“Eu, por exemplo, moro nas barrancas do Rio Itororó”, diz o vice-presidente da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), Clayton Lino. É uma ironia que o especialista faz com o fato de o rio passar em galerias debaixo da Avenida 23 de maio, no bairro do Paraíso, região onde vive. Ele ressalta que o morador da cidade perdeu a referência das áreas naturais. Em vez de apontar morros, colinas ou lagos como pontos de identificação geográfica, fala-se em bairros, pontes, prédios.
Embora empobreça a diversidade de espécies da fauna e flora, a estrutura da cidade tem o seu ecossistema próprio. A maior parte dos grupos de animais não se adapta adequadamente, diante da poluição e do concreto. Proliferam, no entanto, populações de seres tidos como indesejados, que volta e meia aparecem em casa para uma visita, como baratas, cupins e formigas.
A aluna de doutorado da área de botânica da Universidade de São Paulo (USP) Juliana El Ottra desenvolveu, em 2006, um trabalho de catalogação de árvores em uma praça na Vila Madalena, em conjunto com o professor José Rubens Pirani, também da USP, e uma equipe. O trabalho foi motivado por uma moradora do local, inconformada em ver as plantas sem saber informação alguma sobre elas. Os acadêmicos identificaram cerca de 70 espécies, somente na praça. Entre o que foi encontrado, pés de amora, jaca, pitanga, entre outros.
Quando a natureza vence o concreto
A presença de árvores exóticas em um ambiente – isto é, espécies que não são próprias de determinado lugar – pode prejudicar o equilíbrio ecológico. As folhas do Pinus, um tipo não originário de São Paulo, por exemplo, soltam substância no solo que inibe o crescimento de outras árvores. Em geral menos suscetíveis a pragas, a flora estrangeira acaba tendo, algumas vezes, certas vantagens na hora de competir com as nativas.
Mas a preocupação quando se planta árvores na cidade não se restringe a isso. Qualquer cidadão pode contribuir depositando sementes por aí. Todavia, é importante conhecer o que se está plantando, de modo que a planta não prejudique a biodiversidade, nem comprometa a segurança das pessoas.
As figueiras têm boa preferência dos moradores da capital paulista. Mas, conforme o tempo passa, suas raízes crescem com vigor. Dependendo de onde estão, levantam o concreto que cobre o solo e podem até comprometer a estrutura das construções. A prefeitura de São Paulo tem um programa que incentiva a arborização.
Há orientações sobre as espécies mais adequadas e demais questões a se observar, como tamanho da calçada onde o plantio será realizado, existência de fiação e proximidade de árvores. Confira no link.
A vida de uma árvore morta
Na área urbana, manter uma árvore enfraquecida ou morta no meio da via pode ser perigoso, devido a risco de queda, ou à própria obstrução do caminho, caso ela já tenha caído. Na zona rural, uma árvore nessas condições continua a desempenhar seu papel na natureza com mais tranquilidade, servindo a milhares de espécies, como as que agem nas ações de decomposição.
Outro fator diz respeito ao tronco menos duro, que facilita a perfuração do pica-pau. O buraco feito pela ave é local seguro para o ninho de outros pássaros. Se a árvore não existir, a vida de diversos animais tem chances de desaparecer. “A natureza se desenvolve em equilíbrio, com a evolução dos seres vivos que compõe o ecossistema, o tipo de solo e o relevo que permite a sucessão da vida”, explica Cyra Malta, engenheira agrônoma da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da prefeitura de São Paulo.