Enquanto países e cidades de diversas partes do mundo coíbem o uso das sacolas plásticas, o Brasil continua longe de encampar a briga
Cresce o cerco às sacolas plásticas, símbolo da conveniência e do consumo. Pelo menos uma dezena de países já proibiu a sua distribuição pelo comércio ou estabeleceu impostos salgados para coibir o seu uso. Em alguns deles, sua venda pode até dar cadeia.
“Sacolas de plástico fi no, utilizadas uma única vez, sufocam a vida marinha e deveriam ser banidas ou progressivamente eliminadas em todos os países”, declarou recentemente Achim Steiner, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). “A sua fabricação simplesmente não tem cabimento.”
Qualotamanho do problema? Imenso. Difícilocidadão, abonado ou não, que não tenha algumas sacolas plásticas. Pelo menos 1 trilhão é consumido anualmente – no Brasil, seriam 12 bilhões, segundo o Ministério do Meio Ambiente.
Os sacos são um dos principais componentes do lixo urbano, perdendo em número apenas para as bitucas de cigarro. Eles também representam o maior volume de resíduos encontrados nos oceanos – e, confundidos com alimentos, são ingeridos por toda a sorte de animais marinhos.
O Pnuma estima que 100 mil tartarugas, aves e golfinhos morram sufocados todos os anos.
O descarte de sacolas aparentemente inofensivas tem um grande impacto ambiental, por dois motivos. O primeiro é que o plástico, como os diamantes, é eterno. Ele pode ser quebrado pela luz do sol em pedaços cada vez menores, mas suas moléculas continuarão por aí por todo o sempre. Segundo, porque sacolas são muito aerodinâmicas. Mesmo aquelas dispostas em aterros sanitários podem ser facilmente arrastadas pelo vento, poluindo a paisagem.
Alguns países – como Bangladesh, China, Tanzânia e Ruanda – saíram na frente na guerra contra as sacolas plásticas e simplesmente proibiram a sua distribuição pelo comércio.
Bangladesh, por exemplo, tomou a decisão em 2002, depois que o governo concluiu que esse tipo de lixo era um dos maiores responsáveis por uma série de enchentes que ocorreram entre 1988 e 1998 e que submergiram dois terços do país. Milhares de sacolas entupiam o sistema de drenagem da chuva. A China decidiu banir as sacolas plásticas fi nas em meados do ano passado. Graças à decisão, o país, até então maior consumidor global desse produto, reduziu seu consumo nacional de petróleo em 1,6 milhão de toneladas em apenas um ano. Pelo menos 40 bilhões de sacos deixaram de ser produzidos. Itália, França, Israel, Canadá, Botsuana, Quênia, África do Sul e Taiwan estão em estágios variados do processo de banimento.
Cidades importantes também estão aderindo a esse esforço. Em março de 2007, San Francisco foi a primeira dos EUA a coibir o uso de sacolas plásticas. A cidade só permite o uso de sacolas de papel confeccionadas com pelo menos 40% de material reciclado ou que sejam feitas de plástico biodegradável. Nova Délhi proibiu as sacolas no início deste ano, seguindo o exemplo de Mumbai, e estabeleceu uma multa equivalente a US$ 2 mil para punir os estabelecimentos que desrespeitarem a lei. Usar sacolas não biodegradáveis pode, inclusive, dar prisão. Agora, em agosto, foi a vez de a Cidade do México baixar uma lei similar.
Outros países preferiram estabelecer um imposto específi co. A Irlanda, por exemplo, conseguiu reduzir o consumo de sacolas em 90% desde 2002, graças à cobrança de 22 centavos de euro por unidade distribuída pelo comércio.
Vários varejistas importantes aderiram a essa luta, como o grupo sueco Ikea e o britânico Marks and Spencers – que cobra 5 pence (centavos de libra) por sacola na sua área de supermercados. Segundo a empresa, essa estratégia reduziu o volume de sacolas distribuídas de 460 milhões, em 2007, para 80 milhões no ano seguinte.
O Brasil ainda está bem longe de encampar essa briga. Não proibiu, não estabeleceu impostos. O Ministério do Meio Ambiente limita-se a fazer campanhas com recomendações, como a atual “Saco é um Saco”. Um dos argumentos do ministério para não proibir a distribuição de sacolas plásticas é que boa parte da população depende delas para acondicionar o lixo, já que não pode arcar com o custo de sacos de lixo. O argumento da pobreza até faz sentido. Mas se Ruanda e Bangladesh peitaram as sacolas plásticas, por que nós não?
*Jornalista especializada em meio ambiente