A economia dá sinais de super aquecimento e com eles uma enxurrada de artigos na imprensa trazem diagnósticos e prognósticos acerca do problema. Para refletir sobre o que fazem refletir os jornais, selecionei uma breve análise publicada em O Globo (4/3), da professora de macroeconomia da PUC-RJ Monica Baumgarten de Bolle, sobre o crescimento de 7,5% da economia brasileira em 2010. Ela chega à conclusão de que tal desempenho é insustentável e nada tem de leveza, fazendo alusão à obra de Milan Kundera, “A insustentável leveza do ser“.
O artigo oferece um mapeamento objetivo das conjecturas econômicas que levam à tal conclusão. Revela, entretanto, que ainda está fora do que é considerado essencial para a economia o coeficiente sustentabilidade – tomado o termo tal como é subentendido para quem está atento ao movimento da Economia de Baixo Carbono e para governos, empresas e ONGs envolvidas nas discussões da maior parte das conferências da ONU atualmente.
Em outras palavras, para além do risco de inflação, o crescimento brasileiro do modo como foi conduzido representa enorme potencial de desmatamento, poluição, produção de resíduos, conflitos com comunidades locais, entre outros fatores não contabilizados na análise do artigo. A impressão que fica é de que o cerne da economia no pensamento dominante (e certamente não estamos falando aqui de um determinado autor ou instituição, mas de um contexto amplo no Brasil) ainda fala das questões numérico-financeiras e deixa de lado os recursos naturais, o bem estar da população e o impacto presente e futuro de medidas dissociadas do contexto socioambiental sobre o qual terão influência.
E mesmo se fosse mantido o foco mais tradicional do pensamento econômico, a análise do porquê o crescimento brasileiro de 2010 é “insustentável” parece acanhada pois ignora o movimento da nova economia que se estrutura mundo afora à partir de processos e tecnologias mais limpos – mesmo em relação à matriz hidrelética – e eficientes, desde a geração de energia, passando pelos materiais utilizados em cada produto e as estratégias de distribuição, descarte e reuso. Elementos ignorados pelo desenvolvimentismo que impulsionou o crescimento brasileiro sem pensar nas emissões de gases do efeito estufa ou na proteção da biodiversidade que evitarão perdas decorrentes de impactos ambientais futuros.
Se antes era comum ouvir o argumento de que a economia não estava robusta suficiente para permitir uma guinada para um modelo mais sustentável, não seria agora que ela está classificada como resiliente e super aquecida a hora de se adotar políticas públicas de estímulo à nova economia? Mas para que essa pergunta esteja em discussão é preciso que o conceito sobre o que é essencial à leveza da economia esteja ampliado nas mentes dos formadores de opinião.
Ricardo Barretto
Comunicação GVces