Uma nova geração de jovens chega ao mercado de trabalho e apresenta novos valores e competências para o cenário profissional
“Os jovens de hoje não querem se envolver com o empregador”. Se parássemos a citação por aqui, pareceria que foi alguma pessoa ranzinza que a falou enquanto reclamava da nova geração que chega ao mercado de trabalho. “O que eles querem é se comprometer”, complementa – e salva – a frase, Caio Tucunduva, diretor empresa de consultoria da Fesa.
Tucunduva explica que a atual geração de universitários e recém-formados prefere empresas e cargos relacionados a causas nas quais acredita e apoia. “Isso acontece principalmente com os serviços ligados à responsabilidade social e ambiental”, diz o diretor e caça-talentos.
Para sorte desses trabalhadores, empregos ligados à sustentabilidade têm crescido. As grandes empresas já possuem ações vinculadas ao tema – seja na gestão ambiental, responsabilidade social, seja no compromisso de publicar relatórios anuais de suas atividades corporativas. Então, expandem-se as ofertas por empregos na área. (Leia mais sobre o profissional de sustentabilidade na reportagem “Quem opera o novo sistema” da edição 69)
Essa geração que trabalha seguindo seus sonhos e valores éticos faz parte do grupo que cresceu e se formou de forma muito específica. É a chamada Geração Y, dos nascidos aproximadamente entre 1978 e 1995. Foram crianças que cresceram junto ao avanço de tecnologias e da internet, numa época em que uma relativa prosperidade econômica foi presenciada. Como resultado, temos hoje jovens que lidam com a hierarquia de forma mais flexível e não levam desaforo para casa. Trocar de emprego não é algo tão grave como era para seus pais.
Numa sociedade em que a informação está ao alcance de todos, a hierarquia mudou, diz Pâmela Saccon, pesquisadora de tendências, comportamento e consumo. O chefe não é mais aquele que “sabe mais” e, assim, as relações de trabalho estão mais horizontais. “Chefe e subordinado são tratados mais de “igual para igual” porque seus conhecimentos são somatórios”.
Pâmela explica que vivemos hoje em um mundo em que as personalidade são formadas a partir do “e” e não mais do “ou”. Há poucas décadas, as pessoas estudavam e se formavam em apenas uma área. “Hoje, o conhecimento está em toda parte, não apenas na escola e na academia. O seu conhecimento se soma ao do seu chefe”.
Pâmela participou da elaboração do estudo O Sonho Brasileiro, publicado no final de 2011. Jovens entre 18 e 24 anos foram consultados para que se entendesse quem são, o que querem e o que pensam do Brasil e do mundo. (Acesse o estudo)
SONHO COLETIVO
Segundo a pesquisa, os jovens da década de 1980 e 1990 eram mais individualistas comparados com os dos anos 60 e 70, que lutavam por ideais de um mundo melhor, pela democracia entre outras bandeiras. Já os jovens pós anos 2000 retomaram a valorização dos discursos coletivos, mas conservam o individualismo. Entre os entrevistados, 59% concordam que têm que pensar em si antes de pensar nos outros, porém, 77% afirma que o seu bem-estar depende do bem estar da sociedade onde vive.
Em relação ao engajamento, 74% dos brasileiros se sentem “na obrigação de fazer algo pelo coletivo no seu dia a dia” e 79% concordariam em usar parte do tempo livre para ajudar o próximo.
Para Tucunduva, essa geração cheia de opinião e pró-atividade não aceita qualquer proposta e escolhe bem quem vai assinar sua carteira de trabalho. Uma vez empregado, não abaixa a cabeça e se demite com mais facilidade. “Falta um pouco de resiliência nesse jovem, esse é o principal problema”. Já Pâmela, acredita que as empresas terão que se moldar porque esses jovens de hoje serão os gerentes, diretores e executivos de amanhã. E muito vai mudar.
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