Por Amália Safatle
Com largo histórico no ramo da agroindústria, o empresário Luiz Fernando Furlan hoje se diz um defensor da Amazônia. Questionado sobre outros biomas, como o Cerrado, é menos enfático, ao mesmo tempo que reconhece a ameaça dos biocombustíveis à região. Ainda assim afirma ter abraçado a causa da sustentabilidade – posição que a seu ver não poderia tomar enquanto ocupou o posto de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – de 2003 a 2007 – e precisou lutar contra o que chama de empecilhos ao crescimento.
Anunciado originalmente como presidente da Fundação Amazonas Sustentável, está à frente do conselho de administração da entidade. A função executiva ficou a cargo de Virgílio Viana, que para isso deixou a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do estado. O trabalho com a Fundação, alega Furlan, traz grande satisfação pessoal, pois permite realizar o sonho de muitos: proteger ao menos uma parte da floresta, que tanto concentra a atenção mundial.
Por Amália Safatle
Após deixar o governo, o senhor disse ter abraçado a causa da sustentabilidade. Teria sido possível abraçá-la enquanto estava no governo como ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior?
Não.
Por quê?
Porque são papéis diferentes. O trabalho no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior implica tarefas de abrir mercados e promover produtos, buscar produtividade, estimular empresas a crescer, a inovar, a lutar contra empecilhos. De certa forma, vejo com grande prazer que a equipe da ministra Marina Silva começa a convergir com isso, sabendo que desenvolvimento e conservacionismo têm de andar juntos, e que são duas peças da mesma equação para fazer um Brasil melhor. Fiquei muito contente de ver que a Marina e sua equipe começam a olhar a realidade e não a utopia. A realidade está aí, tem gente desempregada, tem muita gente passando fome por falta de oportunidade.
Antes a visão dela era muito preservacionista?
É claro que cada um, quando vai para o governo, leva a sua bagagem anterior, seus ideais. Acho que essa convivência com bons colegas acaba conduzindo a uma troca. Um processo de osmose, em que você absorve dos outros e os outros absorvem de você. Mas esse foi um dos fatores. O fator anterior é que, desde o começo, coloquei como prioridade levar adiante o processo de desenvolvimento do pólo industrial de Manaus. E aí entendi que o modelo de desenvolvimento criado nos anos 50 para a Amazônia originou um espírito preservacionista. Como os empregos foram criados no distrito industrial, todos os jovens deixaram de buscar na floresta um meio de sobrevivência – os que podiam. Com isso, o Amazonas hoje tem 96% de área preservada e em cinco anos foi possível dobrar o número de empregos no pólo industrial. E, a partir disso, nós implantamos o Centro de Tecnologia da Amazônia, que visa utilizar a biodiversidade, registrar propriedade intelectual e gerar produtos que possam criar valor para a população de lá, e dar emprego sem destruir a floresta. São corantes vegetais, cosméticos, óleos essenciais, produtos fitoterápicos. Nesses cinco anos (no governo) fui muitas vezes ao Amazonas e passei a fazer pelo menos uma reunião por ano em cada estado (da Região Amazônica).
Mas, assim como a ministra Marina Silva, que a seu ver mostra ter sensibilidade agora, as outras partes do governo também têm essa sensibilidade com ela?
É claro que existe uma divisão no governo, entre pessoas que estão preocupadas com a economia, com o desenvolvimento, e outras que têm uma preocupação com saúde, com educação, com meio ambiente – que são áreas importantes e produzem efeitos de longo prazo. Enquanto isso, outros dizem: “Bom, o Copom (Comitê de Política Monetária) se reuniu, tomou uma decisão, a Bolsa subiu, a Bolsa caiu”. No fim do dia, é possível medir o que está acontecendo, se foi bem recebido, mal recebido.
Mas o empresariado também sempre fala que tem uma visão de longo prazo, que trabalha com uma visão de futuro, não é?
O que eu posso falar é que a minha decisão de aceitar o desafio de ir para o governo foi amadurecida numa fase da vida em que eu já tinha quase 40 anos de trabalho no setor privado. Então cheguei à conclusão de que era um momento adequado para fazer alguma coisa que não fosse ganhar dinheiro, ser empresário, executivo. Então fui com essa ambição de contribuir para o início de uma fase de prosperidade no Brasil. Hoje há um razoável consenso de que esse ciclo de prosperidade foi iniciado. Na virada do ano de 2005, esse ciclo já era visível. E essa nova iniciativa (a criação da Fundação Amazonas Sustentável) vem nesse escopo. Viajei muito ao exterior como ministro e me preocupei sempre bastante com a imagem que o Brasil tem, a imagem enfática da trilogia samba-café-Pelé e seus derivados. E acho que uma vulnerabilidade que temos hoje é a questão do meio ambiente. Nós somos um bom exemplo de conservação. No mundo, por onde andei, nós nos classificamos positivamente em termos de legislação e de preservação do patrimônio ambiental.
É mesmo? Com toda a devastação de cima a baixo…
Com todo o noticiário negativo que nossos colegas periodistas adoram publicar, nós somos um bom exemplo.
Quem diz isso é gente que conhece o Brasil?
Eu vi uns mapas que comparavam como era o mundo no ano 1000 em cobertura florestal, e como era no ano 2000. A Europa tem 0,3% das florestas que tinha, a América do Norte, 19%, e o Brasil, 60%. Apesar de tudo. Quem viaja para a Amazônia de avião, se o avião for mais fraquinho, vê horas de florestas e água.
Então por que temos uma imagem de vulnerabilidade em meio ambiente?
Essa imagem tem fundamento. Muito devido a manejo, porque tem muita gente que queima, desmata e queima, ou queima pasto também para eliminar pragas e há também um conceito um pouco confundido do que são a Amazônia Legal e o bioma amazônico. Para efeito de incentivos fiscais, foi criada uma área chamada de Amazônia Legal. Então, Rondonópolis – que não tem nada a ver com Amazônia, é área de Cerrado, de agricultura – está lá. O grande celeiro agrícola, de crescimento de produção de algodão, de soja, de milho, está em Mato Grosso. Não estou justificando, não. Eu vi um grande desafio, de fazer com que haja um legado para os nossos netos, em manter essa grande reserva de florestas.
Voltando ao tema do governo. Quando se junta um ministério que objetiva a “produção” e um ministério que visa a preservação, busca-se um crescimento dentro de certos parâmetros, até porque esse desenvolvimento precisa ser sustentável. A idéia não é termos um boom na economia e, em seguida, um colapso, certo?
O ministério é parte da minha vida passada. Eu gostaria muito mais de falar do futuro.
Tenho aqui várias perguntas sobre o futuro também. Mas queria perguntar antes sobre a transversalidade…
Coisa que a Marina adora falar…
Então…
A primeira vez que ouvi falar em transversalidade foi em Brasília.
Que é o cerne de toda essa discussão…
Eu, que fui engenheiro, chamaria de estrutura matricial.
Vamos chamar, então, de “estrutura matricial”. Ela é possível no governo?
Isso, em uma empresa, ocorre no dia-a-dia, pois tem a área de produção, a de vendas, a de logística, a parte financeira. Essas coisas têm de trabalhar em conjunto. Infelizmente, equipes de governo não trabalham com esse conjunto por circunstâncias, em razão de credos políticos, de origens diferentes, ou porque não dá tempo de formar uma equipe com os mesmos objetivos. Existem as ambições políticas de cada um.
Hoje em dia, qual a sua familiaridade com o conceito de sustentabilidade? É um conceito novo para o senhor?
A empresa em que trabalhei, durante anos, enfrentou uma certa desvantagem competitiva em relação à concorrência, justamente por respeitar o meio ambiente. Desde as questões de reflorestamento, tratamento de água, efluentes, filtros em saídas de gases. Isso é o custo. Isso requer áreas dedicadas, pessoas envolvidas, especialistas. Em muitos momentos se debatia: por que uma empresa precisa fazer isso se os concorrentes não fazem? Sempre prevaleceu a idéia de que a empresa faz isso porque tem um compromisso com o meio ambiente, com as populações. E, mesmo que isso custe, o consumidor acaba sensibilizado por uma empresa que tem métodos que respeitam o meio ambiente. A Sadia ganhou vários prêmios no Brasil e no exterior por essa atitude. Então, vem de uma filosofia bem antiga: a de que não precisamos dilapidar o meio ambiente para progredir. Isso, desde os anos 70. Recentemente, a Sadia foi pioneira com o biogás. Vale a pena colocar de volta no rio uma água melhor que você captou.
E como esse exemplo pode se aplicar em um modelo de desenvolvimento para o País? Sair da relação privada entre empresa e consumidor e ir para uma política pública?
A parte de regulamentos e de política já existe. Quando você olha um imenso esforço para limpar o Rio Tietê, em São Paulo, projeto financiado pelo JBIC (Japan Bank For International Cooperation, banco japonês de desenvolvimento), e passa na Marginal (em São Paulo) e vê a sujeira caindo no rio, dá vontade de pôr um rolhão e inundar a casa ou a empresa de quem está jogando aquela porcariada. A sociedade brasileira é muito tolerante. Acha que a poluição é um pecado venial. É como andar na rua e ver veículos despejando um montão de CO2, fumaça preta, fuligem, competindo com caminhões com baixa taxa de emissão. É esse tipo de coisa que talvez dependa de uma política pública, de recolher veículos velhos, sucateados, e impor uma tecnologia mais amistosa ao meio ambiente.
Agora o senhor está à frente da Fundação Amazonas Sustentável, uma instituição privada com a missão de atuar em nome do interesse público. Como se dará essa operação?
Faço uma comparação com a Parceria Público-Privada. Porque a Fundação recebeu do governo do estado do Amazonas, em projeto aprovado em assembléia, uma concessão por 20 anos, para conservar 17 milhões de hectares. A concessão é renovável e, se for bem-sucedida, poderá ser exemplo para iniciativas iguais. Trata-se de uma área maior que a Inglaterra, para se ter uma idéia.
E o que vai acontecer nessa área?
Nós vamos trabalhar para que ela fique como está e que as populações ribeirinhas sejam assistidas, de forma que sejam nossas aliadas, para que a floresta fique intocada, e estejam alerta para qualquer alteração na área, como atividades de garimpo etc. Elas terão benefícios como Bolsa Floresta e apoio em educação e saúde.
Quais atividades vão fazer?
Nós imaginamos atividades de cunho mais artesanal e parcerias com empresas de cosméticos. Mas não há nenhuma atividade madeireira nem de retirada de árvores em manejo. Não é esse o momento, o foco mesmo é a conservação.
Economicamente falando, isso vai ser sustentável? Dependerá de recursos de fora?
É… os habitantes da floresta não vão gerar recursos sustentáveis, nem é essa a nossa pretensão. Por isso, está sendo criado um fundo que deverá ter vários participantes. Neste momento, há recursos de R$ 40 milhões, sendo R$ 20 milhões do Bradesco e R$ 20 milhões do governo do estado do Amazonas. É um fundo cujo recurso não será utilizado, e sim o seu rendimento. Além disso, teremos contribuição de empresas parceiras que, preenchendo certos requisitos, podem usar a imagem da Fundação, selo verde, selo amigo do meio ambiente. Alguns produtos já estão sendo lançados no mercado, como o cartão de crédito Bradesco com a bandeira da Fundação. Uma parte da receita do cartão será receita corrente na Fundação. Onde se fala disso (da iniciativa da Fundação), há interessados. Estive recentemente nos EUA e na Espanha, e chove gente querendo ajudar.
Que tipo de gente, do setor privado?
Pessoas físicas, empresários. Fui convidado para falar em um encontro mundial do Google em maio, em Londres. Que é um bom parceiro, pois tem o Google Earth. Há famílias se perguntando como podem compensar a emissão de carbono, por exemplo.
A sede da Fundação será onde?
Em Manaus. E teremos uma sucursal em São Paulo.
O seu tempo será todo dedicado a ela?
Claro que não. Imagino que será equivalente a uma semana por mês. No restante do tempo, tenho atividades privadas na área de energia renovável, de pequenas centrais hidrelétricas – as empresas Tupã Energia Elétrica e Hidropower –, e faço parte do conselho de algumas empresas no Brasil e no exterior.
Há relatos de que o apoio do Bradesco à Fundação teria se dado em troca da manutenção, pelo banco, do controle sobre a folha de pagamento do estado, herdada na compra do Banco do Estado do Amazonas, em 2002.
Não, isso não é verdade.
Na sua opinião, por que a Amazônia chama tanto a atenção, por que tem tanta gente interessada em ajudar?
Porque é um tesouro. Um tesouro bem guardado.
Bem guardado?
Bem guardado. Os outros liquidaram seus tesouros. Ou estão liquidando fortemente ou deixando que liquidem. E há certos bens que recebemos historicamente como se fossem dados de presente – água, por exemplo –, pelos quais quase não se paga ou nada se paga para ter, que vão ficar cada vez mais raros. A China e a Índia já começaram a ter problemas ambientais muito fortes, então o Brasil é um país abençoado, com o uso de energia renovável. Eu reconheço que existe uma ameaça com o desmatamento, mas as previsões só são catastróficas se não houver nenhuma iniciativa para mudar esse traçado. A iniciativa da Fundação é uma das que mudam o destino. Em 20 anos, aquela área vai estar conservada. Se houver outras iniciativas semelhantes, relacionadas a regras de ocupação, como o uso de ferrovias em vez de rodovias, por exemplo, o controle será mais fácil. É uma preocupação que a ministra Marina tem. O trem é mais barato, menos poluente, a relação entre emissão de carbono e tonelagem transportada é muito melhor. E o Brasil teve um modelo de desenvolvimento rodoviário.
E as rodovias são sempre indutoras de uma ocupação…
Descontrolada.
Na sua opinião, por que se fala tanto de Amazônia enquanto os outros biomas são pouco comentados? O Cerrado, por exemplo, é sempre visto como um campo a ser cultivado com soja e nunca reconhecido por sua diversidade. E a Caatinga, os Pampas, o Pantanal?
Não, o Pantanal desperta atenção. A Mata Atlântica é outro que teve um movimento bem elaborado, profissional, sério. O Cerrado eu conheci nos anos 70 e era uma área que não valia nada. Para comprar um hectare de Cerrado bastavam apenas algumas moedas.
O governo incentivava a sua ocupação, não é?
Não. Foi feito um trabalho em parceria com o governo japonês, o chamado Prodecer (Programa de Cooperação Nipo-brasileira para o Desenvolvimento do Cerrado), que analisou cientificamente como transformar aquela que era uma região praticamente abandonada. Já existiam queimadas. No período de seca, tocavam fogo naquilo tudo para fazer brotar de novo com as chuvas. Então, não é que não havia processos agressivos ao meio ambiente. Quando fui para Mato Grosso pela primeira vez, em 1975, já ocorria o fechamento do aeroporto de Cuiabá por bruma seca. E não era nova fronteira agrícola, tava ainda bem paradão. Acho que essas questões são de sensibilização…
Uma questão é que o Cerrado é berço das águas do País.
Não necessariamente. O pedaço de Mato Grosso e do Pantanal faz parte da Bacia do Prata. Então não dá para confundir as coisas. Não sei quais fatores influenciam (para que a Amazônia tenha mais atenção). Diria que até a Disney influencia certa percepção, você vai lá, tem rain forest, bichinhos, bananeiras. Criou-se uma imagem da Amazônia. Quando você fala em rain forest, não precisa explicar. Quando fala em Pantanal, precisa explicar.
Imagina falar em Cerrado, então? Imagina-se o quê? Savana?
Aí se imagina savana, imagens da África, campos em que o cara vai de Land Rover. Qualquer arvorezinha daquela o jipe derruba, se precisar. As árvores de Brasília, veja a vegetação original, o parque na cidade, aquilo lá são umas arvorezinhas tortas. Não se dá um tostão por aquele negócio. Já aquelas árvores bonitas, floridas que tem em Brasília, foram todas plantadas – mangueira, ipê (leia sobre a riqueza biológica do Cerrado em reportagem à página 24. Lembrando que o ipê é árvore nativa do bioma).
Mas a biodiversidade do Cerrado é enorme.
É, mas tem muito Cerrado ainda disponível. Ele começa antes de Ribeirão Preto, em São Simão, Santa Rosa de Viterbo, mas agora a cana também está avançando lá.
Ia justamente perguntar sobre os biocombustíveis, pois no Cerrado…
No Amazonas não há essa ameaça.
Mas no Cerrado, sim?
No Cerrado, sim. Porque lá tem um clima que favorece. Hoje há variedades que são perfeitamente adaptadas ao Cerrado. A cana, que hoje é o principal biocombustível, precisa ter formação de açúcar, de sacarose. Em uma área úmida demais (como a amazônica), ela viceja, mas, na hora que vai moer aquilo, não tem açúcar. Afora isso, na Amazônia não tem logística, não tem consumo, não tem densidade populacional, não tem clima. Graças a Deus, não tem viabilidade econômica. E hoje já há variedades de cana adaptadas a climas temperados, então a produção deve avançar no Paraná, no Sul. Já está avançando.
Então um lugar só fica preservado se não for viável economicamente?
Não, não, não. Ele pode ser preservado se for uma reserva ecológica, por um projeto que cuida…
Mas esse lugar não pode ser preservado em função do que produz?
Pode, pode. Inclusive, tem livros que falam sobre a preservação da Amazônia por manejo sustentável. Veja o quanto cresceu a área de madeira certificada.
O programa de concessões florestais vai nessa linha.
De madeira certificada. Mas esse não é o objetivo do nosso projeto (a Fundação). O mercado, hoje, paga prêmio por madeira certificada.
Como o senhor vê o desempenho das empresas brasileiras em termos de responsabilidade socioambiental?
É crescente. Cada vez mais. Acho que começou um movimento, anos atrás, de educação sobre as questões ambientais e essas crianças hoje se tornaram adultas, entraram no mercado de trabalho. A geração mais jovem tem uma conscientização muito maior que a de seus pais e avós. Acredito que, nos próximos anos, vamos ver mais e mais consumidores valorizando as empresas que tenham em seus ideais a conservação ambiental. Inclusive, já existem empresas que são cotadas em Bolsa e fazem parte de um fundo, eu acho, do Banco Real.
O Banco Real tem o Fundo Ethical. E existe o Índice Bovespa de Sustentabilidade Empresarial.
Isso só vai crescer. E, para mim, esse é um desafio de terceira idade. De verdade. Depois de ter trabalhado dos 16 aos 55 anos na iniciativa privada e dos 55 aos 60 no governo, hoje posso até tomar vacina de graça. Agora estou no meu terceiro projeto, que traz uma satisfação pessoal muito grande, que é trabalhar com projetos que não visam retorno monetário. Apenas levar adiante um sonho que é o sonho de muitos. A maioria das pessoas sonha com isso e não sabe como fazer.
Mas isso é um projeto que pode ser tocado quando se é mais novo também, não é? Quando se está no governo, por exemplo?
Sim. No fundo, eu imagino que o Brasil venha a ser um exemplo de conservação. A agricultura brasileira, por exemplo, não precisa da Amazônia.
E essa agricultura também pode ser feita de maneira pouco agressiva nos outros biomas?
Essa agressividade já diminuiu muito porque os agricultores começaram a entender que depauperar o ambiente traz um efeito bumerangue. Nos primeiros anos colhem um benefício extraordinário, mas depois… Então, preservar matas ciliares, cuidar da erosão, usar equipamentos mais sofisticados com menos desperdício, usar plantio direto, que é uma tecnologia muito difundida no Brasil. Aqui se colhem duas safras de verão, as pessoas ficam maravilhadas. Que outro país do mundo faz isso? Estamos no auge da colheita da safra no Centro-Oeste. Não colhemos mais porque não choveu. Temos de reconhecer também a evolução tecnológica dos institutos de pesquisa, a inovação, como da Embrapa.
E quanto à inovação para a sustentabilidade, ela existe efetivamente no Brasil, em áreas de produção que não são apenas as de commodities?
A sua pergunta é muito ampla para ser respondida. Mas valeria a pena olhar. Ver se existem empresas que podem ser imitadas. Elas divulgam essas informações nos seus balanços socioambientais.