O acidente provocado pela British Petroleum mostra como o meio ambiente pode influenciar – e muito – a política
A cada cinco dias, um volume de petróleo semelhante ao que o petroleiro Exxon Valdez derramou no Alasca, em 1989, invade as águas azuladas do Golfo do México. Desde o início do maior desastre ambiental da história americana, em 20 de abril, quando a plataforma Deepwater Horizon explodiu, matando 11 trabalhadores, o presidente Barack Obama tem sido bombardeado de todos os lados. Seja pela sua reação – seja pela falta dela.
Boa parte da imprensa que apoiou Obama tem questionado o desempenho apático do presidente nesse episódio. Durante as primeiras cinco semanas após o acidente, o governo praticamente lavou as mãos, deixando que a BP decidisse como e quando atuar.
Para o senador Robert Menendez, que está coordenando a campanha dos democratas para as próximas eleições de governadores, deputados e senadores, o episódio poderá inclusive ter repercussão nas urnas. Ele provavelmente tem razão – pesquisa de opinião promovida pela rede de TV ABC e o diário Washington Post, no começo de junho, indicou que 69% dos entrevistados desaprovam a forma como o governo conduziu a questão. Em comparação, uma porcentagem menor – 62% – condenou o governo Bush por sua atuação ostensivamente displicente em relação à catástrofe provocada pelo furacão Katrina, em 2005.
O jornal The New York Times acusou a BP e o governo dos EUA de reagirem de forma caótica. “Desde o início, o esforço (de controle) foi frustrado pela falta de preparo, organização, sentido de urgência, e de defi nição de quem – na BP e nos governos local, estadual ou federal – daria as ordens. Em consequência, os danos à costa e à vida selvagem foram piores do que seriam se a reação tivesse sido rápida e orquestrada de forma mais efi ciente.” Segundo Leslie Pearson, uma consultora especializada em derramamentos de petróleo ouvida pelo diário, o governo dos EUA limitou-se a aceitar os planos de contingenciamento apresentados pelas indústrias do petróleo, sem pedir comprovação do que elas efetivamente poderiam fazer no caso de um vazamento.
Um dos ataques mais duros ao presidente foi desferido pela revista Rolling Stone. Num artigo de amplo esforço investigativo, a revista diz que “é tentador acreditar que o derramamento, como tantos outros desastres herdados por Obama, é culpa do produtor de óleo texano que o precedeu no cargo. Entretanto, embora George W. Bush tenha criado as condições que levaram a essa catástrofe, foi Obama quem deu à BP luz verde para perfurar”.
Para a Rolling Stone, à semelhança do que ocorreu antes do ataque da Al-Qaeda ao World Trade Center, em 2001, as autoridades haviam sido alertadas sobre o risco de um atentado mas não fi zeram nada a respeito. “Em vez de moralizar o Minerals Management Service (a agência federal encarregada que licencia a exploração mineral), como prometeu antes de assumir a Presidência, Obama manteve muitos dos altos funcionários que promoviam a cultura de corrupção no órgão”, diz o artigo. “Ele permitiu que a agência avalizasse operações de perfuração perigosas da BP – uma empresa com o pior histórico de segurança do setor petroleiro –, virtualmente sem garantias ambientais, seguindo normas generosas para com as empresas, concebidas durante o governo de Bush.” Em outras palavras, o MMS continuou permitindo que as empresas de exploração de petróleo definissem as regras do jogo.
Críticos do governo lembraram até o fato de que Obama foi o político que mais dinheiro recebeu da BP e dos seus funcionários durante a sua passagem pelo Senado e a campanha presidencial.
Mas o que mais irritou a população foi a fl euma do presidente. Numa entrevista que deu ao talk show de Larry King – apresentador do programa Larry King Live, do canal de tevê americano CNN -, ele se revelou ainda mais impassível que o apresentador. Não moveu sequer a sobrancelha ao dizer que estava “muito furioso” com o episódio.
De tanto levar paulada, Obama começou a esboçar uma reação no fi nal de maio, cinco semanas após o acidente. Primeiro disse que assumia a responsabilidade pelo episódio e que o seu governo falhou no esforço de reformar o MMS. “Não agimos com a urgência necessária”, disse. “E eu estava errado ao acreditar que as empresas de petróleo estavam preparadas para atuar caso acontecesse o pior.”
Mais para a frente, no começo de junho, engrossou a voz ainda mais, dizendo que já teria demitido Tony Hayward, CEO da BP, se fosse seu patrão. A declaração criou uma pequena crise internacional. O prefeito de Londres, Boris Johnson, chegou a afi rmar que a declaração era anti-britânica, já que a BP pertence majoritariamente a capital da Grã- Bretanha.
É cedo para avaliar se Obama sairá apenas chamuscado ou muito queimado desse episódio. Mas os analistas concordam que o futuro de sua carreira depende da interrupção do vazamento – e de muita sorte.
*Jornalista especializada em meio ambiente.[:en]O acidente provocado pela British Petroleum mostra como o meio ambiente pode influenciar – e muito – a política
A cada cinco dias, um volume de petróleo semelhante ao que o petroleiro Exxon Valdez derramou no Alasca, em 1989, invade as águas azuladas do Golfo do México. Desde o início do maior desastre ambiental da história americana, em 20 de abril, quando a plataforma Deepwater Horizon explodiu, matando 11 trabalhadores, o presidente Barack Obama tem sido bombardeado de todos os lados. Seja pela sua reação – seja pela falta dela.
Boa parte da imprensa que apoiou Obama tem questionado o desempenho apático do presidente nesse episódio. Durante as primeiras cinco semanas após o acidente, o governo praticamente lavou as mãos, deixando que a BP decidisse como e quando atuar.
Para o senador Robert Menendez, que está coordenando a campanha dos democratas para as próximas eleições de governadores, deputados e senadores, o episódio poderá inclusive ter repercussão nas urnas. Ele provavelmente tem razão – pesquisa de opinião promovida pela rede de TV ABC e o diário Washington Post, no começo de junho, indicou que 69% dos entrevistados desaprovam a forma como o governo conduziu a questão. Em comparação, uma porcentagem menor – 62% – condenou o governo Bush por sua atuação ostensivamente displicente em relação à catástrofe provocada pelo furacão Katrina, em 2005.
O jornal The New York Times acusou a BP e o governo dos EUA de reagirem de forma caótica. “Desde o início, o esforço (de controle) foi frustrado pela falta de preparo, organização, sentido de urgência, e de defi nição de quem – na BP e nos governos local, estadual ou federal – daria as ordens. Em consequência, os danos à costa e à vida selvagem foram piores do que seriam se a reação tivesse sido rápida e orquestrada de forma mais efi ciente.” Segundo Leslie Pearson, uma consultora especializada em derramamentos de petróleo ouvida pelo diário, o governo dos EUA limitou-se a aceitar os planos de contingenciamento apresentados pelas indústrias do petróleo, sem pedir comprovação do que elas efetivamente poderiam fazer no caso de um vazamento.
Um dos ataques mais duros ao presidente foi desferido pela revista Rolling Stone. Num artigo de amplo esforço investigativo, a revista diz que “é tentador acreditar que o derramamento, como tantos outros desastres herdados por Obama, é culpa do produtor de óleo texano que o precedeu no cargo. Entretanto, embora George W. Bush tenha criado as condições que levaram a essa catástrofe, foi Obama quem deu à BP luz verde para perfurar”.
Para a Rolling Stone, à semelhança do que ocorreu antes do ataque da Al-Qaeda ao World Trade Center, em 2001, as autoridades haviam sido alertadas sobre o risco de um atentado mas não fi zeram nada a respeito. “Em vez de moralizar o Minerals Management Service (a agência federal encarregada que licencia a exploração mineral), como prometeu antes de assumir a Presidência, Obama manteve muitos dos altos funcionários que promoviam a cultura de corrupção no órgão”, diz o artigo. “Ele permitiu que a agência avalizasse operações de perfuração perigosas da BP – uma empresa com o pior histórico de segurança do setor petroleiro –, virtualmente sem garantias ambientais, seguindo normas generosas para com as empresas, concebidas durante o governo de Bush.” Em outras palavras, o MMS continuou permitindo que as empresas de exploração de petróleo definissem as regras do jogo.
Críticos do governo lembraram até o fato de que Obama foi o político que mais dinheiro recebeu da BP e dos seus funcionários durante a sua passagem pelo Senado e a campanha presidencial.
Mas o que mais irritou a população foi a fl euma do presidente. Numa entrevista que deu ao talk show de Larry King – apresentador do programa Larry King Live, do canal de tevê americano CNN -, ele se revelou ainda mais impassível que o apresentador. Não moveu sequer a sobrancelha ao dizer que estava “muito furioso” com o episódio.
De tanto levar paulada, Obama começou a esboçar uma reação no fi nal de maio, cinco semanas após o acidente. Primeiro disse que assumia a responsabilidade pelo episódio e que o seu governo falhou no esforço de reformar o MMS. “Não agimos com a urgência necessária”, disse. “E eu estava errado ao acreditar que as empresas de petróleo estavam preparadas para atuar caso acontecesse o pior.”
Mais para a frente, no começo de junho, engrossou a voz ainda mais, dizendo que já teria demitido Tony Hayward, CEO da BP, se fosse seu patrão. A declaração criou uma pequena crise internacional. O prefeito de Londres, Boris Johnson, chegou a afi rmar que a declaração era anti-britânica, já que a BP pertence majoritariamente a capital da Grã- Bretanha.
É cedo para avaliar se Obama sairá apenas chamuscado ou muito queimado desse episódio. Mas os analistas concordam que o futuro de sua carreira depende da interrupção do vazamento – e de muita sorte.
*Jornalista especializada em meio ambiente.