A diminuição no ritmo do aquecimento global não é motivo para deixar de investir pesado em mitigação e adaptação
É consenso entre a comunidade científica que testemunhamos, na última década, um arrefecimento na elevação da temperatura em relação ao aumento das emissões de CO2.
A variabilidade da temperatura no planeta em períodos curtos é natural, e por essa razão as medições para verificar de forma confiável tal crescimento são feitas tendo como parâmetro, no mínimo, dez anos. E o que se percebe é que nesta última década houve uma variação menor do que a prevista pelos modelos climáticos.
A revista britânica The Economist publicou recentemente reportagem sobre o tema, abordando algumas linhas de investigação científica que apontam explicações possíveis. A que parece ter maior respaldo entre a comunidade científica é a de Kevin Trenberth, do America’s National Centre for Atmospheric Research, que pontua que o arrefecimento da temperatura em relação ao crescimento das emissões de CO2 seria motivado pelo aquecimento do fundo do oceano. Cerca de 30% do aquecimento do oceano nestes dez anos passados aconteceu abaixo de 700 metros de profundidade.
Existem outras hipóteses, relacionadas aos efeitos dos aerossóis e das nuvens. Segundo Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e membro do Painel do Clima da ONU (IPCC), uma pequena variação na cobertura de nuvens pode ter grande influência na temperatura da superfície. No entanto, as medidas de cobertura de nuvens feitas por satélite ainda não possuem a precisão necessária, uma vez que seu alcance é limitado. As nuvens continuam sendo importante incógnita do sistema climático, como também os aerossóis. “Essas variáveis que têm aparecido e influenciam nos modelos climáticos e na projeção de cenários demonstram que estamos progredindo na compreensão científica da questão, mas longe do pleno entendimento de como o sistema climático funciona.”
Mesmo em relação ao fundo dos oceanos, Artaxo aponta que ainda não há mensuração adequada: “As medidas de temperatura em áreas continentais são muito completas, mas nas regiões oceânicas há poucas boias (usadas na medição), embora elas já mostrem um aquecimento forte da porção mais profunda nos últimos 20 a 30 anos.”
Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), avalia que a taxa de incremento da temperatura média da última década diminuiu [1]. Mas a temperatura da Terra continua subindo, assegura Nobre. “Demorou 10 mil anos para a Terra aquecer 5 graus. E já aquecemos 1 grau em 100 anos. É uma enorme mudança climática que causamos.”
[1] Entre 1993 e 2002 a temperatura subiu quase 0,2 grau em relação à década anterior, e entre 2003 e 2012 ficou pouco acima de 0,1
O IPCC trabalha com cenários de projeção do aumento da temperatura no caso de atingirmos o dobro da concentração de CO2 (e outros gases) em relação aos níveis observados antes da Revolução Industrial. Essa projeção é conhecida como “sensibilidade climática”, e hoje o Painel do Clima considera uma possibilidade de variação de até 7 graus.
“Mesmo no caso de projeções de sensibilidade climática menores, de 1 ou 2 graus, já temos um grande impacto, com o recrudescimento da severidade das secas, das chuvas, a elevação do nível do mar. Portanto, serão necessárias também ações de adaptação em larga escala”, completa Nobre.
Essa questão desperta para a relação dos dois “lados da moeda” da mudança climática: mitigação e adaptação. Com a sensibilidade climática mais baixa, se a temperatura não subir muito em relação ao aumento de CO2, seria eficiente investir mais em adaptação e menos em mitigação?
Carolina Dubeux, pesquisadora sênior do Centro Clima, da Coppe/UFRJ, e membro do capítulo sobre Economia da Adaptação do Grupo II do IPCC, sugere iniciar os investimentos por aquilo que apresenta ganhos nos dois lados (win-win situation), que conjuga sustentabilidade e resiliência (mitigação e adaptação). “São as estratégias de não arrependimento (no-regret strategies). Educar os povos aumenta sua resiliência e permite que se desenvolvam de maneira mais sustentável.
Aumentar a eficiência energética reduz a necessidade de investimentos adicionais em oferta de hidreletricidade, levando a menos desmatamento, o que é bom para o clima, bom para os ecossistemas, bom para as populações ribeirinhas e bom para o bolso. Não faltam exemplos, principalmente aplicáveis em países em desenvolvimento, onde há muita coisa por ser feita.” (mais sobre o tema no cartum da seção Última)
“Precisamos de muito mais pesquisas para entender completamente como funciona o sistema climático terrestre. Existem gaps de conhecimento muito significativos nessa área”, afirma Artaxo. “Esperar que os modelos climáticos e as medidas associadas a um parâmetro termodinâmico tão complexo como a temperatura oscilem sempre juntos, em uma variável de 1 para 1, não é razoável.” A diminuição no ritmo do aquecimento global não é motivo para deixar de investir pesado em mitigação e adaptação
É consenso entre a comunidade científica que testemunhamos, na última década, um arrefecimento na elevação da temperatura em relação ao aumento das emissões de CO2.
A variabilidade da temperatura no planeta em períodos curtos é natural, e por essa razão as medições para verificar de forma confiável tal crescimento são feitas tendo como parâmetro, no mínimo, dez anos. E o que se percebe é que nesta última década houve uma variação menor do que a prevista pelos modelos climáticos.
A revista britânica The Economist publicou recentemente reportagem sobre o tema, abordando algumas linhas de investigação científica que apontam explicações possíveis. A que parece ter maior respaldo entre a comunidade científica é a de Kevin Trenberth, do America’s National Centre for Atmospheric Research, que pontua que o arrefecimento da temperatura em relação ao crescimento das emissões de CO2 seria motivado pelo aquecimento do fundo do oceano. Cerca de 30% do aquecimento do oceano nestes dez anos passados aconteceu abaixo de 700 metros de profundidade.
Existem outras hipóteses, relacionadas aos efeitos dos aerossóis e das nuvens. Segundo Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e membro do Painel do Clima da ONU (IPCC), uma pequena variação na cobertura de nuvens pode ter grande influência na temperatura da superfície. No entanto, as medidas de cobertura de nuvens feitas por satélite ainda não possuem a precisão necessária, uma vez que seu alcance é limitado. As nuvens continuam sendo importante incógnita do sistema climático, como também os aerossóis. “Essas variáveis que têm aparecido e influenciam nos modelos climáticos e na projeção de cenários demonstram que estamos progredindo na compreensão científica da questão, mas longe do pleno entendimento de como o sistema climático funciona.”
Mesmo em relação ao fundo dos oceanos, Artaxo aponta que ainda não há mensuração adequada: “As medidas de temperatura em áreas continentais são muito completas, mas nas regiões oceânicas há poucas boias (usadas na medição), embora elas já mostrem um aquecimento forte da porção mais profunda nos últimos 20 a 30 anos.”
Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), avalia que a taxa de incremento da temperatura média da última década diminuiu [1]. Mas a temperatura da Terra continua subindo, assegura Nobre. “Demorou 10 mil anos para a Terra aquecer 5 graus. E já aquecemos 1 grau em 100 anos. É uma enorme mudança climática que causamos.”
[1] Entre 1993 e 2002 a temperatura subiu quase 0,2 grau em relação à década anterior, e entre 2003 e 2012 ficou pouco acima de 0,1
O IPCC trabalha com cenários de projeção do aumento da temperatura no caso de atingirmos o dobro da concentração de CO2 (e outros gases) em relação aos níveis observados antes da Revolução Industrial. Essa projeção é conhecida como “sensibilidade climática”, e hoje o Painel do Clima considera uma possibilidade de variação de até 7 graus.
“Mesmo no caso de projeções de sensibilidade climática menores, de 1 ou 2 graus, já temos um grande impacto, com o recrudescimento da severidade das secas, das chuvas, a elevação do nível do mar. Portanto, serão necessárias também ações de adaptação em larga escala”, completa Nobre.
Essa questão desperta para a relação dos dois “lados da moeda” da mudança climática: mitigação e adaptação. Com a sensibilidade climática mais baixa, se a temperatura não subir muito em relação ao aumento de CO2, seria eficiente investir mais em adaptação e menos em mitigação?
Carolina Dubeux, pesquisadora sênior do Centro Clima, da Coppe/UFRJ, e membro do capítulo sobre Economia da Adaptação do Grupo II do IPCC, sugere iniciar os investimentos por aquilo que apresenta ganhos nos dois lados (win-win situation), que conjuga sustentabilidade e resiliência (mitigação e adaptação). “São as estratégias de não arrependimento (no-regret strategies). Educar os povos aumenta sua resiliência e permite que se desenvolvam de maneira mais sustentável.
Aumentar a eficiência energética reduz a necessidade de investimentos adicionais em oferta de hidreletricidade, levando a menos desmatamento, o que é bom para o clima, bom para os ecossistemas, bom para as populações ribeirinhas e bom para o bolso. Não faltam exemplos, principalmente aplicáveis em países em desenvolvimento, onde há muita coisa por ser feita.” (mais sobre o tema no cartum da seção Última)
“Precisamos de muito mais pesquisas para entender completamente como funciona o sistema climático terrestre. Existem gaps de conhecimento muito significativos nessa área”, afirma Artaxo. “Esperar que os modelos climáticos e as medidas associadas a um parâmetro termodinâmico tão complexo como a temperatura oscilem sempre juntos, em uma variável de 1 para 1, não é razoável.”