Saía de uma reunião de algumas poucas horas quando voltei para meu celular e me deparei com uma infinidade de ligações e mensagens. O conteúdo: você está bem? Em poucos minutos soube da morte de uma ciclista, com a minha idade, minha formação, meu trajeto, minha paixão e postura: cicloativista.
Morreu uma irmã. Não a conhecia. Não era preciso. Ali morria um pouco de mim também. Parece clichê, mas a experiência dos ciclistas caminhando juntos na manifestação na noite de sexta, debaixo daquela torrencial chuva, me trouxe tão claramente a sensação do somos Um, que este um que morre reverberava com genuína tristeza em meu coração.
Ali um filme passou na minha cabeça, com a certeza que realmente poderia ter sido eu naquela manhã me impondo no trânsito, exigindo a preservação do meu espaço. E sendo mais uma vez posta, literalmente, de escanteio.
Vivemos a cultura da separação. Disputamos espaços. Carro x pedestre, ônibus x bike, ambientalistas x ruralistas, etc. Com tantas pessoas, com tanta diversidade não podemos mais continuar cultivando o separado, temos que cultivar o ‘juntos’. Mas não juntos onde somos iguais, mas sim juntos enquanto diferentes, e belos nessa diferença. São Paulo hoje vibra esta separação, e esta se revela na agressividade, na buzina, no xingamento, no vidro fechado e na roda que invade a faixa.
O trânsito é o principal ponto de encontro de todo e qualquer paulistano, para conseguirmos estar juntos neste encontro precisamos respeitar o diferente, compartilhar o espaço. Eu de bike, você de carro, ele de moto e ela de ônibus. Eu de bicicleta preciso da sua atenção, respeito e até proteção. Você de carro precisa do espaço que eu deixo livre por não estar também de carro. Juntos, se você permitir, trocamos um sorriso e juntos, cada um do seu jeito, seguimos construindo coletivamente um encontro mais saudável e, quiçá, sustentável.
Maria Piza