Pesquisa do Datafolha divulgada na última Sexta-Feira Santa indica que os brasileiros acendem uma vela para Darwin e outra para o Senhor. Para 59% dos entrevistados, o homem resulta de milhões de anos de evolução guiada por um ser superior. Os resultados se assemelham aos obtidos na Europa. Entretanto, nos Estados Unidos, aproximadamente 44% da população é criacionista e apenas 14% descartam qualquer participação divina na nossa gênese.
É possível misturar alhos com bugalhos, Religião e Ciência, como faz a maior parte dos brasileiros? “A Ciência nos dá uma visão da realidade que é muito importante; toda a nossa tecnologia é baseada na Ciência”, diz o geneticista Francisco Ayala. “Mas, no fim das contas, questões que são importantes para as pessoas, questões que envolvem o sentido das coisas e os valores morais não são respondidas pela Ciência”.
Poucos estão mais bem posicionados do que Ayala para opinar sobre essa questão. Este ex-padre dominicano e biólogo espanhol, radicado nos Estados Unidos, acabou de receber o Prêmio Templeton, que contempla “contribuicões excepcionais à reafirmação da dimensão espiritual da vida”, pelo seu trabalho em que defende o Evolucionismo e combate o chamado design inteligente – uma das versões cristãs da criação da Humanidade. Professor da University of California, ele tem uma formação em Física e Teologia. No entanto, quando se preparava para a sua ordenação, começou a se aproximar de um grupo de geneticistas e decidiu se dedicar ao estudo da evolução em Nova York. A mudança acabou levando-o a abandonar a batina. Hoje, a maior parte do seu esforço acadêmico é dirigido para a busca de uma cura para a malária.
Mas ele é mais conhecido por sua luta de 30 anos para manter o Criacionismo longe das aulas de Biologia das escolas norte-americanas. Em 1981, seus pareceres tiveram papel fundamental na derrubada de uma lei do estado de Arkansas que exigia que o Criacionismo e a Evolução fossem ensinados simultaneamente.
Entretanto, Ayala também é um defensor fervoroso da religião como sustentáculo do modo de vida norte-americano. “É simplesmente trágico ver como esses dois pilares da sociedade [Ciência e Religião] são, muitas vezes, vistos como sendo conflitantes entre si”, discursou, durante a cerimônia em que recebeu o Prêmio Templeton. “Se encaradas da forma adequada, não há contradição entre elas, uma vez que lidam com temas diferentes”, afirmou.