A internet das coisas – tecnologia que conecta objetos do dia a dia, como óculos e geladeiras , à web – está expandindo nossa capacidade de monitorar a qualidade ambiental do nosso entorno. O mercado começa a ser inundado por sensores de poluição do ar e da água que permitem a indivíduos coletar dados que antes só eram acessíveis a acadêmicos e órgãos governamentais. Relatório publicado no fim de 2014 pela Gartner, empresa alemã de pesquisa em tecnologia da informação, estima que até o fim da década esses sensores privados serão mais comuns do que os operados por agências ambientais de países ricos.
Os sensores ampliam o poder individual dos ativistas, que já não dependem da informação oficial para se mobilizar, e ajudam a automatizar processos, visando maior eficiência e menores impactos. É um recurso que permite calibrar equipamentos urbanos, como semáforos, bem como tecnologias mais novas, como os carros autodirigíveis, para que operem de forma mais sintonizada, respondendo às demandas do entorno. Eles também permitem identificar edifícios superaquecidos ou super-resfriados, e que economizariam energia se mudassem a temperatura marcada nos sistemas de refrigeração e condicionamento de ar.
Um bom exemplo do que está por vir é o sensor inteligente de presença de poluentes químicos no oceano desenvolvido pela Universitat Politècnica de València, na Espanha. Ele processa em tempo real dados sobre a presença e a distribuição de diesel e outros hidrocarbonetos, mesmo em concentrações mínimas. Os sensores são instalados em pequenas boias que movem ao longo de derramamentos, em busca de seus limites. “O fator mais importante para a minimização do impacto e dos danos na área afetada é a rapidez com que se detecta [a contaminação]”, diz Jaime Lloret, do Instituto de Pesquisa em Gestão Integrada de Áreas Costeiras da universidade. “É um fator particularmente crítico no caso de derramamentos de óleo, quando uma limpeza completa é virtualmente impossível se os esforços de descontaminação não começarem imediatamente”. Se colônias de pescadores e produtores de ostras nas proximidades de plataformas petrolíferas operassem tais artefatos, a chance de contenção de vazamentos seriam multiplicadas.
Esta mesma lógica motiva a Charity: Water, ONG baseada em Nova York que já investiu US$ 200 milhões na abertura de 16 mil poços em 24 países. A entidade está testando sensores que indicam se os sistemas de bombeamento de água estão realmente funcionando e a frequência com a qual são utilizados. Um algoritmo processa informações sobre o nível da água enviadas pelo sensor, que é instalado na tubulação. Ele analisa padrões e gera alertas quando o fluxo cai por falhas no equipamento. Ele também permite identificar um excesso de demanda e a necessidade de se cavar mais poços. A entidade oferece livre acesso ao software que desenvolveu.
Os novos sensores ambientais também podem ser conectados em rede para oferecer um panorama global de indicadores. Pelo menos duas iniciativas estão ajudando a disseminar sensores de poluição atmosférica que identificam o nível de umidade, a temperatura e a presença de óxidos de carbono e nitrogênio, dentre outros parâmetros. É possível participar das redes Smart Citizen e Air Quality Egg ao adquirir seus sensores, que custam cerca de US$ 200. Os dados obtidos por esses equipamentos são disponibilizados na web.