No ano passado, pelo menos 179 pessoas foram assassinadas por serem transexuais em todo o mundo. Quase todas eram negras e pobres. Como nos anos anteriores, a maior parte dos casos registrados (e boa parte dos casos não são registrados) ocorreu na América Latina. A região concentra 80% das mortes computadas desde janeiro de 2008. No Brasil, ocorreram 59 assassinatos em 2008, 68 em 2009 e 74 em 2010 (até o mês de novembro). O país está bem longe do segundo colocado, a Guatemala, e do terceiro, o México.
Não é surpresa. O país também é um dos recordistas mundiais num crime correlato, o assassinatos de gays. Episódios ocorridos recentemente em São Paulo – dois garotos xingados e espancados por adolescentes ricos na avenida Paulista – e no Rio – estudante baleado durante a Parada Gay – ilustram o problema. Segundo um relatório anual publicado pelo Grupo Gay da Bahia, uma das organizações mais antigas e combativas de defesa dos direitos dos homossexuais no país, um gay brasileiro foi morto a cada dois dias nos últimos dois anos. É uma média 54% superior à dos dois anos anteriores. As estatísticas globais sobre crimes contra transexuais foram compiladas pelos organizadores do Dia Internacional da Memória Trans (Transgender Day of Remembrance), celebrado todos os anos, no dia 20 de novembro há 12 anos. Ele está aí para que os crimes derivados do preconceito não caiam no esquecimento. Este ano, a data foi marcada por eventos em 180 cidades em 19 países, dentre eles Israel, África do Sul e a ultra-muçulmana Malásia. Na Turquia, outro país islâmico, a data foi lembrada com um congresso que durou toda uma semana de celebrações. No entanto, no Brasil, um país supostamente mais liberal, nenhuma cidade participou.
Por essas e muitas outras admiro demais a atitude do cartunista Laerte, que não tem problema em dizer que quer se vestir de mulher e diz isso a toda a mídia. Não é fácil peitar essa numa sociedade que, definitivamente, é hostil a quem é diferente.