Parece haver algo de errado. O gráfico ao lado mostra que, enquanto a capacidade pesqueira aumenta, com o incremento do número de navios e da produtividade por embarcação, cai a quantidade de peixe capturada e os estoques pesqueiros disponíveis. Gasta-se muito e produz-se cada vez menos num modelo que beira o esgotamento.
Essas foram algumas das informações consideradas pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) na realização da prévia de seu relatório “Economia Verde”, em que avalia as oportunidades de aplicação, nas áreas de pesca, água e transporte, de políticas alinhadas à sustentabilidade. O documento enfatiza o setor aquicultor e contabiliza os possíveis ganhos decorrentes de uma transformação nos processos de pesca.
As conclusões do documento do PNUMA apontaram que o manejo inadequado, a carência de fiscalização e a política de subsídios – que ultrapassam os US$ 27 bilhões por ano –, levaram cerca de 30% dos estoques pesqueiros ao “colapso”, deixando-os com menos de 10% da capacidade inicial. Só 25% das reservas comerciais apresentam um estado considerado saudável ou razoavelmente saudável. Isso significa que, se forem mantidos os níveis atuais de captura, praticamente todos os estoques pesqueiros comerciais estarão extintos em 2050.
Mas, além da extinção dos animais, o problema da pesca desenfreada atinge diretamente as populações humanas que sobrevivem da atividade como geração de renda ou mesmo sustento. A pesca gera, direta e indiretamente, 170 milhões de empregos e US$ 35 bilhões em receitas anuais para famílias de pescadores: cerca de 8% da população mundial são dependentes diretos da atividade.
Para reverter o cenário negativo, o PNUMA recomenda um investimento global da ordem de US$ 220 a US$ 320 bilhões, distribuídos em US$ 8 bilhões anuais. Tudo isso estaria centrado na necessidade de reformar os processos de pesca, especialmente por meio de políticas, tais como cotas comerciais e estabelecimento de áreas marinhas protegidas, a fim de permitir a recuperação e o crescimento dos estoques prejudicados.
Tais medidas, além de ajudarem no combate à pobreza, assegurariam ainda um aumento de mais de US$ 11 bilhões anuais no faturamento das empresas de pesca. A quantidade de pescado, de 80 milhões de toneladas, saltaria para 112 milhões de toneladas ao ano.
No final das contas, a solução de US$ 8 bilhões por ano, apontada pelo PNUMA, além de representar a alternativa mais viável ambientalmente, dispenderia menos de três vezes do valor total (US$ 27 bilhões) gasto hoje pela indústria na manutenção de um sistema com clara tendência ao esgotamento.
Água e transporte
Sobre a água, o relatório afirma que seu abastecimento será 40% menor do que o necessário em 2030, caso não sejam implementadas melhorias na eficiência de uso. O aperfeiçoamento nos processos de acesso e distribuição de água e na rede de saneamento básico poderiam economizar uma receita (gasta, na maior parte dos casos, nos sistemas de saúde) superior a US$ 64 bilhões de dólares anuais em todo o mundo.
Quanto ao transporte, o PNUMA revela que o setor consome, atualmente, mais da metade dos combustíveis fósseis líquidos em nível mundial. Esses números poderão crescer ainda mais, se nenhum outro modelo for adotado. Dos atuais 800 milhões, o número de veículos poderá ficar entre 2 e 3 bilhões em 2050. Todo o prejuízo do impacto ambiental social e econômico gerado pelo setor de transporte poderia alcançar hoje, em média, a monta de 10% do PIB de um país.
Leia mais sobre a prévia do relatório “Economia Verde”, no site do site do UNEP (PNUMA, em inglês).
Home: “Fishing boat” // Foto de bri~ via Flickr