A única coisa que sabemos é que o futuro vai ser diferente do passado, já dizia Peter Drucker, o guru da administração. Ainda assim, não faltam previsões catastróficas – especialmente nessas semanas que antecedem a reunião de Copenhague sobre as mudanças climáticas. Uma visão mais próxima das realidades locais, contudo, indica que há razão para um certo otimismo ambiental.
O ecólogo Richard Hobbs, nascido na Escócia e com experiência na Inglaterra, EUA e Austrália, afirma que devemos nos preocupar com o fato de que muitas coisas ao nosso redor estão mudando – rapidamente e todas ao mesmo tempo. Mas, para ele, na seqüência vem a questão: como, então, administramos essas coisas? Hobbs é um dos mais importantes representantes de um braço da biologia chamado de “ecologia da restauração” – ao contrário da visão tradicional de que basta cercar e manter intocada uma determinada área para preservar seus ecossistemas e serviços ambientais, a restauração explora opções para “administrar ativamente” tais áreas.
Hobbs esteve recentemente no Brasil e ficou impressionado com a restauração da Mata Atlântica em áreas ocupadas por plantações de cana no entorno de Assis, estado de São Paulo – um dos exemplos que citou em palestra para um auditório lotado há alguns dias em Perth. Onde havia cana, hoje viceja floresta que periga ser confundida com mata nativa, comentou.
No Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, o que faltava eram lobos para manter a saúde do ecossistema. Únicos predadores capazes de controlar os cervos (elks), eles foram extirpados do parque na década de 20, deixando suas presas à vontade para se movimentar e comer o que quisessem. Por conseqüência, várias espécies de árvores quase desapareceram, até que pesquisadores perceberam o elo: os lobos foram reintroduzidos, controlando os movimentos dos cervos e permitindo que as árvores voltassem a crescer.
Nas Ilhas Galápagos, a história é inversa: foi preciso exterminar os bodes que haviam sido introduzidos para que a vegetação e os pássaros voltassem. Na África do Sul, com espécies de plantas invasoras importadas da Austrália afetando a disponibilidade de água em vários ecossistemas, o governo decidiu ativar um verdadeiro “exército” e aliar restauração ambiental a benefícios sócio-econômicos. Desde 1995, um programa para extirpar espécies invasoras limpou mais de um milhão de hectares e deu emprego e treinamento para cerca de 20 mil pessoas. No sudoeste da Austrália, um mutirão de entidades locais, regionais e nacionais desenvolve o projeto Gondwana Link para restaurar, manter e reconectar os ecossistemas ao longo de 1.000 quilômetros de uma região considerada hotspot de biodiversidade.
Esses são exemplos bem-sucedidos, mas em geral os pesquisadores só ficam sabendo se os esforços vão gerar os resultados pretendidos caso os empreendam na prática, o que consome recursos. Portanto, destacou Hobbs, a primeira regra é preservar o máximo possível. “A prevenção é sempre melhor do que a cura”, disse.
Entre o pessimismo que leva à inação e um otimismo cego que gera irresponsabilidade, Hobbs acredita que há uma avenida para o otimismo realista – um otimismo que reconhece a complexidade e a incerteza, mas trabalha para que tenhamos todos, parafraseando o Dr. Spock, “vida longa e prosperidade”.