Por meio de elementos lúdicos, fica mais fácil e eficaz tratar de assuntos sérios como aquecimento global
A sustentabilidade é coisa séria – para as empresas que desenvolvem projetos para diminuir seu impacto ambiental, para os governos que investem em redução de emissão de carbono e para os indivíduos que entendem a importância de sua pegada ecológica. Mas, muitas vezes brincando é que um assunto tão grave como o do aquecimento global pode ser melhor compreendido.
Um deles foi desenvolvido pela empresa Fabiano Onça Games para a Plataforma Empresas pelo Clima (EPC), do GVces. Chamado “Celsius – o Desafio dos 2 Graus”, cada jogador representa uma empresa fictícia que deve promover iniciativas e votar leis para reduzir as emissões de carbono. O objetivo é evitar que a temperatura da Terra aumente em 2o C. Se isso acontecer, o planeta “frita” e todos os jogadores perdem. Se todo o carbono for “limpo” do tabuleiro antes do termômetro chegar no pico, ganha o jogador que criou mais valor em sua empresa.
O jogo foi usado em uma oficina entre as empresas do EPC para discutir a importância da articulação. Com o jogo, perceberam como é importante a comunicação e o trabalho em conjunto para tomar decisões que impactam dentro e fora do seu próprio universo corporativo e no clima a Terra. (Assista ao vídeo abaixo, gravado no dia da oficina).
Segundo José Onça, mestre em educação e um dos responsáveis pelo jogo, usando o lúdico para passar uma mensagem, aprendemos facilmente porque nesse momento estamos relaxados e imersos em uma atividade que nos remete ao bem-estar. “As pessoas deixam a racionalidade de lado. É momento de aprendizado, mas que só depois gera uma reflexão mais profunda. É mais eficaz do que se estivessem lendo os conceitos em um livro”, diz.
Para Fabiano Onça, filho de José e que também desenvolveu o jogo, a grande qualidade do lúdico é que a brincadeira abre o coração e tira a defesa das pessoas. Por isso funciona para trazer entendimento a uma nova mensagem. “Desde criança, gostamos de brincar, está no nosso interior. Só que, no dia a dia, nos tornamos muito racionais e não damos espaço a esse prazer”. Fabiano é mestre em Comunicação e atualmente faz doutorado sobre Jogos e Comunicação.
Ele afirma que a rotina de trabalho exige uma postura racional, e por isso, absorvemos informação sem questionamentos. “Quando estamos em um jogo, os elementos lúdicos nos tiram do marasmo convencional e prestamos mais atenção ao que está ao nosso redor”.
A dupla já fez outros jogos educativos, como o “Tchibum na Lagoa”, feito em 2010 como parte de uma linha de produtos infantis da Natura. O jogador passeia com um barquinho pela lagoa (tabuleiro) e recolhe lixo (peças soltas). Quando uma certa quantidade é tirada, patos, jacarés ou peixes têm o direito de voltar ao seu habitat natural.
Ao contrário da maioria dos jogos em que o vencedor é quem faz mais ou melhor, nesse a solidariedade é obrigatória, afinal, o objetivo de limpar a lagoa é comum. Ou todos ganham ou todos perdem.
Solidariedade e diversão
Esse tipo de jogo, chamado cooperativo, é uma nova tendência. Segundo Fabiano, tem a ver com o próprio conceito de ecologia. “Como você faz uma brincadeira de competição se o assunto envolve a todos?” Por isso, mais importante do que ter um vencedor é mostrar que a solidariedade é necessária. Também não se deve eliminar os jogadores ao longo da partida. Ficar olhando de fora, só aumenta o individualismo.
Crianças têm diferentes estágios no crescimento: até os seis anos, querem jogar a qualquer custo. Entre os seis e dez fazem questão de seguir as regras e são rigorosas. Mas colaboram. “É a fase conhecida na pedagogia por “descentração”, em que elas saem do olhar de si e passam a aprender a viver em sociedade”, explica José. É nessa fase que os jogos cooperativos são mais eficazes.
Duas características para que um jogo educativo seja eficaz são: diversão e informação na medida certa. “A brincadeira deve estar atrelada a um prazer genuíno do indivíduo e ser, acima de tudo, legal. Se não for, não faz sentido existir” , explica Fabiano. O segundo ponto é que, apesar de ser uma ferramenta de educação, não deve se propor a passar muitos conceitos. Ou ficará complexo e chato. “Precisa ter, no máximo, três conceitos principais e um objetivo claro. Não dá para querer enfiar ensinamento na cabeça de uma pessoa. É preciso respeitar a capacidade de cada um de aprender e absorver”, completa.
Jogos educativos devem ser rápidos. Não adianta ter fôlego para durar cinco dias. “Ainda mais no caso das crianças, elas devem ser cativadas instantaneamente. Ao contrário dos adultos, não têm o tempo da paciência para aprender e gostar depois”, diz Fabiano.
Ele explica que é importante darmos espaço a esses jogos como ferramentas de aprendizado e de novas experiências, principalmente porque nossa sociedade não está à vontade em valorizar o lúdico e a atividade que dá prazer. “Vivemos uma cultura de que o trabalho é o que importa. Sem emprego, a pessoa é considerada vagabunda. Então, quem vai valorizar o lazer? Precisamos ter nosso tempo de apreciação da vida, de acalmar e de pensar. De brincar, mesmo sendo adultos”.