Em meio a tantas notícias compartilhadas nas redes sociais, o papel do jornal impresso é revisto em um mundo em que as informações circulam rapidamente. O leitor também mudou. As novas gerações buscam de informação em sites que não são a fonte primária e ainda assim, é preciso entender esse mercado consumidor e abastece-lo.
O jornal Valor Econômico está ciente das transformações na indústria jornalística e avalia novos modelos de negócio. Em entrevista por email a PÁGINA22, Raquel Ballarin, diretora de conteúdo digital, e Ricardo Pacnkess, diretor de marketing, avaliam os erros das empresas jornalísticas que chegaram ao meio digital entregando todo seu conteúdo de forma gratuita e, assim, desvalorizaram sua principal matéria prima. E os acertos das que estão, como eles, planejando como atender os leitores de forma mais personalizada. Leia a entrevista na íntegra.
Nos últimos meses diversos veículos diminuíram as equipes editoriais. Esses enxugamentos podem ser atribuídos a um impacto da revolução digital das últimas décadas e das redes sociais? Qual o impacto desses adventos no negócio da comunicação?
Ricardo Packness: Sou otimista com relação ao futuro do jornalismo. O que estamos vivendo, sem dúvida, é um momento de transição da indústria jornalística, que busca um novo modelo de negócios. A circulação de jornais impressos é declinante, mas, por outro lado, nunca se consumiu tanta notícia no país e no mundo, seja em meios digitais ou em redes sociais.
O que não se sabe ainda é como recuperar, nesses novos meios de distribuição, a receita que deixa de ser obtida com o jornal impresso. Houve um erro de origem: as empresas jornalísticas começaram no meio digital entregando seu conteúdo de forma gratuita. Desvalorizaram sua principal matéria prima. Agora, tentam novas formas de gerar receita, como o paywall [cobrança pelo acesso aos textos digitais], mostrando que a produção de conteúdo de qualidade custa caro. Ainda leva um tempo para se chegar a um equilíbrio.
O caminho é longo. Mas o importante é que sempre haverá espaço para jornalismo de qualidade. Com a atual profusão de informações, o trabalho de curadoria realizado pelo jornalista torna-se ainda mais importante. É preciso, porém, que o jornalista entenda a nova dinâmica: o caminho não é mais unilateral. Os leitores opinam, interagem, discutem no Facebook ou no Twitter. Também é preciso entender que as redes sociais não são concorrentes dos jornalistas, como cheguei a ouvir. As redes são fontes de informação, são termômetros, um espaço totalmente novo e complementar.
As novas gerações continuarão lendo jornais e revistas como no passado recente e serão fiéis a títulos de seu interesse, ou cada vez mais buscarão informações via sites e redes sociais, de forma fragmentada e sem fidelização a determinado veículo?
Raquel Ballarin: Temos que analisar a necessidade que leva o leitor a consumir uma notícia. A tendência é que as novas gerações se abasteçam da informação primária nas redes sociais e em sites genéricos. Mas esse público também buscará aprofundamento daquilo que despertou seu interesse. Essa necessidade poderá levá-lo a outros meios.
Que projeções o jornal Valor Econômico faz sobre o mercado consumidor?
Raquel Ballarin: O consumidor de hoje é bombardeado por uma série de informações, algumas das quais ele nem precisa. E essa é uma tendência. O papel dos veículos no futuro é, conhecendo profundamente seu público, seus hábitos e suas necessidades, fornecer as informações relevantes para cada tipo de leitor/consumidor de seus serviços. As diversas ferramentas disponíveis atualmente permitem aos gestores de conteúdo ter mais conhecimento e, assim, buscar atender suas necessidades individuais. Estamos trabalhando em um cenário em que o consumidor poderá escolher que tipo de serviço deseja consumir. Pode ser até um mesmo consumidor, em diferentes momentos de interesse.
Estamos prevendo três estágios de produtos, do ponto de vista de conteúdo: Gratuito, para a grande massa, com pouco detalhamento e altamente informativo; Custo médio, com algum detalhamento para um público que necessita de alguma análise e interpretação; Custo alto, serviços especializados e segmentados para um público especial e profissional.
A publicidade focará também na seletividade da audiência. Irá desenvolver campanhas para as massas, de produtos de alto consumo. As mídias impressas e eletrônicas tenderão a oferecer maior capacidade de segmentação, sem que isso signifique elitização.
Entregaremos ao anunciante consumidores mais próximos de seus produtos e serviços que as mídias de massa, evitando dispersão e permitindo o desenvolvimento de campanhas focadas e dirigidas a determinados perfis. Esse será um importante diferencial que os veículos deverão perseguir.
Outra parte importante do novo modelo de negócio serão receitas advindas de novos serviços que os veículos poderão prestar, baseados em seu expertise, em sua base de clientes etc.
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