A internet é de todos. Foi o que percebeu o GetUp!, grupo ativista australiano que desde 2005 usa a web para mobilizar cidadãos e “construir uma Austrália progressista”, depois que o lobby do carvão lançou sua própria campanha online sob o mote “cut emissions not jobs” (corte emissões, não empregos). Promovida pela Australian Coal Association, a campanha diz-se a favor de ações para mitigar as mudanças climáticas, mas defende que o sistema de cap-and-trade proposto pelo governo levará ao fechamento de 16 minas prematuramente e ao corte milhares de empregos. “Temos pouco tempo para consertar o esquema de negociação de emissões. Envie um email ao seu representante agora”, diz o website, que defende como solução a tecnologia de captura e sequestro de carbono.
Em resposta, o GetUp! decidiu que é hora de colocar gente na rua para convencer, no corpo-a-corpo, políticos e cidadãos de que vale a pena investir na transição para uma economia de baixo carbono. Com o carvão movimentando grande parte da economia australiana e a proposta do governo para cortar emissões empacada no Parlamento, a briga promete ser quente. “Eles têm dinheiro, mas nós temos paixão”, disse Simon Sheikh, diretor nacional do GetUp! em palestra ontem em Perth sobre a campanha ReEnergise. O GetUp! depende de doações pela internet para manter-se e rodar suas campanhas.
A idéia é mobilizar voluntários para percorrer locais considerados importantes eleitoralmente e conversar com os cidadãos sobre as mudanças climáticas e uma nova economia baseada em energia limpa. Segundo Simon, as ONGs ambientalistas foram bem sucedidas em inserir a questão climática na mídia, agora é hora de discutir como solucioná-la “e convencer as massas de que a ação é possível”. A partir de pesquisas, o GetUp! decidiu que a melhor maneira de fazer isso é no boca-a-boca, pois os australianos tendem a desconfiar do governo e outras instituições, mas estão abertos a amigos, família, vizinhos. “Gente como eu e você”, disse.
É preciso ser inteligente com a linguagem usada, destacou Simon. A ReEnergise não fala em “green jobs” ou empregos verdes, pois tal expressão faz com que se pense em “plantar árvores”, mas em “clean energy jobs” ou empregos de energia limpa. A campanha não discute o esquema proposto pelo governo, mas a possibilidade de cortar emissões e criar empregos ao mesmo tempo. Isso ajuda as pessoas a saírem da “audácia da esperança para a certeza de que o futuro é brilhante porque é renovável”, garantiu Simon. Segundo ele, estudos mostram que é possível criar 2,7 milhões de empregos nos próximos 15 anos se a Austrália caminhar para uma economia mais limpa, de baixo carbono. “Uma turbina eólica tem milhares de peças que se movem”, disse. “Quem vai fabricá-las?”