Achou que ter um carro significaria locomover-se de forma rápida e segura a qualquer momento? Pense de novo. Se você mora em São Paulo, rápido não é exatamente o timing de quem usa o carro, e segurança deixa a desejar. Mas independente de onde se esteja, há outro motivo para suspeitar que as benesses do automóvel ficaram no século passado. Segundo estudo recente da Nasa, a agência especial americana, é a frota de quase um bilhão de carros e caminhões que entope ruas e rodovias mundo afora que apresenta a maior contribuição líquida para o aquecimento global no momento.
Que os motores movidos a combustíveis fósseis são grandes produtores de gases de efeito estufa, todo mundo sabe, mas o interessante do estudo da Nasa é ter comparado 13 setores da economia de acordo com os gases que lançam – os de efeito estufa, mas também os aerossóis que bloqueiam os raios do sol e acabam tendo efeito resfriante. Veículos de passeio, ônibus e caminhões emitem grandes quantidades de gases que contribuem para o aquecimento, mas poucos aerossóis para contrabalançar. E, pior, os aerossóis e partículas que emitem são mais nocivos à saúde humana do que, por exemplo, os lançados pelo setor de energia.
“Devido aos problemas de saúde causados pelos aerossóis, muitos países desenvolvidos têm reduzido as emissões de aerossóis pela indústria. Mas tais esforços também acabam com alguns dos efeitos resfriantes dessa poluição, eliminando uma forma inadvertida de geoengenharia que provavelmente mitigou o aquecimento global nas últimas décadas”, disse a Nasa em artigo sobre a pesquisa.
Não que a indústria ou a geração de energia sejam menos importantes para o aquecimento global, mas também produzem enormes quantidades de aerossóis e outras partículas que bloqueiam a radiação solar. É mesmo o caso da queima de biomassa – como a contida nas florestas tropicais, por exemplo. O detalhe é que essas partículas têm vida bem mais curta na atmosfera do que os gases de causam aquecimento, que persistem por décadas ou séculos.
O estudo da Nasa se baseou em dados sobre os setores em 2000 e modelou o que aconteceria, mantido o mesmo padrão de emissões, daqui até 2100. Os resultados mostram que, atualmente, os transportes rodoviários têm a maior contribuição líquida para o aquecimento, seguidos da queima de combustíveis caseiros (madeira e excremento de animais) para aquecimento e preparação de alimentos e da pecuária. A partir de 2050, a geração de energia elétrica superaria o setor de transportes e manteria a liderança até 2100, com os veículos em segundo lugar e o setor industrial em terceiro.
Moral da história: uma das melhores ações para combater o aquecimento, segundo os autores, é reduzir as emissões do transporte, pois isso traz benefícios imediatos e no longo prazo. Além, é claro, de alívio à saúde humana e ao nível de stress dos habitantes de tantas metrópoles. No longo prazo, os pesquisadores da Nasa recomendam enfatizar a redução de emissões dos setores de energia e industrial.
Os autores admitem que, como outros modelos que prevêem situações futuras, há várias incertezas que pesam sobre os resultados. Mas, convenhamos, há motivos de sobra para tentarmos superar nosso caso de amor com o carro e demandarmos melhor transporte público e cidades mais habitáveis. Para quem precisa de mais um, vale uma olhada no website Narrow Streets: Los Angeles, que imagina como seria Los Angeles sem a ditadura do carro.