Em países como os EUA, ganha musculatura a pesquisa tecnológica que busca dar as bases para uma economia com menos carbono
A corrida tecnológica do novo modelo de desenvolvimento econômico foi lançada há tempos, mas hoje não se trata mais de mero treino, e sim de uma maratona olímpica internacional em plenas provas semifi nais. A busca das novas tecnologias fervilha nos laboratórios das grandes multinacionais e dos centros de referência científi cos e é apoiada por políticas e recursos públicos nos países industrializados.
Resta saber se o Brasil estará entre os fi nalistas. Para tanto, é preciso aumentar nossa massa muscular, incrementando o investimento público e privado em desenvolvimento científi co e tecnológico e em formação de recursos humanos. Nos EUA, os grandes centros de desenvolvimento de tecnologia avançam a passos largos, estimulados pela política do atual governo.
Barack Obama lançou recentemente ofensiva para regulamentar o limite para emissões de gases de efeito estufa na esfera administrativa, apostando no uso da base legal já estabelecida pelo Clean Air Act, a lei sobre poluição do ar. Insatisfeito com o rumo da discussão no Congresso americano e com a difi culdade de aprovação de lei sobre mudanças climáticas e energia, o presidente americano resolveu acelerar o processo de implementação de metas e propôs que os limites para emissão de gases de efeito estufa sejam defi nidos pela agência americana de meio ambiente, a EPA.
Em visita recente ao Massachusetts Institute of Technology, centro de pesquisa tecnológica de ponta no país, Obama conheceu pesquisas no campo da energia solar, que incluem janelas com painéis de geração, sistemas mais efi cientes de iluminação com nanotecnologia, produção de energia eólica com pouco vento, entre outras. Convocou os cientistas a dirigir esforços para transformar os EUA em um exportador de energia limpa, com base em tecnologia de ponta. Mais uma mostra da aposta na inovação é o pacote recém-lançado pelo Departamento de Energia, com investimento de US$ 2,4 bilhões, neste ano, para o desenvolvimento de baterias para a indústria de veículos elétricos e híbridos.
Com ou sem marco regulatório impondo medidas de redução de emissões, as empresas americanas também se antecipam, com olhos abertos para as oportunidades emergentes. Forte exemplo vem da gigante Microsoft. A empresa anunciou política climática, executa ações para minimizar suas emissões, oferece produtos e soluções para empresas, governos, outras instituições ou indivíduos minimizarem sua pegada carbônica, e ainda investe em pesquisa de ponta na área de energia e de tecnologia da informação. Além de suas sedes passarem a adotar medidas de construção sustentável e retrofi tting, chama atenção a iniciativa The Green Grid (a rede verde), do qual participam indústrias que estão investindo na melhoria de sistemas computacionais e data centers, a fi m de aumentar sua efi ciência energética. Mais: seu novo produto, o Windows 7, lançado em outubro, é o sistema operacional mais efi ciente sob o ponto de vista energético já feito pela empresa. Em sua parceria com a Clinton Foundation, apoia governos locais em seus esforços de mapeamento e de redução das emissões. Com a ONG WWF e outras companhias, lançou a Climate Savers Computing Initiative, um compromisso para consumo e produção de equipamento de TI com melhor efi ciência energética.
Tanto no campo privado como no público, o Brasil também começa a lançar propostas relevantes. O estado de São Paulo aprovou lei climática, com meta de redução de emissões; a cidade de São Paulo empossou seu comitê de mudanças climáticas; os estados amazônicos aprovam políticas de clima. Há ONGs, como a ICLEI, apoiando governos locais na estruturação de programas de combate ao aquecimento global. O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas tem promovido discussões e apoiado aprovação de importante marco regulatório. Na esfera empresarial, iniciativas como a Empresas pelo Clima apoiam corporações na gestão e redução de emissões, envolvendo vários setores produtivos.
Mas ainda há muito a ser feito para colocar o Brasil em nível competitivo com as grandes economias mundiais. É preciso clara sinalização do governo, principalmente no que tange aos estímulos econômicos para as empresas e governos que estão apostando na economia de baixo carbono. Mais que hospedar os Jogos, o Brasil tem nas mãos a oportunidade de fi gurar entre os maiores medalhistas.
*Coordenadora-adjunta do Gvces e pesquisadora no Programa de Ciência, Sociedade e Tecnologia da Harvard Kennedy School (Cambridge, Massachusetts, EUA)