Um terço delas entra no País por contrabando, sem controle ambiental. Enquanto isso, recicladoras amargam ociosidade de 70%
Regras mais estritas para o recolhimento e a destinação adequada de pilhas e baterias estão valendo desde novembro de 2010. A principal norma sobre o tema, a Resolução nº 401, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 5 de novembro de 2008, estabeleceu que em dois anos fabricantes e importadores se tornariam responsáveis por reciclar ou tratar produtos que não têm mais uso para o consumidor. O desafio não é pequeno. Independentemente de ser uma bateria de carro ou uma pilha de controle remoto, consumidores, distribuidores, fabricantes e importadores agora têm responsabilidade compartilhada sobre o produto após seu uso.
Na outra ponta, a indústria da reciclagem continua ociosa. Situada em Suzano, na Grande São Paulo, a Suzaquim é uma das principais recicladoras de eletroeletrônicos no País, no ramo desde 1997. Segundo a gerente técnica e comercial, Fátima Santos, a empresa possui capacidade para reciclar 950 toneladas de material. Mas apenas 330 toneladas são recebidas anualmente.
A expectativa é de que a demanda aumente com a Resolução nº 401. Neste momento, os fabricantes estão criando campanhas de comunicação e estruturando a logística reversa [1] com o varejo para facilitar o retorno dos produtos das mãos dos consumidores comuns. Algumas drogarias, bancos e outros segmentos do comércio já possuem campanhas de larga escala e estão captando pilhas e baterias de seus clientes.
[1] A logística reversa planeja, opera e controla o retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo.
Um dos melhores exemplos é o papapilhas, do Banco Santander. Iniciado com uma ação de responsabilidade socioambiental entre os correntistas, o projeto ganhou corpo, passando de 20 postos de coleta em 2006 para 2.834 pontos em 2010, ano em que foram recolhidas 172 toneladas de pilhas e baterias, posteriormente encaminhadas à Suzaquim. Ali elas são submetidas a processos para extração de sais e óxidos metálicos, utilizados na fabricação de tintas e corantes.
Fátima Santos conta que uma triagem é feita antes da reciclagem, pois muitas vezes as pilhas são descartadas juntamente com aparelhos eletroeletrônicos. Nesse processo, percebe-se a presença das pilhas ilegais e falsificadas. “Observamos que não atendem a nenhum padrão do Conama”, explica.
O caso da Suzaquim ilustra duas facetas da gestão de pilhas e baterias no Brasil. A mais moderna é de um setor que se expande com recicladoras e a montagem de sua rede de logística reversa. Mas um terço das pilhas e baterias vendidas nem mesmo poderia ser comercializado no País, visto que entram ilegalmente, segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).
“O fabricante investiu na reciclagem e destinação das pilhas, mas o governo não fez o mesmo esforço no campo da fiscalização”, aponta André Saraiva, diretor de responsabilidade socioambiental da Abinee.
Como a norma passou a valer em 5 de novembro de 2010, ao fim deste ano será efetuado o primeiro balanço do retorno dos consumidores. Nesse momento, explica Saraiva, será possível definir o papel de cada fabricante e importador na destinação final, além de se ter um novo panorama do mercado ilegal no País.
Segundo a Abinee, também será possível saber o custo médio da operação de logística reversa e reciclagem. Em documento distribuído à imprensa, a entidade acredita que os custos não serão repassados ao consumidor.
Saraiva, que também é diretor-executivo da Prac, sigla para Programa de Responsabilidade Ambiental Compartilhada, empresa que recicla baterias de chumbo ácido, utilizadas na indústria e em automóveis, acredita em uma mudança no modelo de negócio das empresas que fabricam pilhas e baterias. Em última instância, aponta, os fabricantes vendem energia, pois os produtos que a contêm continuam sendo de responsabilidade do fabricante. No novo modelo, ela estará envolvida na produção e na reciclagem dos materiais que utiliza. “Quando alguém compra uma bateria da minha empresa, ele está comprando uma carga de energia. Quando ela se esgota, recolhemos o recipiente e disponibilizamos uma nova carga”, afirma.
A Prac ainda não trabalha com consumidores diretamente, mas com empresas que possuem grandes frotas de veículos, como locadoras de carro e seguradoras. Em 2006, logo no primeiro ano, a empresa recolheu 1,4 tonelada de baterias de chumbo ácido, que posteriormente são recicladas e utilizadas na fabricação de novas baterias. Neste ano, segundo Saraiva, a coleta deve chegar a 2,1 toneladas.