Não é novidade que Bill Gates, fundador da Microsoft, está gastando boa parte de sua fortuna – a segunda maior do mundo – em projetos filantrópicos. Mas o que a Bill and Melinda Gates Foundation estaria fazendo com a sua dotação de US$ 33,5 bilhões de dólares?
A cada ano, ela repassa pelo menos US$ 1,5 bilhão a projetos focados, sobretudo, em saúde pública global e na redução da pobreza extrema na África. Parte de seus beneficiários são iniciativas convencionais, como a promoção de campanhas de vacinação ou de distribuição de contraceptivos, a pesquisa de uma vacina contra o HIV/Aids, o apoio a iniciativas de microcrédito, como o pioneiro Banco Grameen, de Bangladesh, e o Promujer, em vários países da América Latina. Outras iniciativas são extremamente inovadoras e beiram a ficção científica. Dois projetos se destacam pelo seu potencial revolucionário e pela forma como estão sendo articulados:
- A privada autossuficiente geradora de energia – a Fundação está patrocinando o desenvolvimento de um vaso sanitário que dispense a infraestrutura de água e esgoto e que também não recorra à perfuração de uma fossa séptica. Ele deverá esterilizar e pulverizar as fezes e evaporar a urina, gerando quatro produtos – água limpa, sal, uréia, que pode ser usada c0mo fertilizante, e energia suficiente para carregar um telefone celular a cada evacuação. A meta é que o sistema tenha um custo de no máximo 5 centavos de dólar diários por usuário. Oito universidades receberam recursos para desenvolver protótipos no que foi batizado de Reinvent de Toilet Challenge, o desafio de reinvenção do toalete. Cada uma delas está testando tecnologias diferentes que vão disputar repasses futuros. A equipe de Georgios Stefanidis da Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda, propõe o uso de microondas no tratamento dos excrementos. Já os cientistas da Universidade de Kwazulu-Natal, na África do Sul, estão estudando a mineralização dos efluentes em banheiros comunitários. Na Universidade de Toronto, pesquisadores estão tentando desidratar e queimar as fezes e filtrar a urina. Eu aposto minhas fichas na proposta de Michael Hoffman, do California Institute of Technology – um banheiro doméstico acoplado a um coletor solar, capaz de tratar os esgotos e gerar hidrogênio, que pode ser estocado e usado para alimentar o sistema à noite. Se os cientistas realmente encontrarem um meio de construir privadas baratas, de fácil manutenção e que possam até gerar uma renda, 2,6 bilhões de pessoas que hoje não têm acesso ao saneamento seriam enormemente beneficiadas.
- A mandioca vitaminada – O projeto Biocassava Plus, coordenado pelo Donald Danforth Plant Science Center, está buscando desenvolver uma mandioca transgênica que tenha alto teor proteico, vitaminas A e E, ferro e zinco, além de um baixo teor de cianeto, subtância tóxica presente na raiz. A Gates Foundation também quer que essa mandioca superpoderosa possa ser estocada por até duas semanas e que seja resistente a virus. A mandioca é um dos principais alimentos da África Sub-Sahariana e o seu enriquecimento poderia ser decisivo para a redução da desnutrição crônica da região. Também poderia, claro, ser incorporada à dieta dos brasileiros. Oito instituições de pesquisa estão envolvidas no projeto, algumas delas associadas aos governos do Quênia e da Nigéria. Na primeira etapa do projeto, iniciado há cinco anos, os pesquisadores conseguiram desenvolver uma mandioca com 30 vezes mais beta-caroteno, quatro vezes mais ferro e quatro vezes mais proteína que as variedades tradicionais. Aqui, importante destacar que o Donald Danforth Plant Science Center é ligado não só a várias universidades americanas mas também à Monsanto e que a tecnologia dos transgênicos ainda é nova e divide opiniões. Mesmo assim, é bom lembrar que o conhecimento gerado está sendo compartilhado por várias instituições públicas e que o potencial transformador da iniciativa é imenso.
Finalmente, para encerrar: a iniciativa de Bill Gates está fazendo escola. O trilionário coordena uma campanha que já convenceu mais de 80 multimilionários americanos a doarem mais da metade de seus recursos em vida ou em testamento para projetos sociais. É uma dinheirama capaz de mudar radicalmente a forma como lidamos com os principais problemas da Humanidade.[:en]
Não é novidade que Bill Gates, fundador da Microsoft, está gastando boa parte de sua fortuna – a segunda maior do mundo – em projetos filantrópicos. Mas o que a Bill and Melinda Gates Foundation estaria fazendo com a sua dotação de US$ 33,5 bilhões de dólares?
A cada ano, ela repassa pelo menos US$ 1,5 bilhão a projetos focados, sobretudo, em saúde pública global e na redução da pobreza extrema na África. Parte de seus beneficiários são iniciativas convencionais, como a promoção de campanhas de vacinação ou de distribuição de contraceptivos, a pesquisa de uma vacina contra o HIV/Aids, o apoio a iniciativas de microcrédito, como o pioneiro Banco Grameen, de Bangladesh, e o Promujer, em vários países da América Latina. Outras iniciativas são extremamente inovadoras e beiram a ficção científica. Dois projetos se destacam pelo seu potencial revolucionário e pela forma como estão sendo articulados:
- A privada autossuficiente geradora de energia – a Fundação está patrocinando o desenvolvimento de um vaso sanitário que dispense a infraestrutura de água e esgoto e que também não recorra à perfuração de uma fossa séptica. Ele deverá esterilizar e pulverizar as fezes e evaporar a urina, gerando quatro produtos – água limpa, sal, uréia, que pode ser usada c0mo fertilizante, e energia suficiente para carregar um telefone celular a cada evacuação. A meta é que o sistema tenha um custo de no máximo 5 centavos de dólar diários por usuário. Oito universidades receberam recursos para desenvolver protótipos no que foi batizado de Reinvent de Toilet Challenge, o desafio de reinvenção do toalete. Cada uma delas está testando tecnologias diferentes que vão disputar repasses futuros. A equipe de Georgios Stefanidis da Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda, propõe o uso de microondas no tratamento dos excrementos. Já os cientistas da Universidade de Kwazulu-Natal, na África do Sul, estão estudando a mineralização dos efluentes em banheiros comunitários. Na Universidade de Toronto, pesquisadores estão tentando desidratar e queimar as fezes e filtrar a urina. Eu aposto minhas fichas na proposta de Michael Hoffman, do California Institute of Technology – um banheiro doméstico acoplado a um coletor solar, capaz de tratar os esgotos e gerar hidrogênio, que pode ser estocado e usado para alimentar o sistema à noite. Se os cientistas realmente encontrarem um meio de construir privadas baratas, de fácil manutenção e que possam até gerar uma renda, 2,6 bilhões de pessoas que hoje não têm acesso ao saneamento seriam enormemente beneficiadas.
- A mandioca vitaminada – O projeto Biocassava Plus, coordenado pelo Donald Danforth Plant Science Center, está buscando desenvolver uma mandioca transgênica que tenha alto teor proteico, vitaminas A e E, ferro e zinco, além de um baixo teor de cianeto, subtância tóxica presente na raiz. A Gates Foundation também quer que essa mandioca superpoderosa possa ser estocada por até duas semanas e que seja resistente a virus. A mandioca é um dos principais alimentos da África Sub-Sahariana e o seu enriquecimento poderia ser decisivo para a redução da desnutrição crônica da região. Também poderia, claro, ser incorporada à dieta dos brasileiros. Oito instituições de pesquisa estão envolvidas no projeto, algumas delas associadas aos governos do Quênia e da Nigéria. Na primeira etapa do projeto, iniciado há cinco anos, os pesquisadores conseguiram desenvolver uma mandioca com 30 vezes mais beta-caroteno, quatro vezes mais ferro e quatro vezes mais proteína que as variedades tradicionais. Aqui, importante destacar que o Donald Danforth Plant Science Center é ligado não só a várias universidades americanas mas também à Monsanto e que a tecnologia dos transgênicos ainda é nova e divide opiniões. Mesmo assim, é bom lembrar que o conhecimento gerado está sendo compartilhado por várias instituições públicas e que o potencial transformador da iniciativa é imenso.
Finalmente, para encerrar: a iniciativa de Bill Gates está fazendo escola. O trilionário coordena uma campanha que já convenceu mais de 80 multimilionários americanos a doarem mais da metade de seus recursos em vida ou em testamento para projetos sociais. É uma dinheirama capaz de mudar radicalmente a forma como lidamos com os principais problemas da Humanidade.