Um estudo recém-publicado pelo Bank Track identificou que a maioria das instituições financeiras do mundo não oferece políticas de crédito e investimento que privilegiem as florestas. O relatório, intitulado Close the Gap, atribuiu, numa escala de 0 a 5, nota 1 à atuação geral dos bancos nesse quesito.
Foram analisadas 49 instituições de 17 países. A ideia central do Bank Track, sociedade civil internacional de monitoramento do setor bancário, foi medir o compromisso desses bancos com a sustentabilidade por meio de sua atuação no mercado, analisando os critérios e certificações que cada instituição exige no momento de conceder um empréstimo. O estudo ainda verificou os serviços de financiamento disponibilizados para outros segmentos, como agricultura, pesca, indústria militar, mineração e geração de energia.
De acordo com o relatório, apenas um banco, o HSBC, teve um desempenho “adequado” no que se refere às políticas voltadas para as florestas. Cerca de 33% dos bancos analisados têm uma política nesse sentido, porém ainda com uma série de lacunas (daí, o “gap”) a serem preenchidas para conseguirem elevar seus níveis de responsabilidade social e ambiental.
Nenhum banco brasileiro analisado tem uma política a respeito. Os três bancos brasileiros avaliados – Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco – receberam nota zero na categoria. Segundo Roland Widmer, Coordenador do Programa Eco-finanças da Amigos da Terra Amazônia Brasileira, “os BRICs estão com posições desconfortáveis em relação a políticas florestais, mas, se fosse analisado a fundo o relatório, a pontuação dos bancos brasileiros nas áreas de agricultura e pesca seria a mesma, ou seja, zero”.
Para Widmar, outros resultados, como os dos setores de óleo e gás e mineração, também são alarmantes: as três instituições brasileiras conseguiram o conceito 1, uma pontuação bastante complicada se considerado o fato de que grande parte da balança comercial do País é apoiada nesses segmentos.
Os resultados gerais do Close the Gap ainda apontariam para uma dissonância entre o discurso e a prática das instituições. Na maioria dos casos, a concessão do crédito é feita com critérios brandos de análise da atividade produtiva e de seus efeitos sobre uma região. Segundo Widmar, os bancos têm a responsabilidade fiscalizar isso e, em certos casos, impedir que determinadas atividades sejam empreendidas. O financiamento da pecuária na Amazônia seria apenas um desses exemplos.
No que se refere à economia madeireira, uma das exigências dos bancos, por exemplo, poderia ser o padrão FSC (Forest Stewardship Council), concedido pelo Conselho Brasileiro de Manejo Florestal, organização independente que analisa um empreendimento florestal e o classifica de acordo com uma série de critérios ambientais, econômicos e sociais. “O dinheiro é o guia e o que torna possíveis as atividades em todas as esferas. A Amazônia não é uma exceção a isso. Decisões de alocação de recursos são cruciais e bancos têm um papel fundamental nisso, seja pelas atividades próprias ou – na maioria dos casos – pela intermediação financeira”, revela.
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