1 – “Elaborar 33 propostas para a questão do lixo, na cidade de São Paulo”: bem humorado, Sofaer disse que se não conseguisse implementar nenhuma delas, pelo menos conseguiria emplacar a primeira.
2 – “Moda lixo”: desfile de moda plástico, papel e metal, em vez do tradicional dia, noite e praia.
3 – “Virada Esportiva do Lixo”: não se trata apenas de chutar lata, em vez de bola. Haveria esportes novos, como campeonato de amassar latinha ou rasgar papelão.
4 – “Fazer lixeiras bem mais altas”: o artista observou que, em frente às casas da cidade, há diversos tipos de lixeira de ferro, nas quais as pessoas depositam os sacos de lixo. Não há qualquer padrão para sua altura ou tamanho. A proposta é fazer lixeiras bem altas, de modo que os moradores arremessem os sacos de lixo como em direção a uma cesta de basquete.
5 – “Jogar uma lata de prata ou ouro, no lixo”: considerando que “vivemos em uma cultura da loteria”, Sofaer gostaria de fazer isso, embora não soubesse que fim levaria a lata.
6 – “Esculpir um meteorito de 22 toneladas de alumínio”: em lembrança ao total descartado pelo morador de São Paulo, cerca de 850g diários, ao longo de uma expectativa de vida média de 70 anos.
7 – “Trabalhar com um engenheiro para desenvolver um carrinho ergonômico, para os catadores de lixo”: Sofaer estaria interessado em observar como se daria a interação entre duas equipes de especialistas. Isto é, os engenheiros e os catadores.
8 – “Estimular as pessoas a compor as calçadas em frente às suas casas com sucata”: a intenção é promover o mosaico no chão, em detrimento da pichação nas paredes. Poderia ser até incentivada uma espécie de competição, para ver qual calçada ficaria mais bonita.
9 – “Pagar catadores de lixo para coletar sementes descartadas, cultivando um pomar com elas”: criar um pomar a partir do lixo. O projeto é inviável economicamente, segundo o artista. Mas ele quer, com isso, levantar a questão sobre como os valores são determinados e compreendidos.
10 – “Imprimir o valor que os catadores ganham das empresas de reciclagem ao entregar-lhes determinado objeto”: Sofaer visitou cooperativas de coleta e fábricas de reciclagem. Certa companhia paga R$ 36 por quilograma. Nos cálculos dele, isso significa que os catadores precisam recolher 36 latas para receber R$ 1. “Imprimir isso nas embalagens ajudaria a disseminar informações sobre esse tipo de troca”, afirma.
11 – “Produzir um livro que ensine as crianças a contarem, por meio de números que façam referência ao lixo descartado na cidade”: por exemplo, as 9.700 toneladas diárias dirigidas aos aterros sanitários de São Paulo equivalem a 2.500 elefantes ou 10 mil fuscas.
12 – “Visita envolvendo todas as etapas de produção e descarte de produtos”: um tour da esteira de produção à fábrica de reciclagem, passando ainda pelo mercado, a mesa, o lixo e o catador.
13 – “Pagar os catadores para coletar colheres de sorvete, que seriam reunidas na coleção do artista”: De acordo com Sofaer, “a mais egoísta das propostas”. No entanto, ele não quer olhar para os catadores e pensar sobre como o grupo precisa de sua ajuda. Mas, como a expertise do catador pode ser útil para ele.
14 – “Reunir o lixo por critérios que não o valor comercial”: por exemplo, por cor, forma, tamanho, material. Uma forma de coleta não relacionada a um modelo econômico.
15 – “Construir uma escultura em lembrança ao lixo descartado por um cidadão durante o ano”: não precisaria ser uma escultura. Na verdade, poderia ser um arquivo atualizado diariamente, com informações sobre o que determinada pessoa jogou fora. Por detrás dessa proposta, há o fato de que o lixo pode contar algo sobre nós e reúne informação útil.
16 – “Organizar uma gincana em busca de livros, reciclá-los e usar o material reciclado para produzir livros que contem histórias sobre a gincana”: seriam usados diferentes livros, de grandes textos literários a receitas de culinária. Os novos livros seriam parte de uma espécie de biblioteca de material escondido.
17 – “Construir um museu do lixo móvel, desfilando pela cidade com ele”: o Brasil alcançou o primeiro lugar na lista dos países que mais reciclam alumínio, superando o Japão. A diferença é que a reciclagem, no Japão, ocorre motivada pela cultura local, que separa os detritos descartados por tipo de material. No Brasil, a separação é bem menor, mas a reciclagem ocorre motivada pelo que se paga em troca do lixo.
18 – “Chamar os catadores para um cafezinho”: em alguns casos eles são reconhecidos nas ruas, lembram celebridades. Em outros, são marginalizados. “Esses encontros produziriam resultados fora de qualquer expectativa”, acredita o inglês.
19 – “Tirar fotos dos cachorros dos catadores de lixo”: “suponho que existe uma identificação maior dos cachorros, do que propriamente de seus donos, com o público em geral”, analisa o artista.
20 – “Imprimir as fotos dos catadores nas embalagens”: permitiria aos catadores encontrarem a si próprios durante o trabalho e, a quem descarta o lixo, imaginar o contato humano que terá o lixo, depois de ser descartado.
21 – “Escrever a biografia de um catador de lixo”: Sofaer cita o filme Estamira, do diretor Marcos Prado. E justifica “porque a vida dos anônimos pode ser muito mais interessante do que a daqueles que estão em um pedestal”.
22 – “Erguer a estátua de um catador”.
23 – “Nomear as ruas com nomes de catadores”. Muitas ruas teriam o mesmo nome e a mesma rua teria nomes diversos, o que faz dessa solução algo nada prático. Todavia, faz-nos pensar sobre elas de uma maneira diferente.
24 – “Transformar os catadores em representantes de um serviço de achados e perdidos, nas ruas”.
25 – “Transformar os catadores em agentes de segurança da cidade, instalando câmeras em seus carros”: isso inverteria a lógica de pessoas à margem da sociedade para funcionários a serviço do bem-estar da população.
26 – “Criar um website do caminhão de lixo, imprimindo seu endereço eletrônico nas sacolas de lixo”: o objetivo seria monitorar o movimento dos caminhões da companhia de limpeza urbana. Com essa informação, as pessoas saberiam a hora certa de deixar o lixo na frente de casa, reduzindo a quantidade de detritos deixados nas ruas. Embora isso seja dificultado pela falta de internet em muitos lares ou pelo desinteresse das famílias em acompanhar a localização dos caminhões, a ideia é fazer as pessoas pensarem sobre cidadania e orgulho que têm da própria cidade.
27 – “Imprimir o nome de moradores de São Paulo em placas e outdoors nas vias de acesso à cidade”.
28 – “Estampar a face de cidadãos nessas mesmas estradas”: como uma forma de demonstrar quem faz ou compõe São Paulo.
29 – “Renomear as ruas com o nome dos cidadãos”: o objetivo seria estimular o debate sobre quem são modelos de cidadão que gostaríamos de ter, escolher os vencedores e renomear determinadas ruas com o nome deles. Há um projeto nesses moldes com previsão de se concretizar, em Porto, Portugal.
30 – “O museu de um cidadão”: oferecer a uma pessoa comum, como as que virariam nome de rua, um espaço nesses moldes. (O Museu da Pessoa tem proposta semelhante. Aberto a qualquer um que deseje contar sua própria história. Vale uma visita: www.museudapessoa.net)
31 – “Tours artísticos por espaços não artísticos”.
32 – “Um exército de entrevistadores, que fariam a pergunta ‘O que você pensa sobre São Paulo?’”: as respostas ficariam exibidas em posters, em locais públicos.
33 – “Um exército de voluntários para lavar lixo”: lavar um objeto é ter cuidado com ele, atribuir determinado valor. Uma forma de repensar a relação que temos com a cultura material. O que escolhemos manter ou descartar.