Dois novos estudos reforçam a certeza de que a contaminação ambiental compromete a masculinidade. Em linhas gerais, eles comprovam que substâncias que imitam o estrógeno (um dos hormônios femininos) ou que bloqueiam a testosterona (hormônio masculino) estão reduzindo a fertilidade, o apetite sexual e o tamanho do pênis das novas gerações. Estas substâncias estão presentes no nosso cotidiano – em alguns tipos de cremes e filtros solares; embalagens de alimentos, bebidas e sabonetes; calçados plásticos e brinquedos, dentre outros.
O primeiro estudo verificou que trabalhadores expostos ao bisfenol na China têm um risco muito elevado de desenvolver impotência e de perder o apetite sexual. É uma substância que pode ser encontrada em produtos eletrônicos, equipamentos médicos, carros e, mais importante, embalagens de alimentos e bebidas. O estudo, publicado na última edição da revista Human Reproduction, foi desenvolvido pelo núcleo de pesquisas do Kaiser Permanente, um grupo de hospitais da California.
É fato que os trabalhadores estudados tiveram exposição até 50 vezes superior à de um cidadão médio, seja ele chinês ou de outra nacionalidade. Mesmo assim, dá o que pensar.
A segunda pesquisa é mais assustadora, porque está muito próxima do nosso cotidiano. Trata-se de um relatório do Departamento Dinamarquês de Meio Ambiente, Alimentação e Questões Rurais. O país tem investido nessa linha de estudos devido a um aumento nos casos de câncer testicular. Segundo o estudo, garotos na faixa dos dois anos, particularmente vulneráveis, estão altamente expostos a um mix de poluentes – dentre eles ftalatos (presente no plástico PVC e em algumas fragrâncias), parabenos (presentes em loções e protetores solares) e pesticidas. Esta mistura potencializa o efeito desses poluentes e está gerando mudanças hormonais muito concretas.
Estas são apenas mais duas pesquisas que trazem evidências desse tipo de risco. Vários estudos anteriores já haviam demonstrado que os chamados disruptores endócrinos estão reduzindo dramaticamente o volume de esperma produzido e mudando o comportamento dos meninos, mais propensos às brincadeiras consideradas femininas.
Um dos levantamentos mais dramáticos nesse sentido foi publicado pela University of Rochester, no estado de Nova York, no ano passado. Ele verificou que os filhos de mulheres expostas a ftalatos têm maiores chances de ter um pênis menor e que os seus testículos não desçam.
Segundo um artigo no jornal Telegraph, publicado no fim de outubro, a exposição de mulheres grávidas a poluentes também está fazendo com que nasçam menos garotos. O jornal britânico afirma, por exemplo, que já nascem duas vezes mais meninas que meninos numa comunidade indígena canadense que vive nas proximidades do lago Huron, que recebe efluentes de um dos maiores conglomerados de indústrias químicas do mundo. O fenômeno parece se repetir em Seveso, a cidade italiana famosa por um terrível acidente com vazamento de dioxinas nos anos 70. Segundo o Telegraph, quadro similar foi observado em algumas comunidades na Rússia, além de Israel, Taiwan e na nossa terrinha.
Já está deprimido? Pois espere: ainda tem mais.
Esta tendência de feminização não é verificada apenas em humanos. Há evidências fortes de que diversas espécies animais seguem o mesmo caminho, devido à contaminação ambiental.
Tenha um bom fim-de-semana.