A Coréia do Sul espera concluir, em algum momento do segundo semestre desse ano, as obras do que deve ser, por um curto período de tempo, a maior usina de energia das marés do mundo. A Usina de Energia das Marés do Lago Sihwa terá capacidade de 245 megawatts, o suficiente para abastecer os 680 mil habitantes da vizinha cidade de Ansan e para ultrapassar a atual campeã em energia das marés, a usina La Rance, na França, que opera desde os anos 60. A Coréia do Sul tem sido atuante no que se refere a incentivos às energias renováveis, mas no caso de Sihwa houve também outro motivo para embarcar nessa maré.
Um projeto estatal iniciado nos anos 80 visava reclamar uma grande área de planície de maré para fins industriais e agrícolas e criar um lago artificial capaz de suprir tais atividades com água doce. Para tanto, uma represa de aterro de 13 quilômetros de comprimento foi construída separando o novo lago do Mar Amarelo. Concluída em 1994, a obra tornou-se controversa pois o lago passou a receber não só água doce de rios adjacentes, mas também poluição de fábricas vizinhas e esgoto residencial, causando graves impactos ambientais. O governo sul coreano mudou os planos e passou a permitir a entrada de água salgada no lago, frustrando o plano original. Mais recentemente, o governo decidiu aproveitar a energia da enorme quantidade de água que entra e sai do lago com as marés.
Apesar dos impactos ambientais, a Usina do Lago Sihwa e a energia das marés vão ajudar a Coréia do Sul a reduzir sua dependência dos combustíveis fósseis. Atualmente o país é o nono maior emissor de gases de efeito estufa do mundo e, sob o Protocolo de Kyoto, não possui metas de redução. Os sul coreanos, entretanto, aderiram ao Acordo de Copenhague, prometendo cortar suas emissões em 30% até 2020 em relação ao business as usual. Em grande parte, os esforços sul coreanos tem se dado na área de energias renováveis e, em março passado, o país aprovou lei que obriga as geradoras a produzir 2% de toda a energia a partir de fontes renováveis até 2012 e 10% até 2022.
A energia das marés é considerada praticamente inesgotável, já que deriva da interação gravitacional entre o Sol e a Lua, combinada com a rotação da Terra. Além dos impactos ambientais das barragens em usinas como a de Sihwa, o grande empecilho ao desenvolvimento da energia das marés ainda é alto custo: o projeto da Usina de Incheon, a oeste de Seoul, por exemplo, prevê custo total de US$ 3,5 bilhões de dólares. Se tudo correr bem e a usina entrar em operação em 2017 como previsto, Incheon superará Sihwa em geração de energia, com capacidade para 1.320 megawatts – segundo o governo, o suficiente para abastecer 60% dos 2,7 milhões de habitantes da cidade de Incheon. Sihwa e Incheon serão apenas gotas no oceano, entretanto, se os planos da Rússia para duas mega-usinas para captar a energia das marés saírem do papel.