Enquanto cidades mundo afora se esforçam para abrir espaço para as bicicletas em meio aos carros, em Copenhague há excesso de ciclistas nas ruas – problema do qual as autoridades municipais se orgulham, mas que não coaduna com a imagem que a cidade vende de “capital mundial do ciclismo”.
Ao contrário da percepção de que mais ciclistas nas ruas significa mais segurança para todos, em Copenhague o número de ciclistas está causando congestionamento e insegurança. A cidade admite que o problema existe e, em seu último relatório bianual sobre ciclismo, aponta que a satisfação dos ciclistas com as condições das ciclovias caiu 4% de 2008 para 2010. Segundo o relatório, isso provavelmente se deve aos recentes invernos rigorosos e ao aumento do número de bicicletas nas ruas. Ainda assim, nas estatísticas oficiais de 2010, 67% dos ciclistas disseram se sentir seguros – um aumento em relação aos 51% registrados em 2008, mas ainda longe da meta de 80% estabelecida para 2015.
Cinqüenta por cento dos residentes da cidade de Copenhague usam a bicicleta para todas as viagens de casa para o trabalho ou para escola. A proporção cai para 35% quando se levam em conta os residentes dos subúrbios. Mesmo entre os que citam o carro ou o transporte público como meio principal de transporte 15% usam a bicicleta pelo menos uma vez por semana. Não é para menos que há congestionamento e falta de estacionamento para tanta bike.
Copenhague promete investir em infra-estrutura e educação para resolver o problema e continuar aumentando o contingente de ciclistas – segundo a Política de Ciclismo da cidade, a meta é atingir 50% dos residentes na região metropolitana até 2015. Uma nova estratégia para o ciclismo será publicada no final desse ano, com o seguinte objetivo: “usar a bicicleta para ir do ponto A ao ponto B na cidade deve ser rápido, seguro e confortável para todos”.
Popular desde o início do século XX, a bicicleta se tornou meio de transporte para os habitantes de Copenhague com a crise do petróleo nos anos 70. Na metade da década de 80, a cidade começou a estabelecer faixas dedicadas às bicicletas e hoje conta com 350 km de ciclovias – boa parte é separada por meio-fio tanto da calçada como da faixa de carros. Pontes exclusivas para pedestres e ciclistas foram construídas sobre o porto e canais. A cidade conta com um sistema de bike-sharing gratuito, patrocinado por grandes empresas, e os ciclistas podem levar suas magrelas nos trens de graça.
Desde 2007, Copenhague usa a “onda verde” para facilitar o trânsito de ciclistas na principais artérias do centro. Trata-se de programar os sinais de trânsito para que um ciclista, pedalando a uma velocidade constante de 20 km por hora, percorra o trajeto de uma rua ou avenida sem encontrar sinais vermelhos. A medida tem efeito não só para as bicicletas, mas para os carros – se viajarem a 20 km por hora, também cruzam apenas sinais verdes. Ou seja, além de dar passagem livre aos ciclistas mais rápidos, a medida reduz a velocidade geral dos automóveis, aumentando a segurança de todos. A “onda verde” é usada também na Holanda e em algumas cidades americanas.
Embora Amsterdam e outras cidades holandesas disputem o título de capital mundial do ciclismo, sem dúvida Copenhague é uma das cidades mais favoráveis à bicicleta. Perguntados por que preferem usar as magrelas, 55% dos ciclistas na cidade respondem: por que é mais rápido do que outras formas de transporte. Trinta e dois por cento dizem que pedalar é saudável e apenas 9% citam preocupações ambientais. Para manter o ciclismo como meio de transporte fácil e conveniente, e evitar congestionamentos, talvez a única saída seja roubar cada vez mais espaço dos carros.