Às margens do Rio Xingu, no Pará, fica Altamira, uma cidade de 100 anos e pouco mais de 100 mil habitantes que está prestes a dobrar de população com a chegada de trabalhadores para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
A obra é uma das maiores e mais questionadas do Programa de Aceleração do Crescimento. Tem 36 anos de estudos, mas foi no governo Lula, na urgência pré-eleitoral que levou Dilma Rousseff ao poder, que Belo Monte foi leiloada. As audiências públicas necessárias para esclarecimento da população foram insuficientes, os estudos da obra ainda não medem os impactos que serão causados pela usina e, para muitos, o processo de licenciamento passou por cima dos direitos das comunidades que serão afetadas pelo empreendimento.
“O governo tem desrespeitado a Constituição Federal, a legislação ambiental, os acordos internacionais e os pareceres técnicos de seus órgãos. Tudo para fazer Belo Monte a qualquer custo”, afirma Antonia Melo, coordenadora do movimento Xingu Vivo Para Sempre, uma das tantas vozes contrárias à construção da usina.
No quilômetro 45 da Transamazônica, no Travessão da Cobra Choca, 960 agricultores familiares vivem as incertezas da megausina. Energia elétrica não há e o asfalto ficou a quilômetros de distância, ainda próximo de Altamira. De longe, essas famílias parecem esquecidas e miseráveis. Mas basta chegar perto para ver que, ali, as necessidades são outras.
“A gente não quer luxo. Apenas manter nosso jeito de viver. Em vez de fazer desenvolvimento desse jeito, passando por cima da gente, eles deviam fazer escola, posto de saúde. Desenvolvimento começa por aí, não por essa hidrelétrica”, diz Ana Alice Plens Santos, moradora da comunidade que terá seus 104 hectares inundados pelo lago formado pela usina.
Assim como ela, calcula-se que mais de 30 mil pessoas serão afetadas pela obra. Nas fotos de Christian Knepper, o retrato de um modo de vida que está prestes a mudar, sem a garantia de indenizações, direitos, ou mesmo voz.