[Foto: Bárbara Schorchit e o aplicativo criado pela Genecoin, que permite a coleta de dados para rastreabilidade de produtos da biodiversidade.]
A Climate Ventures, em parceria de conteúdo com a Página22, mensalmente conta ao leitor histórias sobre negócios inovadores relacionados ao desafio climático. A Climate Ventures é uma plataforma de Bons Negócios Pelo Clima que existe para acelerar a economia regenerativa e de baixo carbono e reverter a mudança climática, desenvolvendo startups e conectando-as ao mercado e investidores. A seguir, a história da Genecoin, que atua com Uso do solo e Florestas:
Como as empresas podem descobrir a origem das matérias-primas que usam, saber se a extração respeita a conservação da biodiversidade e não vem de um território de conflito? Como garantir, por exemplo, que não haja trabalho escravo envolvido? A tecnologia pode ajudar – e muito. Por meio do blockchain, é possível rastrear as cadeias produtivas e conferir transparência ao processo. É o que faz a Genecoin, startup que rastreia a cadeia de valor de produtos da floresta, como açaí, castanhas, óleos vegetais. Se esse tipo de iniciativa hoje é notícia, daqui a um tempo não será mais, aposta a CEO Bárbara Schorchit: “A minha visão é que, no futuro, isso será o comum. Para encontrarem espaço no mercado, as marcas precisarão ser transparentes e tornar essas informações disponíveis para quem quiser consultar”. Saiba mais na entrevista com a empresária, a seguir.
Bárbara Schorchit é co-fundadora e CEO da Genecoin. Graduada em Engenharia Química pela UFRJ, Schorchit teve, ainda como estudante, sua empresa pré-acelerada pelo Shell Iniciativa Jovem e pela Draper University no Vale do Silício, conquistando prêmios de destaque em ambos os programas. Em 2019, foi indicada como finalista do prêmio Jovens Campeões da Terra pela ONU Meio Ambiente.
O que a inspirou a criar a Genecoin e por que você escolheu trabalhar com economia da biodiversidade?
Eu fazia estágio em uma empresa de biotecnologia que prospecta de produtos de alta tecnologia na biodiversidade brasileira. Em 2017, houve um boom das criptomoedas e nós pensamos em criar uma para ajudar cientistas a desenvolver produtos da biodiversidade. Durante o ano de 2018, fomos pré-acelerados e percebemos que teríamos maior impacto e oportunidade aplicando a tecnologia blockchain para auxiliar no compliance [conformidade] da Lei da Biodiversidade e de padrões voluntários de sustentabilidade, por meio do rastreamento das cadeias produtivas.
O Brasil é conhecido mundialmente por sua biodiversidade, cuja variedade e riqueza são aproveitadas em produtos de grandes empresas ao redor do mundo. Você pretende expandir o trabalho da Genecoin para mercados internacionais?
Sem dúvida. Hoje já temos conversas em andamento com empresas que desejam rastrear e obter maior controle sobre suas cadeias produtivas ao redor do mundo. Um dos nossos clientes “beta” fará o rastreamento de um ativo que tem origem no Brasil e que, depois de processado e transformado, é utilizado por indústrias na Europa, Ásia e América do Norte. Queremos consolidar o nosso serviço para, em breve, torná-lo disponível também para o rastreamento de cadeias em outros países.
Atualmente a Genecoin utiliza tecnologias de blockchain e machine learning. Pretende buscar novas tecnologias para garantir ainda mais assertividade no processo?
Nosso objetivo central é garantir simplicidade e conveniência na experiência do nosso cliente. Blockchain é um mundo e ainda tem aspectos da tecnologia que queremos incorporar, como o armazenamento e processamento distribuído de dados. Meu sócio, Gabriel Marques, tem um portfólio de projetos envolvendo Internet das Coisas e consigo visualizar como essa tecnologia pode vir a contribuir para a proposta de valor da Genecoin.
Que tipos de irregularidades podem ser encontradas em cadeias de valor que exploram a biodiversidade?
Entre os pontos críticos de monitoramento de cadeias de valor da biodiversidade encontram-se origem, matéria-prima e condições de trabalho utilizadas. Informações sobre a origem são importantes para que produtores possam garantir que a produção é orgânica e que não vem de um território de conflito, por exemplo. Ao mesmo tempo, informações sobre a matéria-prima permitem que empresas identifiquem o enquadramento de seus produtos segundo a Lei da Biodiversidade. Essas cadeias são tradicionalmente bastante pulverizadas, o que faz com que falhas na comunicação dessas informações ao longo da cadeia produtiva sejam bastante comuns.
Como convencer todos os stakeholders das cadeias a colaborarem?
É preciso ter uma solução que seja conveniente e uma proposta de valor específica para cada stakeholder. Entender quem são os agentes envolvidos e seus desafios e necessidades é essencial para isso. Alguns estão em procura de segurança jurídica, enquanto outros querem novas vantagens competitivas. Há também quem esteja procurando simplificar seus processos ou dar protagonismo aos agentes envolvidos na base da cadeia.
Diante da emergência climática que vivemos e da necessidade imediata de buscarmos soluções para reverter esse quadro, como a Genecoin contribui para o combate aos efeitos da mudança do clima?
A floresta em pé é a melhor maneira de sequestrar carbono. A Genecoin tem a missão de ajudar no desenvolvimento e valorização de produtos da biodiversidade que contribuam para a manutenção da floresta viva.
Você foi finalista do prêmio Jovens Campeões da Terra na América Latina e Caribe, da ONU, recebeu o prêmio de destaque do Shell Iniciativa Jovem e foi uma das vencedoras da Chamada de Bons Negócios pelo Clima da Climate Ventures. O que de melhor a participação nessas competições trouxe para você?
Pessoas. Todas essas competições permitiram que conhecêssemos outras pessoas incríveis, engajadas e interessadas nos temas de meio ambiente, uso da biodiversidade, tecnologia e responsabilidade de cadeias produtivas. Algumas agiram quase como mentores e nos ajudaram a refinar nossa operação e modelo de negócios, outras entraram em contato conosco e trouxeram novos parceiros, clientes ou oportunidades e várias serviram como fonte de inspiração para nós.
Os cargos da área de TI sempre foram predominantemente ocupados por homens. Pouco a pouco, as mulheres vem conquistando seu espaço. Como mulher, você encontrou desafios para empreender nessa área?
A representatividade ainda é baixa nessa área e é algo que faz falta. Muitas vezes sou a única ou uma das poucas mulheres na sala. Pouco a pouco vamos reverter esse cenário.
Cada vez mais, as pessoas buscam saber a origem dos produtos que consomem Isso se trata apenas de uma preocupação momentânea ou você acredita que haja mesmo uma mudança de mindset ocorrendo?
Definitivamente é uma mudança de mindset. Hoje as pessoas comentam bastante sobre isso e demandam cada vez mais a transparência e comunicação da cadeia produtiva dos produtos que consomem. A minha visão é que no futuro isso será o comum. Para encontrarem espaço no mercado, as marcas precisarão ser transparentes e ter essas informações disponíveis para quem quiser consultar.
Na temática de manutenção da floresta em pé, cite um case inspirador que admira.
Eu sou fã do Legado das Águas da Reservas Votorantim. Visitei a reserva, que é a maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil, pela primeira vez em 2016 e participei do Encontro Técnico-Científico de 2017. O propósito da empresa é gerar negócios a partir da conservação de ativos ambientais e, além dos projetos de pesquisa da biodiversidade, eles vêm desenvolvendo cases de negócios de ecoturismo sustentável, paisagismo com mudas da Mata Atlântica e biotecnologia para criação de novos produtos de alto valor agregado.