O que deve vir depois da restrição à sacolinha plástica? Cada vez mais questionam-se outros tipos de excesso, como o das embalagens dos produtos que compramos
POR BRUNA BORGES
FOTOS LUCAS CRUZ
A restrição ao uso de sacolinhas descartáveis derivadas de petróleo aos poucos se consolida em São Paulo. Mas a medida só reduz impactos de parte do excesso de resíduo que produzimos todos os dias. E quanto às muitas embalagens que compramos e levamos para casa? Será que precisamos da embalagem da pilha ou a do equipamento eletrônico, da caixa de leite, se elas serão descartadas em seguida? Em alguns supermercados até mesmo existe uma caixa para que as pessoas, antes de sair do estabelecimento, joguem fora as embalagens que não serão usadas. Então, qual a necessidade dessa embalagem? Não seria exagero dos fabricantes? A resposta é: depende de cada produto.
Certos artigos que compramos de fato pecam pelo excesso de material. Um exemplo são algumas marcas de sabão em pó, achocolatados e cereais matinais que usam embalagem maior que o volume do produto, deixando um espaço vazio na parte superior. Não seria mais vantajoso para o fabricante reduzir esse material utilizado e, também, parte dos custos?
Outro exemplo de excesso é o uso desenfreado de bandejas de isopor para proteger os alimentos. O problema é que sua reciclagem no país não tem grande interesse econômico, o que gera resíduo sem destino adequado. Alega-se a falta de alternativas viáveis para os supermercadistas substituírem o material que garantiria a proteção apropriada para os alimentos.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, há pesquisas em desenvolvimento e algumas empresas estão produzindo recipientes derivados de amido de milho, de mandioca e de batata – os bioplásticos – que poderiam substituir as bandejas de isopor. O desafio é fazer com que esses produtos ganhem escala, porque ainda precisam de aprimoramento e a tecnologia é cara.
Há ainda outro caso de aparente excesso, mas os fabricantes alegam ser necessário – os salgadinhos industrializados. A batata frita, por exemplo, é acondicionada em uma embalagem grande para proteger-se de possíveis impactos no transporte. Sem o ar disponível dentro do saco, as batatas poderiam se despedaçar antes de chegar ao seu destino final. “Nesse caso, o consumidor não estaria disposto a comprar um produto danificado”, explica Elisa Quartim, designer e editora do blog Embalagem Sustentável.
É também o que ocorre com a pasta de dentes, que tem duas embalagens – uma bisnaga e uma caixa de papel. Os fabricantes justificam que a caixa existe porque a bisnaga sozinha não se mantém em pé e, portanto, de forma atrativa no ponto de venda. Serve também para evitar que seu peso acumulado danifique o produto. Mas o desafio é justamente buscar inovações de modo a manter a atratividade e a segurança do produto com o menor impacto possível.
Para a feitura de uma embalagem é necessário uma análise técnica do produto e das condições de transporte, além da garantia de que suas especificações estejam indicadas de forma clara, o que demanda espaço externo. “A melhor embalagem vai depender muito do público que se quer atingir e do produto que se está fabricando. Alguns realmente têm de ser bem acomodados para não estragar, não chegar quebrados em decorrência de uma eventual queda, e outros ainda precisam ser mais chamativos, o que acaba exigindo mais embalagem”, explica Mara Dantas, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Ainda há excessos, mas já é possível identificar iniciativas menos impactantes.
INOVAÇÕES
A indústria já desenvolveu garrafas PET mais finas, que, além de economizar na matéria-prima, são mais facilmente amassadas após o uso, o que aumenta a quantidade de produto transportado e reduz a necessidade de mais caminhões até um ponto de reciclagem. A Coca-Cola, por exemplo, lançou em dezembro de 2011 uma garrafa de espessura menor e tampa de altura reduzida em relação ao padrão. Mas nem sempre modificações assim são aceitas por quem compra o produto. Segundo Elisa, do Embalagem Sustentável, o consumidor mostrou-se insatisfeito com as primeiras unidades por acreditar que elas fossem mais frágeis. Para uma mudança como essa funcionar, é preciso, portanto, que o fabricante esclareça os benefícios da medida adotada.
Também foram lançados produtos de material concentrado, como os de limpeza doméstica. No modelo anterior, o produto vinha diluído e exigia uma embalagem maior. “É um avanço. Não precisamos pagar e levar água para casa”, diz Elisa.
Outra opção é incentivar e ampliar o uso de refil, ainda pouco difundido no Brasil. “O consumidor já entende bem a importância de escolher produtos mais sustentáveis. Mas a questão é que muitas vezes essa prática não é comunicada de forma fácil e ele acaba comprando o que está acostumado a utilizar”, comenta Gui Brammer, CEO da Green Business Brasil, que presta consultoria em negócios sustentáveis. Ele propõe que a sociedade pressione os fabricantes a investir no mo- delo e também recomenda que a indústria evite ao máximo a mistura de materiais na mesma embalagem para não dificultar a reciclagem.
Mas, para incentivar iniciativas como essas, é preciso que os fabricantes sejam convencidos de uma possível vantagem econômica, ressalta a diretora da Abre, a Associação Brasileira de Embalagens, Luciana Pellegrino. Se uma embalagem encarece o produto, muito embora seja menos impactante, ela pode ser preterida. A diretora aponta para a necessidade de haver preocupação com o material utilizado no refil para que seja reciclável e não gerar mais resíduos. Além disso, a logística dos transportes também precisa ser bem analisada, para promover a otimização da embalagem.
Essa mesma análise deve ser feita antes da opção por embalagens retornáveis. Como para higienização do recipiente há consumo de água, assim como emissão de gás carbônico para o transporte entre consumidor e fabricante, é necessário checar se o impacto não seria maior.
“É importante levar em conta que nenhuma solução é totalmente sustentável. Cada decisão sobre escolha de embalagem deve ser analisada segundo seu efeito no meio ambiente”, argumenta Luciana, da Abre.
Mas há quem veja nessas ações oportunidades de agregar valor ao produto. “Essas iniciativas promovem uma ‘competição do bem’ entre os fabricantes”, defende Fernanda Daltro, gerente de Consumo Sustentável do Ministério do Meio Ambiente. Além de gastar menos com matéria-prima, o produto ganha entre os consumidores conscientes. “Se o fabricante não se adapta a essa mudança, seu produto fica menos competitivo”, completa.
O QUE DIZEM OS FABRICANTES
A reportagem procurou associações de empresários do setor para questionar sobre os excessos de embalagem. A Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief) informou, por e-mail, que promove o consumo consciente e apontou que os excessos se dão por parte do consumidor. “Acreditamos que exista desperdício em alguns usos: quando se coloca um (único) tubo de creme dental em uma (única) sacola de supermercado, em vez de usarmos toda a sua capacidade de carga. Ou quando os varejistas exigiam sacolas mais finas da indústria e o consumidor tinha a ne- cessidade de usar mais de uma sacola. A economia de material deve ser feita sempre levando-se em conta o produto a que se destina e observando-se as propriedades características do uso final”, afirma o presidente da entidade, Alfredo Schmitt.
Já Miguel Bahiense, presidente do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), afirma que a questão dos excessos de embalagem não se relaciona com a restrição às sacolinhas e também responsabilizou o consumidor como o agente para reduzir o desperdício. “São coisas completamente diferentes. Se reduzir o material saco de arroz, o saco vai rasgar. Não adianta querer reduzir a embalagem de arroz sem reduzir o consumo de arroz. O que precisa é reduzir o consumo”, diz.
Procurada, a Associação Brasileira de Supermercados não concedeu entrevista a Página22, até o fechamento desta edição.
UM EMPURRÃO NA CONSCIÊNCIA
A restrição às sacolas nos supermercados foi uma medida de grande impacto na sociedade. Forçou o debate entre defensores e insatisfeitos em razão da determinação e levantou a necessidade da ampliação da educação ambiental e de campanhas de conscientização. “Temos que formar cidadãos conscientes, críticos, capazes de pensar a longo prazo. Nosso sistema de ensino é conteudista [1] e centrado em resultados.
[1] Ensino voltado para apenas informar o conteúdo, sem promover debate ou análise
O ensino do meio ambiente passou a ser legalmente integrado no currículo do Ensino
Fundamental a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1996. Temos pouquíssimo tempo da inserção deste tema na educação da população brasileira”, explica a educadora e especialista em desenvolvimento sustentável Ana Paula Arbache.
Enquanto especialistas como Ana Paula defendem que o melhor caminho é conscientizar, outros acreditam que a educação não basta e o consumidor, de forma geral, ainda que queira, é incapaz de tomar sozinho a melhor decisão – seja para seu benefício, seja para o bem da sociedade. Ao contrário do que faz crer parte da indústria que transfere a responsabilidade para o consumidor, este não sabe escolher sozinho: precisa de empurrões e deve ser induzido. É o que se chama de “nudge”.
“O consumidor não aprende”, afirmam especialistas em Psicologia Econômica
POR AMÁLIA SAFATLE
Não é raro a indústria responsabilizar o indivíduo pelas decisões tomadas no consumo. Mas, como já mostrou reportagem na edição 31 de PÁGINA22, ironicamente intitulada “O todo-poderoso”, a capacidade de escolha individual do consumidor influencia muito pouco no largo espectro, forjado – aí sim – por políticas públicas e decisões de escala industrial.
A conscientização, a educação e o empoderamento do indivíduo podem surtir efeitos a longo prazo em uma determinada parcela da população. Mas uma linha de pesquisadores no campo da Psicologia Econômica e da Economia Comportamental defende que, independente disso, o consumidor precisa de ajuda. Mais direto ao ponto: “O consumidor não aprende. Ou dificilmente aprende”, afirma Vera Rita de Mello Ferreira, professora da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e autora dos livros A Cabeça do Investidor e Psicologia Econômica.
Ainda que queira tomar a decisão melhor para si ou para a sociedade, o indivíduo perde-se no caminho, porque não tem as oportunidades de que precisa, ou feedback, ou o encorajamento necessário para fazer escolhas intertemporais – como abrir mão de uma facilidade individual no presente em troca de um benefício futuro para a coletividade (exemplo: deixar o conforto do uso da sacolinha plástica). Tende a agir por inércia e não gosta de tomar decisões.
Assim, o indivíduo não pode ser deixado ao léu, precisa de um empurrão que o leve a escolher aquilo que, no fundo, sabe que é o melhor. Isso, que Vera chama de “arquitetura da escolha”, é denominado nudge, ou empurrão, ainda pouco praticado no Brasil. Um exemplo bem singelo de nudge, no campo econômico, é o investidor combinar com o banco o depósito automático de uma parcela do salário em uma conta de poupança separada. Assim, reduz as chances de gastar o que não queria e sempre adiar o investimento, arrependendo-se depois. ( Leia a entrevista completa com Vera) [:en]O que deve vir depois da restrição à sacolinha plástica? Cada vez mais questionam-se outros tipos de excesso, como o das embalagens dos produtos que compramos
POR BRUNA BORGES
FOTOS LUCAS CRUZ
A restrição ao uso de sacolinhas descartáveis derivadas de petróleo aos poucos se consolida em São Paulo. Mas a medida só reduz impactos de parte do excesso de resíduo que produzimos todos os dias. E quanto às muitas embalagens que compramos e levamos para casa? Será que precisamos da embalagem da pilha ou a do equipamento eletrônico, da caixa de leite, se elas serão descartadas em seguida? Em alguns supermercados até mesmo existe uma caixa para que as pessoas, antes de sair do estabelecimento, joguem fora as embalagens que não serão usadas. Então, qual a necessidade dessa embalagem? Não seria exagero dos fabricantes? A resposta é: depende de cada produto.
Certos artigos que compramos de fato pecam pelo excesso de material. Um exemplo são algumas marcas de sabão em pó, achocolatados e cereais matinais que usam embalagem maior que o volume do produto, deixando um espaço vazio na parte superior. Não seria mais vantajoso para o fabricante reduzir esse material utilizado e, também, parte dos custos?
Outro exemplo de excesso é o uso desenfreado de bandejas de isopor para proteger os alimentos. O problema é que sua reciclagem no país não tem grande interesse econômico, o que gera resíduo sem destino adequado. Alega-se a falta de alternativas viáveis para os supermercadistas substituírem o material que garantiria a proteção apropriada para os alimentos.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, há pesquisas em desenvolvimento e algumas empresas estão produzindo recipientes derivados de amido de milho, de mandioca e de batata – os bioplásticos – que poderiam substituir as bandejas de isopor. O desafio é fazer com que esses produtos ganhem escala, porque ainda precisam de aprimoramento e a tecnologia é cara.
Há ainda outro caso de aparente excesso, mas os fabricantes alegam ser necessário – os salgadinhos industrializados. A batata frita, por exemplo, é acondicionada em uma embalagem grande para proteger-se de possíveis impactos no transporte. Sem o ar disponível dentro do saco, as batatas poderiam se despedaçar antes de chegar ao seu destino final. “Nesse caso, o consumidor não estaria disposto a comprar um produto danificado”, explica Elisa Quartim, designer e editora do blog Embalagem Sustentável.
É também o que ocorre com a pasta de dentes, que tem duas embalagens – uma bisnaga e uma caixa de papel. Os fabricantes justificam que a caixa existe porque a bisnaga sozinha não se mantém em pé e, portanto, de forma atrativa no ponto de venda. Serve também para evitar que seu peso acumulado danifique o produto. Mas o desafio é justamente buscar inovações de modo a manter a atratividade e a segurança do produto com o menor impacto possível.
Para a feitura de uma embalagem é necessário uma análise técnica do produto e das condições de transporte, além da garantia de que suas especificações estejam indicadas de forma clara, o que demanda espaço externo. “A melhor embalagem vai depender muito do público que se quer atingir e do produto que se está fabricando. Alguns realmente têm de ser bem acomodados para não estragar, não chegar quebrados em decorrência de uma eventual queda, e outros ainda precisam ser mais chamativos, o que acaba exigindo mais embalagem”, explica Mara Dantas, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Ainda há excessos, mas já é possível identificar iniciativas menos impactantes.
INOVAÇÕES
A indústria já desenvolveu garrafas PET mais finas, que, além de economizar na matéria-prima, são mais facilmente amassadas após o uso, o que aumenta a quantidade de produto transportado e reduz a necessidade de mais caminhões até um ponto de reciclagem. A Coca-Cola, por exemplo, lançou em dezembro de 2011 uma garrafa de espessura menor e tampa de altura reduzida em relação ao padrão. Mas nem sempre modificações assim são aceitas por quem compra o produto. Segundo Elisa, do Embalagem Sustentável, o consumidor mostrou-se insatisfeito com as primeiras unidades por acreditar que elas fossem mais frágeis. Para uma mudança como essa funcionar, é preciso, portanto, que o fabricante esclareça os benefícios da medida adotada.
Também foram lançados produtos de material concentrado, como os de limpeza doméstica. No modelo anterior, o produto vinha diluído e exigia uma embalagem maior. “É um avanço. Não precisamos pagar e levar água para casa”, diz Elisa.
Outra opção é incentivar e ampliar o uso de refil, ainda pouco difundido no Brasil. “O consumidor já entende bem a importância de escolher produtos mais sustentáveis. Mas a questão é que muitas vezes essa prática não é comunicada de forma fácil e ele acaba comprando o que está acostumado a utilizar”, comenta Gui Brammer, CEO da Green Business Brasil, que presta consultoria em negócios sustentáveis. Ele propõe que a sociedade pressione os fabricantes a investir no mo- delo e também recomenda que a indústria evite ao máximo a mistura de materiais na mesma embalagem para não dificultar a reciclagem.
Mas, para incentivar iniciativas como essas, é preciso que os fabricantes sejam convencidos de uma possível vantagem econômica, ressalta a diretora da Abre, a Associação Brasileira de Embalagens, Luciana Pellegrino. Se uma embalagem encarece o produto, muito embora seja menos impactante, ela pode ser preterida. A diretora aponta para a necessidade de haver preocupação com o material utilizado no refil para que seja reciclável e não gerar mais resíduos. Além disso, a logística dos transportes também precisa ser bem analisada, para promover a otimização da embalagem.
Essa mesma análise deve ser feita antes da opção por embalagens retornáveis. Como para higienização do recipiente há consumo de água, assim como emissão de gás carbônico para o transporte entre consumidor e fabricante, é necessário checar se o impacto não seria maior.
“É importante levar em conta que nenhuma solução é totalmente sustentável. Cada decisão sobre escolha de embalagem deve ser analisada segundo seu efeito no meio ambiente”, argumenta Luciana, da Abre.
Mas há quem veja nessas ações oportunidades de agregar valor ao produto. “Essas iniciativas promovem uma ‘competição do bem’ entre os fabricantes”, defende Fernanda Daltro, gerente de Consumo Sustentável do Ministério do Meio Ambiente. Além de gastar menos com matéria-prima, o produto ganha entre os consumidores conscientes. “Se o fabricante não se adapta a essa mudança, seu produto fica menos competitivo”, completa.
O QUE DIZEM OS FABRICANTES
A reportagem procurou associações de empresários do setor para questionar sobre os excessos de embalagem. A Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief) informou, por e-mail, que promove o consumo consciente e apontou que os excessos se dão por parte do consumidor. “Acreditamos que exista desperdício em alguns usos: quando se coloca um (único) tubo de creme dental em uma (única) sacola de supermercado, em vez de usarmos toda a sua capacidade de carga. Ou quando os varejistas exigiam sacolas mais finas da indústria e o consumidor tinha a ne- cessidade de usar mais de uma sacola. A economia de material deve ser feita sempre levando-se em conta o produto a que se destina e observando-se as propriedades características do uso final”, afirma o presidente da entidade, Alfredo Schmitt.
Já Miguel Bahiense, presidente do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), afirma que a questão dos excessos de embalagem não se relaciona com a restrição às sacolinhas e também responsabilizou o consumidor como o agente para reduzir o desperdício. “São coisas completamente diferentes. Se reduzir o material saco de arroz, o saco vai rasgar. Não adianta querer reduzir a embalagem de arroz sem reduzir o consumo de arroz. O que precisa é reduzir o consumo”, diz.
Procurada, a Associação Brasileira de Supermercados não concedeu entrevista a Página22, até o fechamento desta edição.
UM EMPURRÃO NA CONSCIÊNCIA
A restrição às sacolas nos supermercados foi uma medida de grande impacto na sociedade. Forçou o debate entre defensores e insatisfeitos em razão da determinação e levantou a necessidade da ampliação da educação ambiental e de campanhas de conscientização. “Temos que formar cidadãos conscientes, críticos, capazes de pensar a longo prazo. Nosso sistema de ensino é conteudista [1] e centrado em resultados.
[1] Ensino voltado para apenas informar o conteúdo, sem promover debate ou análise
O ensino do meio ambiente passou a ser legalmente integrado no currículo do Ensino
Fundamental a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1996. Temos pouquíssimo tempo da inserção deste tema na educação da população brasileira”, explica a educadora e especialista em desenvolvimento sustentável Ana Paula Arbache.
Enquanto especialistas como Ana Paula defendem que o melhor caminho é conscientizar, outros acreditam que a educação não basta e o consumidor, de forma geral, ainda que queira, é incapaz de tomar sozinho a melhor decisão – seja para seu benefício, seja para o bem da sociedade. Ao contrário do que faz crer parte da indústria que transfere a responsabilidade para o consumidor, este não sabe escolher sozinho: precisa de empurrões e deve ser induzido. É o que se chama de “nudge”.
“O consumidor não aprende”, afirmam especialistas em Psicologia Econômica
POR AMÁLIA SAFATLE
Não é raro a indústria responsabilizar o indivíduo pelas decisões tomadas no consumo. Mas, como já mostrou reportagem na edição 31 de PÁGINA22, ironicamente intitulada “O todo-poderoso”, a capacidade de escolha individual do consumidor influencia muito pouco no largo espectro, forjado – aí sim – por políticas públicas e decisões de escala industrial.
A conscientização, a educação e o empoderamento do indivíduo podem surtir efeitos a longo prazo em uma determinada parcela da população. Mas uma linha de pesquisadores no campo da Psicologia Econômica e da Economia Comportamental defende que, independente disso, o consumidor precisa de ajuda. Mais direto ao ponto: “O consumidor não aprende. Ou dificilmente aprende”, afirma Vera Rita de Mello Ferreira, professora da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e autora dos livros A Cabeça do Investidor e Psicologia Econômica.
Ainda que queira tomar a decisão melhor para si ou para a sociedade, o indivíduo perde-se no caminho, porque não tem as oportunidades de que precisa, ou feedback, ou o encorajamento necessário para fazer escolhas intertemporais – como abrir mão de uma facilidade individual no presente em troca de um benefício futuro para a coletividade (exemplo: deixar o conforto do uso da sacolinha plástica). Tende a agir por inércia e não gosta de tomar decisões.
Assim, o indivíduo não pode ser deixado ao léu, precisa de um empurrão que o leve a escolher aquilo que, no fundo, sabe que é o melhor. Isso, que Vera chama de “arquitetura da escolha”, é denominado nudge, ou empurrão, ainda pouco praticado no Brasil. Um exemplo bem singelo de nudge, no campo econômico, é o investidor combinar com o banco o depósito automático de uma parcela do salário em uma conta de poupança separada. Assim, reduz as chances de gastar o que não queria e sempre adiar o investimento, arrependendo-se depois. ( Leia a entrevista completa com Vera)