Esta imagem faz parte de uma série sobre a poluição na China feita pelo fotógrafo Lu Guang e recentemente premiada pelo W. Eugene Smith Memorial Fund. Lu retrata dezenas de cidades com altíssima incidência de câncer e malformações congênitas, rios entupidos de lixo e evidências de contaminação industrial. As imagens são fortíssimas mas merecem uma visita.
O que o fotógrafo não mostra é a forma como o governo chinês costuma reagir a este tipo de desastre. A China nunca se fez de rogada. Quando o governo considera que um problema ambiental ou uma obra de infraestrutura exigem a transferência de centenas de milhares de pessoas, não se acanha. Transfere mesmo.
Foi assim com a migração forçada de 160 mil nativos do sul da Mongólia, região pertencente à China, que tiveram de deixar suas terras no começo da década e mudar-se para zonas urbanas ou agrícolas densamente povoadas porque a China, que domina a área, decidiu “dar um descanso às pastagens e recuperar os ecossistemas”, segundo depoimentos prestados à ONU.
Foi assim com o gigantesco projeto da Hidrelétrica de Três Gargantas , que desalojou 1,3 milhão de pessoas, para permitir uma capacidade de geração total de 22.500 MW.
Agora é a vez do projeto de transposição de águas do rio Yang-tsé, no sul do país. O governo está investindo US$ 62 bilhões na construção de um canal para levar água para abastecer Beijing, cidade que pena devido à superpopulação e crescente desertificação. Para poder tocar a obra, ele iniciou, no mês passado, a transferência de mais de 330 mil pessoas. Segundo a agência de notícias Xinhua, as famílias receberam novas casas e terras agricultáveis em comunidades recém-construídas e um auxílio anual de cerca de US$ 88. Mas, segundo a mesma fonte, a movimentação tem gerado protestos pois muitos agricultores estariam recebendo extensões de terra muito inferiores às de que dispunham e porque, além de causar grandes impactos ambientais, o projeto não bastará para resolver os problemas de falta d’água do norte da China.
Num outro episódio na mesma região do sul da China, o governo se prepara para transferir cerca de 15 mil pessoas da cidade de Jiyuan, maior centro chinês de fundição de chumbo. Isso porque mil crianças – cerca de um terço do universo testado – apresentam alta concentração do metal no sangue. Este tipo de contaminação pode comprometer o seu crescimento e desenvolvimento intelectual. Segundo a prefeitura, o deslocamento deverá custar 1 bilhão de yuans, algo na faixa de US$ 146 mil. A cidade e as fundições vão arcar com 70% dos custos. O resto ficará por conta da população. Devido ao episódio, 32 das 35 fundições que operam em Jiyuan estão com as suas atividades paralisadas.
O desenraizamento, a perda cultural e o comprometimento da capacidade de sustento são riscos bastante altos em casos de transferências de populações como esses. É um castigo que vem se somar aos retratados pelas fotos de Lu Guang.