Você passa a sua vida limitando o consumo de água e dando preferência a produtos orgânicos ou certificados. Até que tem o seu primeiro filho, e é batata: nem todo o engajamento do mundo faz com que você encare fraldas de pano.
A comodidade das descartáveis—associada à pesada propaganda da indústria—explica por que elas dominam pelo menos 90% do mercado nos EUA, onde são comercializados cerca de 20 bilhões de unidades por ano. O resultado: elas geram 3,5 milhões de toneladas de lixo anuais. As fraldas representam o terceiro resíduo sólido mais importante nos Estados Unidos, após jornais e embalagens de bebidas, mas estes últimos são freqüentemente recolhidos em separado e enviados para reciclagem.
Por enquanto, a única empresa que diz reciclar fraldas na América do Norte é a canadense Smallplanet, que primeiro higieniza o material descartado—coletado em domicílio—e depois separa a celulose da porção plástica. A primeira pode ser convertida em papel de parede, solas de calçados e filtros para óleo. O plástico pode ser enviado para a produção de madeira sintética e painéis decorativos. O serviço custa cerca de US$ 13 a cada quinzena.
As pilhas de fraldas descartadas em aterros sanitários e lixões parecem não ter incomodado os coordenadores de uma pesquisa sobre o ciclo de vida do produto, divulgada no ano passado pela agência ambiental britânica. O estudo criou polêmica ao concluir que o impacto das descartáveis não era muito diferente do das fraldas de pano porque, em geral, estas seriam lavadas a temperaturas bastante altas em máquinas que não utilizam plena carga. Evidentemente, as fabricantes de descartáveis vibraram com o resultado do estudo.
A pesquisa despertou ira entre inúmeros grupos ambientalistas, que, entre outras críticas, argumentaram que as máquinas de lavar mais modernas gastam muito menos do que o padrão considerado na pesquisa e que muita gente não passa fraldas a ferro, o que mudaria bastante essa contabilidade. Por essas contas, o impacto das fraldas de pano sobre o clima seria 24% menor que o indicado pela agência britânica.
Para quem não engole a conclusão dessa pesquisa e consegue resistir às descartáveis, sobra, é claro, a opção das fraldas de pano. Nos Estados Unidos, é possível adquirir um sem-número de fraldas orgânicas, produzidas com algodão não branqueado ou Cannabis, ou ainda as G-diapers—versão biodegradável do absorvente feminino, que é encaixada numa calça especial. Depois de usada, ela é disposta em composteiras de adubo ou jogada no vaso sanitário, para que siga para o esgoto. Segundo os seus fabricantes “as G-diapers não envolvem cloro elemental, perfume, cheiro, lixo ou culpa”. Só que são mais caras do que as já caras descartáveis. Também é possível contar com serviços especializados na lavagem de fraldas. A mãe deixa uma caixa com as fraldas de pano sujas do lado de fora de casa e a empresa a troca por outra com fraldas limpas.
Mas um grupo de pais americanos acredita que, melhor mesmo, é aboli-las de todo. Eles tentam libertar seus filhos das fraldas, sejam elas de que natureza forem, já nas primeiras semanas de vida. O tema foi até reportagem do New York Times, no fi m de 2005.
A maior promotora desse conceito, a canadense Ingrid Bauer, argumenta que milhões de crianças em países pobres jamais utilizaram esse tipo de proteção, e nem por isso sujam os saris ou batas de suas mães. A prática também traria o fim das assaduras, reforçaria a intimidade entre pais e filhos e representaria uma economia significativa, já que cada criança consome algo entre 5 mil e 8 mil fraldas nos seus dois ou três primeiros anos.
Em tese, o conceito é simples. A mãe deve prestar atenção em indícios de que o bebê está em vias de se aliviar, como uma agitação súbita ou uma careta. Ela deve então suspendê-lo sobre o vaso sanitário ou um penico e dar um assobio ou emitir algum outro código, que a criança entenderá como um sinal verde para fazer suas necessidades ali.
Evidentemente, esse sistema tão pavloviano, batizado de Higiene Infantil Natural, depende de uma mãe permanentemente presente e atenta, já que a seqüência se repete ao menos dez vezes ao longo do dia. Resta saber se sobrará tempo para que a mãe vigie o consumo de água da família e revire o mercado atrás de madeira certificada. Ou faça qualquer outra coisa.