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O professor, economista, político e diplomata brasileiro, Antônio Delfim Netto (1928-2024), concedeu entrevista memorável aos jornalistas Amália Safatle e José Alberto Gonçalves, para a edição de maio de 2013. Nela, Delfim foi procurado para analisar o pensamento do economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994), considerado o pai da Economia Ecológica, que propôs nos anos 1970 uma visão do sistema econômico centrada na Termodinâmica.

A entrevista, que se torna acalorada, acaba explorando o conceito de desenvolvimento, os limites planetários ao crescimento dos países e as regulações globais da agenda multilateral pela sustentabilidade. Com o argumento de que a tecnologia resolverá os problemas ambientais e climáticos de cada país, ele parece se irritar com os questionamentos, acusa a sustentabilidade de impor valores que remetem à Idade da Pedra e diz que tem “chão pra burro” até o Sol apagar.

Na bela casa ajardinada do bairro paulistano do Pacaembu, onde Antonio Delfim Netto trabalha, a passarinhada não dá trégua. Ao transcrever esta entrevista, é possível ouvir a cantoria ao fundo, no gravador, a cada vez que a voz do professor se amansa. A temática ambiental acalorou esta conversa algumas vezes, motivada por uma inspiração quase esquecida: Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994), o matemático e economista romeno considerado pai da Economia Ecológica, homenageado recentemente na FEA-USP, com a participação de Delfim. Na ocasião, foi lançada a versão brasileira do livro O Decrescimento – Entropia – Ecologia – Economia (Ed. Senac), com prefácio do professor José Eli da Veiga.

Contemporâneo de Delfim Netto em uma passagem pela FEA, Georgescu lançou a ideia de que a economia depende da capacidade de recarga da natureza e dos limites ecológicos. Portanto, não poderia ser distanciada das Ciências Naturais e muito menos estaria imune à Segunda Lei da Termodinâmica, que trata da entropia.

Delfim, que nesta entrevista considera um erro crasso interpretar que Georgescu rebateu o crescimento econômico, acredita na contínua capacidade do homem de adaptar aos desafios ambientais criando tecnologias que empurrem para mais longe as dificuldades. Até a entropia mostrar que, por maiores que sejam os truques, o mundo caminha para a finitude. Mas, até lá, diz ele, “tem chão pra burro”. Para Delfim, Georgescu foi banido especialmente por não acreditar em instrumentos da economia neoclássica, que se tornou mainstream – assim como o “velho Marx”, que foi alijado do sistema por “dizer algumas verdades”.

Crescem os exemplos de desmaterialização da economia. No entanto, a extração de recursos e a pegada ecológica continuam em franca…

Por Amália Safatle Refém do próprio triunfo evolutivo, acelerado pela tecnociência, o homem corre o risco de perder suas características…