Uma pesquisa realizada pelo Instituto Semeia aponta os problemas que ainda impedem que os parques brasileiros se tornem rentáveis e sejam alternativa para adeptos do turismo na natureza.
Com a participação espontânea de 187 gestores de parques federais e estaduais, a terceira edição da pesquisa Diagnóstico do Uso Público em Parques Brasileiros – A Perspectiva dos Gestores, confirma um retrato preocupante sobre a realidade desses espaços. “Muitos deles estão em uma situação de fragilidade, em grande parte pela falta de recursos. Ao mapear a situação atual e as oportunidades de melhoria, nossa pesquisa contribui para orientar ações futuras”, afirma Fernando Pieroni, diretor executivo da entidade.
Principais pontos mapeados:
Baixa visitação – Em 40% dos parques respondentes, não há sistemas de contagem nem estimativa de visitantes. Além disso, apenas 17% sabem informar o limite máximo de visitantes – nesse grupo, o nível de visitação atinge, em média, apenas 37% da capacidade. O esvaziamento não se deve somente à localização, pois mesmo parques próximos de grandes centros ou de destinos turísticos apresentaram tal situação. O melhor controle e os maiores índices de visitação foram registrados em unidades estaduais de Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e São Paulo.
Dificuldade de acesso – Em média, nas regiões Sul, Nordeste e Centro-Oeste, 46% dos parques podem ser acessados em um período de duas horas, a partir do aeroporto mais próximo. Já na região Norte, apenas 18% estão nessa condição, enquanto outros 32% exigem um dia de viagem para serem alcançados. Na média nacional, esse indicador ficou em até quatro horas para 73% dos parques. Rio de Janeiro, Ceará e Santa Catarina apresentaram os parques com as melhores pontuações quando considerados aspectos como proximidade com aeroportos e facilidade de acesso.
Pouca infraestrutura – A falta de manutenção das instalações aparece como um fator que prejudica a experiência dos visitantes. A ausência de estruturas essenciais (de banheiros a portarias e trilhas sinalizadas) é um problema em 68% dos parques respondentes. Dentre os federais, 84% relataram essa carência.
Problemas em planejamento e gestão – Apenas 19% dos respondentes declaram que o parque em que trabalham possui plano de manejo devidamente aprovado e aderente às suas reais condições. A regularização fundiária, que determina a posse da área, foi outro problema recorrente: somente 25% dos parques estavam com 100% da área regularizada – em 44%, a regularização fundiária não ultrapassava 25% da área total do parque. No que tange à regularização fundiária e à existência de planos de manejo funcionais, destacaram-se os estados do Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Paraná.
Dificuldade na captação – A captação de receita pela cobrança de serviços e atividades só acontece em 13% dos parques participantes. Em 75% do total, os gestores afirmaram que não há cobrança, seja por não haver oferta de serviços ou pela ausência de iniciativas para instaurar tal cobrança. Ainda assim, 68% buscam recursos externos por meio de projetos associados ao uso público (como parcerias, compensação ambiental, doações e investimentos nacionais e internacionais). Apesar do baixo valor, 70% deles não preveem cobrança de ingresso para visitação. Nos que praticam essa taxa, o valor médio é R$ 12. Os contratos para terceirização de serviços com parceiros privados prevaleceram nos parques estaduais de São Paulo, em parques federais e nos estaduais de Minas Gerais.
A maior adesão à pesquisa ocorreu entre parques estaduais (67% de participação), seguidos dos nacionais (54%). Os dois parques mais visitados do país – Iguaçu (PR) e Tijuca (RJ), com 4,5 milhões de acessos anuais, segundo contagem do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – não participaram, assim como os parques nacionais de Jericoacoara (CE) e Brasília (DF).