Às vésperas da reunião de Copenhague sobre mudanças climáticas, o mundo está na captura de um acordo que permita controlar as emissões de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, aumentar o padrão de vida nas nações em desenvolvimento e manter a prosperidade nos países ricos. Diante da dificuldade de descarbonizar as economias desenvolvidas, muita gente aposta na captura-e-sequestro de carbono. É o caso da Austrália, que além de maior exportador de carvão – o mais sujo dos combustíveis fósseis –, recentemente tornou-se o maior emissor de CO2 per capita do mundo.
A tecnologia de Carbon Capture and Storage (CCS) é vital para a Austrália, que se dispõe a cortar emissões em 25% (sobre os níveis de 2000) caso haja acordo em Copenhague para limitar a concentração de CO2 na atmosfera em 450 partes por milhão até 2020 – caso contrário, o corte seria de 5%. Em abril, o governo australiano lançou o Global CCS Institute, dedicado a “acelerar a implementação em escala do CCS”, com orçamento anual de A$ 100 milhões (quase R$ 155 milhões).
Em seu website, o instituto reconhece que as fontes alternativas de energia devem exercer papel central nos próximos anos, mas aponta para o fato de que 100 usinas movidas a combustíveis fósseis são construídas ao redor do mundo todos os anos. “O CCS não pode ser ignorado se quisermos estabilizar os níveis de CO2 e minimizar o impacto da mudança climática”, diz o website.
A ideia é capturar o CO2 antes ou depois da queima do combustível – em usinas de energia, assim como em unidades industriais – e estocá-lo em estruturas geológicas quilômetros abaixo da superfície. Embora os defensores da tecnologia garantam que a possibilidade de vazamento seja mínima – desde o local de armazenamento seja adequadamente escolhido –, há pouco conhecimento prático. O Global CCS Institute lista quatro projetos comerciais em operação no mundo e três projetos-piloto.
Mais um projeto será adicionado à lista em breve. O Gorgon, que vai extrair gás natural da costa noroeste de Western Australia, promete injetarmais de 3,4 milhões de toneladas de CO2 por ano no subsolo – a 2 quilômetros de profundidade –, ou 120 milhões de toneladas no total.
Em um relatório de 2005, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontou o CCS como uma das alternativas para a mitigação das emissões e estimou que ele pode contribuir com 15% a 55% do esforço total até 2100. A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas analisa a inclusão de projetos de CCS no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Os críticos da solução de captura-e-sequestro apontam não só o risco de vazamento, mas a alta demanda de energia (o método pode absorver até 40% da energia produzida, dependendo do tipo de usina em questão) e para os custos de desenvolver a tecnologia – recursos que poderiam ser direcionados para fontes renováveis de energia.
No caso da Austrália, o CCS é a cereja do bolo de uma estratégia que tem o gás natural como intermediário na transição de uma matriz suja pelo carvão – responsável por 85% da energia consumida no país – para o admirável mundo das energias renováveis. Estima-se que, a despeito do grande potencial para energia solar, eólica, geotérmica e das marés, a Austrália obtenha menos de 5% de sua energia de fontes renováveis. O Parlamento acaba de aprovar meta de 20% até 2020, mas a competição com os combustíveis fósseis é desigual – ainda mais com a promessa do CCS de carvão e gás natural “limpos”. No Brasil, país de matriz majoritariamente limpa, a Petrobras pesquisa a captura-e-sequestro de carbono e inicia testes que podem servir para a exploração do pré-sal.
Qual a sua opinião, a captura-e-sequestro pode ajudar o mundo na transição para a economia descarbonizada ou é um paliativo que carrega riscos excessivos?