Para muita gente, câmeras de segurança em lugares públicos são apenas a materialização do Big Brother, ditador que no livro 1984, de George Orwell, mantém a população sob constante monitoramento. Mas, para um grupo de pesquisadores americanos, elas são uma mão na roda que facilita o estudo dos efeitos das mudanças climáticas sobre o crescimento das plantas.
Atualmente, para acompanhar eventos cíclicos na vida das plantas e saber como eles são influenciados por variações sazonais ou interanuais no clima, os pesquisadores dispõem de métodos manuais para áreas pequenas, e de sensoreamento remoto via satélite, com baixa resolução, para áreas grandes.
Segundo os autores de um artigo recém-publicado na revista Global Change Biology, as câmeras usadas em aeroportos, parques nacionais e rodovias – e em geral conectadas à internet – são uma boa maneira de gerar dados complementares. Eles avaliaram imagens feitas duas vezes por dia ao longo de 2008 e 2009 por 1.141 câmeras públicas georreferenciadas nos EUA, selecionaram 30, e compararam com os dados de satélite para as mesmas regiões – tudo com o objetivo de detectar as mudanças fenológicas das plantas relacionadas à primavera. Com as câmeras, houve menos dias em que a qualidade dos dados foi ruim – os dados de satélite sofrem quando há, por exemplo, nuvens – e foi possível estimar com mais precisão a chegada da primavera. Segundo os pesquisadores, as câmeras são um recurso disponível e ainda não explorado para ajudar no monitoramento ambiental e ecológico de grande escala. E, diga-se de passagem, um bom uso do dinheiro público.