No noticiário da televisão, israelenses e palestinos estão sempre em conflito. Mas, nesse exato momento, milhares de conexões pacíficas também acontecem, via a grande rede mundial de computadores. Segundo a rede social Facebook, nas últimas 24 horas, rolaram 5.266 conexões Israel-Palestina, além de 9.001 conexões entre Albânia e Sérvia, 14.536 entre Grécia e Turquia e 6.975 entre Índia e Paquistão. Por trás de cada uma delas, há gente usando tecnologia.
Os números podem ser vistos na página que o Facebook criou no âmbito do Peace Innovation, um programa da Universidade de Stanford, cujo site lista cerca de duas dúzias de organizações que aderiram. A ideia, promovida pelo Laboratório de Tecnologia de Persuasão de Stanford, é encorajar a criação de páginas com o domínio peace dot para mostrar o que vem sendo feito e persuadir a avançar em direção a relações mais harmoniosas no mundo.
O mentor do laboratório, BJ Fogg, diz que as formas de persuasão mudaram radicalmente nos últimos dez anos e, hoje, empresas e indivíduos desenvolvem software que pode influenciar o que pensamos e fazemos. O melhor exemplo é o próprio Facebook, que recebeu mais de 200 milhões de adesões nos últimos dois anos. “O Facebook criou um sistema, movido a código de software, que nos convence a fazer o upload de nossas fotos e a divulgar nossas informações pessoais”, escreveu Fogg. “As trilhas que o Facebook percorre hoje mostram o que vem pela frente: a tecnologia de persuasão pode ser criada por gente comum, e essas criações podem alcançar milhões de pessoas”. A aposta de Fogg é que gente conectada produza persuasão e inovações para um mundo melhor.
Trata-se, claro, de uma aposta, uma vez que a persuasão pode ser usada para qualquer fim. O que Fogg e outros entusiastas da tecnologia apontam é que, pela primeira vez, uma grande massa de pessoas tem nas mãos os meios para forjar relações mais significativas sem a mediação das grandes corporações de mídia e entretenimento que banalizaram o engajamento social e político nas últimas décadas. “Temos um horizonte à frente porque os verdadeiros diferenciais – pensamento claro e iterações rápidas – são fraquezas nas grandes organizações. E elas tem sido lentas em perceber a transformação”, escreveu Fogg.
O quanto os cidadãos vão aproveitar as novas tecnologias para fazer avançar seus interesses comuns para além das páginas do Facebook é ainda uma questão em aberto. Mas é possível encontrar, na grande rede, experiências animadoras como o Dadamac, iniciativa que conecta pessoas dispostas a colaborar pelo desenvolvimento de áreas rurais da África. Pamela McLean, uma das fundadoras, destaca o potencial da região que, intocada pela revolução industrial que transformou o Ocidente, oferece espaço aberto para inovações.
“Não há mais razão para soluções de cima para baixo. Temos as tecnologias da informação e da comunicação, podemos nos conectar uns com os outros”, escreveu Pamela. “Vamos fazer brainstorming para criar comunidades sustentáveis e resilientes na África rural usando as melhores soluções tecnológicas que podemos encontrar, combinando expertise local e internacional.”
Alex Steffen, editor do site Worldchanging e um dos mentores do movimento bright green (entrevista na edição 23 de Página 22), acredita que as tecnologias que nos conectam podem persuadir as pessoas a adotar uma política do otimismo e promover a mudança em diversas escalas – local, regional, global – na busca por um futuro mais próspero.
“Vivemos em um tempo em que a transparência e o insight colaborativo dão aos grupos de interesse a capacidade de compreender os vastos e complexos sistemas dos quais dependemos, mas os quais os poderes estabelecidos cobrem com camadas de expertise excludente, regulamentação e jargão”, escreveu Steffen. “Somos capazes não apenas de compreender os sistemas ao nosso redor, mas de imaginar e inventar substitutos para eles, e de mobilizar as pessoas para fazer isso acontecer”.
O caminho, dizem os otimistas, é começar a ligar os pontos.