Entre o extremismo conectando o Ocidente e o Oriente e o gelo que derrete no Ártico, afloram novos modos de instigar o ativismo nos cidadãos do mundo. As campanhas cheias de números e dados científicos, depoimentos de especialistas e pessoas influentes, abrem espaço para cada um se conectar de modo mais emocional à situação do outro, distante, inatingível. E esse outro pode ser tão estranho quanto um estrangeiro que jamais conheceremos ou tão exótico quanto uma paisagem que jamais visitaremos. O que têm em comum é que ganham voz e provocam reação pelas vias digitais.
Um primeiro exemplo emblemático é da campanha The DNA Journey (A Jornada do DNA), em que pessoas de diferentes origens foram convidadas a falar sobre de onde vêm e de outras terras e povos que não gostam. O passo seguinte, cuspir num potinho e esperar que um teste genético revelasse a verdadeira origem de cada um. Não foram poucos que se descobriram descendentes daqueles que criticaram, evocando uma epifania sobre a irracionalidade dos desafetos e violências entre povos. Reação emotiva dos dois lados da tela, o vídeo e a campanha viralizaram e a reflexão brota de quem entra em contato com a peça.
Outro exemplo é o da chamada em defesa do Ártico. O discurso da campanha é que, para dar voz às oito milhões de pessoas que assinaram um abaixo assinado pela proteção do Polo Norte, o Greenpeace convidou o pianista e compositor Ludovico Einaudi. Enquanto ele flutua com seu piano pelo mar, em meio a blocos de gelo, sua música ecoa e dança com a paisagem do Ártico que, aqui e ali deixa despencar pedaços de geleiras, como se fizesse um dueto com Ludovico. O vídeo é belíssimo e o alvo foi pressionar o encontro da Comissão OSPAR (de proteção do ambiente marinho do Atlântico Nordeste), de 20 a 24 de junho, sobre preservação ou exploração do Ártico – ou algo no meio.
Assim como os estrangeiros – que poderiam ser potenciais imigrantes ou vítimas de guerras e violência -, o Ártico torna-se um ente vivo, escancarando sua fragilidade que ganha ares de poesia e sofrimento com a ajuda da música, das imagens, das redes. A tecnologia dando voz à natureza.
E há casos em que as vozes de humanos, da natureza e dos dispositivos tecnológicos se juntam em uma só para mostrar que por trás do descaso socioambiental existe sentimento. É o exemplo da campanha do The Guardian que busca fotos e histórias para revelar os “rios sem amor pelo mundo”.
Mas se não pintar criatividade e recursos para acessar a emoção individual pela coletividade das redes? Sempre pode-se recorrer a uma boa trolagem. De um caminhante branco do “Game of Thrones” tragado pelo gelo que se parte sob os pés, a um escritório em que as temperaturas vão às alturas, mas a chefe insiste ignorar o ambiente que derrete. Jeitos de falar sobre as mudanças climáticas pelo riso e não pelo tom de catástrofe e cientificismo que muitas vezes espantam mais do que agregam. O foco é impulsionar a campanha e dialogar com o mundo das redes; a conscientização pode vir como efeito colateral.