Para evitar a ocupação desordenada, o desmatamento e a grilagem que normalmente se apoderam do entorno de rodovias na Amazônia, o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam) lançou a campanha por uma ferrovia no estado.
A idéia é que a ferrovia seja instalada sobre o traçado da BR-319 (Manaus-Porto Velho). Concluída em 1973, a rodovia nunca passou por reformas profundas, enquanto se teme que o asfaltamento completo induza à destruição da fl oresta em um dos estados mais preservados da Amazônia legal.
“A ferrovia cria um ambiente muito mais controlado. Ao contrário das rodovias, onde o acesso é livre, não estimula a ramifi cação de estradas vicinais. Afi nal, porque as pessoas ocupariam o entorno da ferrovia se o trem pára em apenas dois ou três pontos?”, defende Mariano Cenamo, secretário-executivo do Idesam.
Segundo estimativa do Ministério do Meio Ambiente, entre as década de 70 e de 90, cerca de 75% do desfl orestamento na região ocorreu nos arredores das rodovias pavimentadas. A constatação do problema levou
o MMA a lançar, em 2003, o plano BR-163 Sustentável, para promover o asfaltamento da estrada que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA) de modo controlado, com a criação de áreas protegidas e regularização fundiária no entorno.
Cenamo descarta o mesmo modelo para a BR-319: “O plano era muito bom, mas não gerou resultados práticos. É só você ver o caso de municípios como Novo Progresso (MT), que está no entorno da BR-163 e também entre os principais desmatadores”. A ferrovia custaria cerca de R$ 1,3 bilhão a mais que a reforma da rodovia. Segundo o Idesam, o preço poderia ser compensando com a venda de créditos de carbono pelo desmatamento evitado, que resultaria em 760 milhões de toneladas de CO2. A venda poderia gerar, no mercado voluntário de créditos, R$ 4,5 bilhões.