Quanto vale, em termos monetários, uma das regiões oceânicas mais prístinas do mundo? A pergunta vem à tona depois de um vazamento de petróleo que durou dez semanas no Mar do Timor, a 250 quilômetros da costa noroeste da Austrália, e provocou muita polêmica entre indústria, governo e ambientalistas. O número equivaleria a quanto os australianos estariam dispostos a pagar para evitar desastre semelhante no futuro.
No caso de um dos piores desastres ambientais jamais ocorridos no mar, o do derramamento de petróleo do navio Exxon-Valdez no Alasca em 1989, economistas estimaram perdas entre US$ 4,9 bilhões e US$ 7,2 bilhões. O cálculo reflete o valor de existência do Prince William Sound – mar interior no Golfo do Alasca afetado pelo derramamento – e de danos na quantidade e na qualidade dos bens públicos que produz. A Exxon provavelmente gastou menos do que a menor estimativa em descontaminação da área e indenizações aos governos local e federal – embora a conta deva subir consideravelmente com os custos judiciais para reduzir as indenizações. Os efeitos ambientais do derramamento de quase 11 milhões de barris de petróleo, entretanto, ainda são sentidos 20 anos depois.
O vazamento da plataforma West Atlas, no Mar do Timor, provavelmente ficará bem abaixo em volume do que o do Exxon-Valdez. A operadora da plataforma, a tailandesa PTTEP Australasia, estima que de 300 a 400 barris de óleo vazaram por dia desde 21 de agosto. Ambientalistas questionaram a informação e até o governo australiano aventou que o número poderia chegar a 2 mil barris por dia. Até agora, não se sabe ao certo quanto óleo vazou ou o que causou o acidente.
De início, o ministro de Recursos e Energia da Austrália, Martin Ferguson, minimizou os potenciais impactos, dizendo que o óleo evaporaria naturalmente. O ministro do Meio Ambiente, Peter Garrett, manteve-se praticamente afastado da polêmica, enquanto ambientalistas circularam petições pedindo ao governo que aumente as áreas de proteção marítimas na região, considerada um corredor migratório para várias espécies, inclusive baleias.
No fim de outubro, após visitar o local, o WWF divulgou relatório informando que golfinhos, pássaros marinhos migratórios, serpentes e tartarugas marinhas, inclusive a endêmica flatback, estavam expostos a substâncias tóxicas – petróleo e químicos usados para dispersá-lo.
O relatório do WWF e reclamações de pescadores indonésios de que óleo teria chegado até suas águas, e estaria afetando o pescado, reavivaram momentaneamente o interesse da mídia. Mas, no geral, a cobertura ao longo de dez semanas foi morna – a despeito de uma pesquisa nacional em que 79% dos entrevistados disseram-se preocupados com os impactos ambientais de longo prazo na região.
O vazamento foi estancado na terça-feira, 3 de novembro, depois que um incêndio tomou a plataforma no domingo, quando a PTTEP fazia a quarta tentativa de interromper o fluxo de óleo para o mar ao injetar lama pesada. Com o vazamento controlado, o ministro Ferguson anunciou a criação de uma comissão para investigar as causas do acidente e as formas como foi administrado. A previsão é que os resultados saiam em abril.
A PTTEP admitiu prejuízo de pelo menos US$ 170 milhões com esforços para estancar o vazamento, e a proprietária da plataforma arcará com a perda total do equipamento, mas a conta recairá para as seguradoras. Para as diversas espécies que habitam o Mar do Timor, assim como os pescadores que dependem da qualidade da água da região, não há seguro. O exercício de calcular o valor de manter a região intocada – algo quase impensável diante das reservas de gás e petróleo que descansam sob o oceano – com certeza produzirá um número, mas fica a questão: quem se dispõe a pagar?