Apesar da relevância da informação e dos meios de comunicação, é apenas com a educação que a sociedade pode superar a crise da modernidade e promover um novo tipo de desenvolvimento
O avanço para uma sociedade sustentável é permeado de obstáculos que refletem a restrita consciência a respeito das implicações do modelo de desenvolvimento em curso. Vive-se, no início deste século XXI, uma emergência mais do que ecológica, uma crise do estilo de pensamento, dos imaginários sociais, dos pressupostos epistemológicos e do conhecimento que sustentaram a modernidade desde fins do século XVIII e da emergência do capitalismo como modo de produção dominante na Europa. Essa crise do ser no mundo manifesta-se em sua plenitude: nos espaços internos do sujeito, expressa em condutas sociais autodestrutivas, e nos espaços externos, exposta na degradação da natureza e da qualidade de vida das pessoas.
As causas podem ser atribuídas às instituições sociais, aos sistemas de informação e de comunicação e aos valores adotados pela sociedade. Embora a informação e os meios nos quais ela circula assumam papel cada vez mais relevante, é a educação para a cidadania que representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar a participação na defesa da qualidade de vida. É apenas através dela que se pode perseguir o objetivo de coresponsabilizar os indivíduos na promoção de um novo tipo de desenvolvimento – o sustentável.
Reflexo de si mesma
Em particular, a crise ambiental pode ter seus impactos potencializados, ou diminuídos, dependendo de como a sociedade opta por enfrentar os limites do desenvolvimento e redefinir padrões de responsabilidade, segurança, controle, limitação e distribuição das conseqüências dos danos, levando em conta as ameaças. A crise ambiental tem a incerteza em sua essência. A multiplicação dos riscos, especialmente os ambientais e tecnológicos, é chave para entender as características, os limites e as transformações da nossa modernidade. Os riscos contemporâneos explicitam as conseqüências das práticas sociais, trazendo consigo um novo elemento: a “reflexividade”. Produtora de riscos, a sociedade torna-se um tema e um problema para si própria. Ao mesmo tempo que gera perigos, reconhece os riscos e reage a eles. A sociedade global “reflexiva” que se vê obrigada a confrontar-se com o que criou, seja positivo, seja negativo.
A nova realidade globalizada gera crescente incerteza, mutabilidade e reflexividade. O progresso pode se transformar em autodestruição, em que um tipo de modernização destrói o outro ou o modifica.
Uma nova leitura
O caminho para uma sociedade sustentável fortalece-se na medida em que se desenvolvam práticas que, pautadas pelo paradigma da complexidade, levem para dentro da escola e dos ambientes pedagógicos uma atitude também reflexiva em torno da problemática ambiental. Ela exige o envolvimento de atores em todas as esferas do universo educativo, assim como o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento, da capacitação de profissionais e da comunidade universitária em uma perspectiva interdisciplinar.
Ao contrário da mídia entretenedora, o educador tem a função de mediar a construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social fundada no conceito da natureza. Para isso, é preciso desenvolver propostas pedagógicas centradas na mudança de comportamento e atitudes e no desenvolvimento de competências, assim como da capacidade de avaliação e participação dos educandos.
Ao mesmo tempo, a rápida convergência entre as “novas tecnologias” de comunicação altera significativamente a produção e a distribuição da informação e promove novas formas de interação entre os indivíduos: nas comunidades virtuais e fóruns de discussão, a interatividade e os procedimentos intuitivos e associativos no manuseio das informações redefinem o público e as formas de leitura.
Assim, a mediação adequada entre meio ambiente, educação e sustentabilidade implica destacar a diversidade cultural, a participação, o envolvimento subjetivo e a cidadania. A prática pedagógica será mais abrangente se considerar as diversas representações sociais, abrindo espaço para objetivos e ações específicas em prol de mudanças e direitos que resultem em qualidade de vida.
Busca-se aproximar o professor dos estudantes e suas realidades, possibilitando desafios a ambos em relação ao aprendizado contínuo. Nesse contexto, o meio ambiente torna-se eixo fundamental para repensar a sociedade, mobilizar os alunos a trazer questões do cotidiano para a sala de aula e propor ações dentro da ótica da sustentabilidade.
O desafio é imenso, principalmente em um país como o Brasil, onde as desigualdades sociais e educacionais são ainda muito significativas. Mas as práticas de educação ambiental podem representar outro aprender, um novo olhar e, principalmente, uma nova forma de perceber as inter-relações entre os seres humanos.
*Professor titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo