Pesquisadores da universidade australiana de Flinders anunciam que desenvolveram um polímero barato e não-tóxico que é capaz de sugar o mercúrio presente em água ou solos contaminados. A equipe, coordenada pelo químico Justin Chalker, combinou resíduos industriais à base de enxofre com limoneno, solvente encontrado na casca de cítricos. Na presença de mercúrio, este polissulfeto com aspecto de borracha maleável muda de cor, passando de vermelho escuro para amarelo. Essa propriedade gera uma série de possibilidades comerciais, como a sua utilização como detector de presença de mercúrio. Os pesquisadores sugerem também que ela possa ser usada em larga escala, forrando o interior de canalizações que conduzem água para abastecimento doméstico ou esgoto, ou removendo o enxofre de rios e outros corpos d’água.
A contaminação por mercúrio, um metal pesado líquido, está associada a uma série de distúrbios neurológicos. Sua concentração costuma ser alta em resíduos de termelétricas a carvão, mineração, de algumas indústrias, de pesticidas e de incineração.
A nova substância foi descoberta acidentalmente, quando a equipe de Chalker buscava desenvolver um novo polímero plástico a partir de matérias-primas amplamente disponíveis. Eles decidiram pesquisar opções envolvendo o enxofre, porque ele é um subproduto abundante da indústria de petróleo, que descarta cerca de 70 milhões de toneladas por ano. “E a indústria de cítricos produz 70 mil toneladas de limoneno a cada ano”, diz o pesquisador. “Ele literalmente dá em árvores”.
A pesquisa é descrita em artigo recém-publicado na Angewandte Chemie International Edition, da Sociedade de Química da Alemanha. Ele tem Michael P. Crockett, do Departamento de Química e Bioquímica da University of Tulsa, nos Estados Unidos, como principal autor. Pesquisadores da universidade de Cambridge, na Inglaterra, e do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa também participaram da pesquisa.