Apps, Tumbrl, Digg, #tags – o mundo da internet às vezes parece um alfabeto com letras a mais. Tenho fé que, mais dia menos dia, todas acabarão traduzidas para pobres almas como a minha que, beirando os 40, passaram boa parte da vida sem internet e só recentemente incorporaram a seu dia-a-dia o browser, o chat, o streaming e o iPod. Yes, você também pode.
Tento acompanhar os rápidos desenvolvimentos no mundo da web e, confesso, acabo fascinada com as possibilidades que, dizem, ele nos proporciona. É um espaço aberto, onde todos são iguais a todos, qualquer um pode produzir além de consumir, e o grande barato é compartilhar, pregam os entusiastas. De outro lado, os alarmistas garantem que tem um porém: abertos à comunicação por todos os poros, inundados de informação e dados, conectados por mil e uma via, perdemos a medida da vida offline.
A contínua necessidade de checar emails, mensagens, notícias, filosofias de vida enunciadas em 140 caracteres, a localização de um milhão de “amigos” nos toma todos os momentos e sobra pouco para a “vida real”, que dirá para a natureza e seu ritmo bem menos frenético. Nossos cérebros, ao que parece, estão entulhados de frivolidades.
Para mim, a internet permite o que seria impensável pouco tempo atrás: morar na Oceania e trabalhar na América do Sul, manter conexões com família e amigos a despeito dos 11 fusos horários que nos separam. Mas, embora eu escreva sobre a internet e particularmente as redes sociais, não sou ativa participante delas. Acredite se quiser, há coisa de cinco meses adquiri meu primeiro telefone celular, descobri o maravilhoso mundo das mensagens de texto e passei, finalmente, a conjugar o verbo “to text”.
Naturalmente, o próximo passo é… criar uma página no Facebook. Enquanto entretenho tal ideia, pipocam na tela reportagens, blogs e comentários apontando os perigos da vida online, quase na mesma medida de reportagens, blogs e comentários enaltecendo as vantagens de tanta conexão. O articulista do The New York Times Bob Herbert recentemente comparou o Twitter a uma “desordem nervosa”. Mas para o blogueiro Stowe Boyd, Herbert é apenas o mais novo recruta do que ele chama de “guerra contra o fluxo”. Estandarte maior dessa avançada contra o ritmo das mídias sociais – em oposição à quase obsoleta web 1.0, com muitas páginas e pouca interação social – é o jornalista Nick Carr, que acusa a internet de prejudicar nossa capacidade de concentração e contemplação.
Para colocar as coisas em perspectiva e ponderar sobre os impactos da tecnologia no cérebro, assim como as vantagens de estar junto à natureza, um grupo de neurocientistas e psicólogos americanos passaram uma semana em uma região isolada dos EUA, sem acesso à internet ou celular. A empreitada não trouxe conclusões definitivas, mas os cientistas aparentemente apreciaram os benefícios de um ritmo mais lento e muito silêncio.
Pelo sim, pelo não, tem quem prefira se desligar completamente e retirar-se para um mundo sem internet. Temendo ter se viciado em tanta conexão, o cartunista americano James Sturm abandonou a internet por quatro meses e, ironicamente, documentou a experiência em 10 posts na revista Slate. Um dos resultados foi que Sturm voltou a desenhar e seus posts contêm cartuns sobre o que ele chama de “a vida no-fi”, assim como ilustrações de cartas – lembram-se do correio? – que ele recebeu de leitores. Na mesma toada, o The New York Times acaba de publicar uma seleção de vídeos em que voluntários contam a experiência de se desconectar da web temporariamente.
Para quem não quer radicalmente se desplugar, mas gostaria de moderação na quantidade de informação e conexão, o jornalista William Powers lançou o livro Hamlet’s Blackberry, cuja ambição é ajudar as pessoas a agir sabiamente quando o assunto é internet. Uma das sugestões é adotar um shabat –um dia de descanso da web. Estratégias de auto-controle é o que recomenda também o psicólogo Steve Pinker – ele lembra que o “hábito da reflexão profunda, da pesquisa detalhada e da argumentação rigorosa” não é inato ao ser humano. Uma vez adquirido em instituições que convencionamos chamar universidades e mantido constantemente por meio de análise, crítica e debate, tal hábito não se dissipa no ar porque temos acesso eficiente à informação na internet, escreve Pinker.
Com fé na minha capacidade de auto-controle, decido me aventurar pelas conexões virtuais. Facebook, aí vou eu.