iufro.
Nos últimos anos, o papel das florestas e sistemas agroflorestais no desenvolvimento sustentável tem ficado cada vez mais nítido. Políticas públicas como os Municípios Verdes, do Pará, e privadas como os compromissos das cadeias da soja (abiove.org.br/site/index.php?page=moratoria-da-soja&area=NS0zLTE) e da carne (pecuariasustentavel.org.br/) em não comprar produtos oriundos de desmatamento ilegal são exemplos disso.
O problema é que, no geral, as comunidade mais dependentes das florestas ainda são marginalizadas, têm pouco acesso a direitos e qualidade de vida. Basta que subam os preços das commodities para que se aumente a pressão sobre essas comunidades, como o aumento das taxas de desmatamento no Brasil nos últimos dois anos parecem indicar.
Os autores do relatório apontam que falta, na maioria dos países, governança integrada para o que eles chamam de paisagens multifuncionais – que conectam a economia florestal madeireira, não-madeireira e a produção agropecuária. Os governos também precisam avançar muito em questões como regularização fundiária, a garantia de posse e manejo das áreas de florestas, a valorização das cadeias produtivas florestais e a integração com outros sistemas produtivos.