Escreveu ontem na Folha de S. Paulo o professor Luiz Carlos Bresser Pereira sobre o chamado movimento dos indignados: “Os jovens manifestantes não têm responsabilidade pela crise que está aí, nem possibilidade de resolvê-la. Os responsáveis somos nós, os mais velhos, as elites, os que dominaram e governaram. Somos nós que temos que dar soluções. Eles podem levantar o problema, podem debater, sugerir, mas nós que decidimos.” O autor não só reconhece a legitimidade do movimento como parece assumir a crítica daquela campanha irônica do Greenpeace “lembra como a sua geração sonhava em mudar o mundo … parabéns, vocês conseguiram”. Bastante elucidativo ler o depoimento de um professor de economia e ex-ministro do governo Fernando Henrique, que marcou a trajetória neoliberal no Brasil.
Um incômodo, porém, surge para mim quando leio o artigo de Bresser Pereira. Para ele, o movimento dos indignados teve início há seis meses na Espanha. Fiquei surpreso por ele não ter feito uma ligação do movimento que se vê agora no Ocidente com os levantes que há mais de um ano chacoalham os países árabes. Reconhecer a influência e contágio que o movimento desses povos exerce nos movimentos que agora tomam as ruas de nações desenvolvidas é dar espaço para a resposta que se espera à crise global socioeconômica e ambiental e aos descaminhos políticos que a ocasionaram. Em outras palavras, entender que soluções para essa crise talvez não venham das mesmas elites que a originaram, mas surjam de grupos e ideias que até então não eram tidos como relevantes, seja na comunidade internacional, seja no contexto nacional de cada país.
Ricardo Barretto